Seen It All: 17 - Fire and The Thud




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Julie -
Okay, é claro que posso confirmar que está comigo. Provavelmente tem a ver com aquela pessoa, certo? 19:41 pm
Eu realmente adoraria que me respondesse. 21:17 pm
Me traga shampoozinhos do hotel. (Ou motel?) Hehe ;p 21:19 pm
Acordei e nada seu, me mande um alô assim que puder. 08:53 am
Luisa Carter, eu realmente espero que a noite tenha sido maravilhosa para que essa ausência seja justificada.11:12 am
No mínimo três orais muito bem feitos, café da manhã na cama e champagne à vontade. 11:13 pm
Sofi me ligou. Nós duas tivemos uma noite agitada, regada à pipoca e episódios de Downton Abbey. Almoçamos juntas. Você está pegando candids para uma reportagem no estúdio no centro da cidade, enquanto eu resolvo questões com Phillip. Vamos nos encontrar no café daqui a quarenta minutos. 14:27 pm
Por favor apareça, não vou conseguir segurar até às seis Lou. 16:10 pm

God damn Alex, acelera. Você tem vinte minutos pra me deixar no Loft.

***

– Não acho que possa chamá-lo de namorado. – A palavra arranhou minha espinha por um tempo mais longo do que eu pensei que fosse possível. A ideia não soa bem, nem se encaixa no contexto. – Acho que, não se encaixa no contexto.
O Loft estava enchendo aos poucos, quase seis da tarde. Fui deixada a algumas quadras do estabelecimento, algo que Alex contestou um pouco, mas fez como pedi.

“Te vejo daqui há alguns dias?”
“Tão cedo? Estou acostumada a ficar sozinha.” Mais do que gostaria, assumi mentalmente.
“É que eu tenho pressa Luisa. Ainda não terminei de me apaixonar por você.”

– Então vocês são do tipo, amigos coloridos, com benefícios, algo assim?
– Nem perto disso. – Com toda certeza, não era uma amizade colorida.
Estávamos nessa conversa há quase dez minutos, e eu ainda não conseguira explicar o tipo de relação que tinha com Alex Turner. Talvez porque não houvesse relação nenhuma, pelo menos, que conseguisse ser rotulada. Não tínhamos compromissos com outras pessoas, mas ele ainda tinha um compromisso com toda a sua carreira e imagem pública, e eu com meus estudos.
Éramos livres para ficarmos um com o outro, mas não necessariamente enxergava Alex trazendo flores para mim no dia de São Valentim, ou jantando comigo e Sofi. Não agora.
Não tão cedo.
Era tudo maravilhoso e estava difícil pensar com clareza quando um flashback ao som de Beach Boys se fazia em minha cabeça, entre cenas da primeira vez que nos vimos e de seu rosto incrédulo de prazer noite passada.
– Mas o que diabos vocês são então? Não vejo você indo pra cama com qualquer um Luisa, não mesmo.
– Nós somos só... Nós, Julie... – Tomei mais um gole do chocolate quente. Estava frio, e garoava levemente, transformando o fim de sábado em um dia triste e apático pra quem não passou a noite entre gemidos. – Mas não acho que estamos no tempo certo, na hora certa, entende?
Ela olha para mim, com o olhar cálido de alguém que não entende uma sílaba do que sai da sua boca, mas ainda assim, quer fazer parecer que compreende, e que as coisas vão se ajeitar.
– Eu só espero que saiba o que está fazendo. Não quero arriscar te proteger para saber que alguma coisa ruim aconteceu, e depois-
– Oh, não, Julie por favor. O que fez por mim foi ótimo, eu nem sei como te agradecer. Mas posso garantir que fique tranquila. Alex não é uma peça estabelecida no meu mundo, mas a maior parte do que ele me faz é bem.
Ela sorri tristonha.
– Seu mundo é extremamente complicado para você mesma Lou. Só... Tente não se perder nele.

***

Chegar em casa com um álibi tão perfeito quanto os que a cabecinha de Julie conseguia criar era extremamente tranquilo e ao mesmo tempo pesado de carregar. Sofi não perguntou muito sobre a noite, apenas sobre os filmes que assistimos. Me recebeu com um abraço tão quentinho que ficou difícil demais não subir as escadas com um peso nas costas.
Porque você não conta de uma vez?
É que eu não sabia bem como começar a conversa... Sofi com certeza tinha a mente aberta, e claro, veria eu e Alex como algo diferente, mas apoiaria. No fundo, as dúvidas que tinha sobre meu comportamento nas últimas semanas se saciariam, com toda certeza.
O problema é que não queria deixa-la preocupada. Enquanto o que eu e Alex temos for um mistério, seria problemático que ela soubesse.
Imagino que ela iria insistir pra conhece-lo, e não acho que confiaria minha felicidade nele, se um dia o visse.
Alex possui essa aura clara com manchas densas, que são agradáveis aos olhos à princípio. É atraente depois de poucos minutos, irresistível após algumas horas em sua presença. Mas sua profundidade intimida qualquer um que seja permitido à seu lado depois de certo tempo.
Ainda me intimida.
Como convencer alguém de que você vai ficar bem, se onde você quer estar é completamente imersa em pleno mar agitado?

***

Quatro pôr de sois mais tarde, e Alex me ligara na manhã de quinta-feira. Estava deitada com Pingo, e ele brincava com meu cabelo, quando o telefone vibrou na escrivaninha.
Sempre me telefonava cedo, entre aquele momento do despertar e do acordar de fato, quando a mente fica suscetível à devaneios.

Pardon me, milady. É sempre irresistível demais ouvir sua voz bêbada de sono.”

Amanhã à noite ele me buscaria para ficarmos no apartamento em Sheffield mais uma vez, mas antes haveria uma social com o restante da banda e dessa vez, todos em pares e mais alguns amigos.

“Alex, quando disse que ainda não tinha terminado de se apaixonar por mim...”
“ Sim?”
“Bem... Se um dia terminar, me avise. É que finais são sinais ruins, e eu preciso estar preparada, entende?”
Ele ri abafado no telefone.
“Se eu acreditasse por um minuto que esse dia chegaria, nunca teria ido até você Lou.”
E pronto. Eu já era mais um pouco dele. Um sorriso enorme se abriu em meu rosto, sem previsão de final.
“Você me chamou de Lou!”

***

Fiz um sanduíche de peito de peru, e depois passei um tempo no quarto. Liguei o som, bem baixo, na estação de rádio local, e deixei o ambiente se encher de música erudita da orquestra local de Barsnley. Era a faixa de gala das nove.
Depois do lanche vesti um short jeans, uma regata e uma jaqueta de couro meio antiga. Calcei as botas. Penteei o cabelo, e passei uma cor nos lábios.
Sofi bateu na porta entreaberta, e entrou, me retirando dos movimentos automáticos e ansiosos. Ajeitei a roupa e sorri.

– Como estou tia?
– Impecável! Vai aproveitar a noite?
– Vou sim, sair com uns amigos de Sheffield que fiz há um tempo... – Sua careta de confusão tomou forma, e me apressei em clarear a situação. - Ben os conhece também.
– É mesmo? Ora, que ótimo! Bom, Sheffield é uma cidade muito boa. De gente boa. Você volta ainda hoje, espero.
– Sim, claro. Fique tranquila, será casual, uma pequena reunião.
– Tudo bem. Vou ficar na casa de Miss Eleanor hoje, e depois do chá vamos assistir a um filme. Pensei em chamar você, mas fico feliz que tenha coisa melhor para fazer! – Disse engraçada, sempre amenizando as coisas. A maneira confiante com que sempre me tratava ficava alarmante em situações como essa, onde eu sabia que deveria mentir.
Depois de passar a semana meditando sobre o assunto, a ligação de Alex na manhã anterior me fez desarmar.

– Tia, é... Sobre isso que eu queria falar.
Ela soltou a maçaneta e se aproximou, no rosto a feição alegre tomava um tom menos caloroso, mas ainda assim compreensivo.
– O que quiser querida.
– Bom, um desses meus amigos... É, ele... Bom, nós...
– Luisa, respire. Está tudo bem meu anjo.
– Sim, claro, eu sei! Bom, então, é que eu e um desses meus amigos já nos conhecemos há um tempo... E acho que nós gostamos um do outro.
–Mas isso é ótimo!
– Acha mesmo? Porque não é que estejamos namorando. E eu não sei se vamos, por isso não sei quando irá conhece-lo, e-
Soltou uma risada tranquila, e me abraçou carinhosamente.
– Lou, eu fico feliz que esteja com alguém. É uma jovem bonita, inteligente. Qualquer relacionamento que mantenha sempre terá sorte por ter você.

Me soltou e mexendo em meu cabelo continuou.
– No começo pensava que você e Benjamin poderiam ter alguma coisa, acredite. Mas depois percebi o quão amigos se tornaram, da maneira de vocês. Mesmo assim, fico feliz por confiar em mim e me contar isso. Confesso que te sentia angustiada e ansiosa desde a exposição do seu ensaio, há semanas...
Ri, nervosa, tentando disfarçar a lembrança das memórias daquele dia.
– Sofi, é que eu...
– Não precisa se explicar. O importante é que o motivo não era assim tão ruim, contanto que seja um bom jovem, e que te faça feliz.
Ainda meio muda pela reação positiva de Sofi, apenas sorri e a abracei novamente.
– Obrigada tia. Fui uma tola de não ter te contado o quanto antes... Obrigada mesmo.
Depois de um longo suspiro, e mais risadas reconfortantes, nos separamos e ela caminhou em direção a porta.
– Apenas se cuide Luisa. Eu sei que não preciso te explicar sobre as coisas da vida... Mas não quero você prejudicada, muito menos triste por algo. Vá com calma, e aproveite. Aproveite muito essa nova fase da sua vida.

***

– Como assim, você vai fazer dezoito anos e não nos avisou! – A voz cantarolada ecoou o lugar, sobressaindo a música do ambiente por alguns segundos, mas sendo reconhecida por todos passou despercebida. Era só Breana e sua animação usual.
– Não acho que seja algo realmente...
– É claro que é Lou! É sua entrada na vida adulta, da maneira devida, de acordo com os numerais. Devemos fazer algo para comemorar!
Sorri, tentando quebrar a atenção que caía sobre mim sem a menor delonga. A roda de conversa que antes tinha apenas Breana, eu e Katie ganhava pares de olhos pela sala.

Acabou que surgiram bem mais pessoas do que eu imaginei. Haviam ali cerca de vinte, espalhadas em sofás e cantos do apartamento espaçoso que pertencia à Alex, e que eu conhecia muito bem agora. Com taças cheias, atravessaram as horas entre vozes embargadas, e eu me sentia curiosamente bem junto a esses estranhos, que não me perceberam muito. Os únicos atentos à minha presença eram claro, os irmãos de Alex e suas famílias. E por mais curioso que soasse, ou mesmo clichê, eu ainda sentia que não tinha ganhado a aceitação de todos. Não acho que Alex seja sensível o suficiente para levar ao pé da letra a opinião deles sobre mim, mas acredito que estava torcendo pra que eu fosse adicionada ao grupo em pouco tempo.
Breana chamando a atenção pra clara diferença de idade entre nós dois não ajudava muito, apesar de eu ter certeza de que não era por mal.

– Eu prometo que pensarei com carinho. Obrigada pela gentileza Bree. – Sorri para às duas, e tomei um gole do drink que Katie preparara para mim, com apenas uma dose de vodka e muitos morangos. Era suportável e interessante, mas não acho que pediria repeteco.
Pedi licença para ir ao banheiro quando notei que eu já não era tão observada, e me desviei pelo corredor da direita. A porta estava fechada. Decidi esperar a pessoa desocupar o lugar, enquanto relaxava e pensava que aos poucos as coisas iriam se ajeitar. Mesmo que eu e Alex não deixássemos claro o que estávamos construindo. Mesmo que tivéssemos praticamente dez anos entre nossos nascimentos. Mesmo que eu fosse diferente das mulheres estupendas e de vozes angelicais que enchiam a sala em seus Louboutins de sola vermelha e bolsas Chanel.
“Não seja preconceituosa. São pessoas boas Luisa.”
E eram mesmo. Mas eu era uma outlander ali, e isso era um fato irritante, como uma coceira na região das costas em que você não consegue alcançar.
A porta do banheiro se abriu e dele saiu Nicholas O’Malley, o baixista soturno e charmoso do Arctic Monkeys.

– Ah, oi! – Me apressei em cumprimenta-lo para quebrar os segundos de surpresa.
– Oi Luisa. Desculpe se te deixei apertada. – Ele sorriu de lado. Os olhos nublados de sempre, não refletiam o ato.
– Eu acabei de chegar, não se preocupe.
Sorrimos e eu fiz sinal de entrar no banheiro, mas ele permaneceu ali.
– Está gostando da reunião? Espero que não tenha se assustado com os tipos com que andamos.
– Estou gostando sim! É curioso, mas fico feliz por estarem sendo receptivos.
– Temos a política da boa vizinha em Sheffield, acredite! – Rimos, e ele finalmente saiu da frente da porta. – Você é uma boa garota Lou. Boa sorte com tudo.

Virou-se colocando as mãos nos bolsos e me deixou sozinha na porta do banheiro, sem saber o que retirar daquele “boa sorte” nem de seu excesso de polidez depois de um primeiro encontro meio intimidador. Eu tinha a impressão que Nick era quem não pensava muito bem de mim, mas agora parecia que estava se esforçando para ser gentil.
É natural que ocorram esses contrastes, mas no fundo eu só esperava que as coisas realmente, de verdade, se acertassem. Da maneira que fosse.

Antes de voltar até a sala, busquei a polaroide na bolsa e discretamente fotografei detalhes da festa, como um anel sobre a mesa – o que todos os integrantes da banda usavam, que possuía Death Ramps gravado, que mais tarde através de Katie descobri ser o pseudônimo da banda – e algumas imagens de Alex conversando atentamente com seus queridos, enquanto ainda absorvia a mensagem de Nick que ria com Matt do outro lado da sala.





***

– Você não deveria ficar me abraçando assim, na frente de todo mundo. Eu estou fazendo um esforço desgraçado pra não te levar pra minha cama Luisa.
Ri em seu pescoço, deixando mais um beijo ali, dessa vez passando os dentes levemente sobre sua pele fina.
– Hoje não guitarrista. Você tem convidados, e inclusive, preciso ir embora daqui a pouco, avisei minha tia que chegaria de madrugada... Eu só queria matar a saudade da sua indecência.
Ow sure... Diz a menina que andou pelada por cada centímetro desse lugar.
– Shhhh, Alex! – Rimos, e nos beijamos sem pressa, por um tempo que não me lembraria. Era bom poder estar com ele cada vez mais, e mais ainda estar com ele na presença de outras pessoas e ser apenas sua Luisa, e ele o meu Alex.
– Eu vou buscar minha mochila, um momento tá bem?

Me soltei de seu aperto, e alguns obstáculo depois, peguei minha bolsa na poltrona do seu quarto. Alcancei o celular. Era quase meia noite, o que me fez agradecer mentalmente mais uma vez por Sheffield ser tão próxima de Barsnley. Sorri ao não ver nenhuma mensagem nem ligação. Era tranquilizador saber que não precisava mais mentir para Sofi – pelo menos parcialmente –, nem colocar Julie numa situação chata.
Deixei meu copo na cozinha e cochichei com Katie e Breana que estava de saída. Dessa vez a namorada de Nick, Kelly Boss, estava por lá. Seu rosto maduro era lindo, e acolhedor. Conversamos mais cedo sobre a banda, e ela cedeu lembranças ótimas de backstage. Ela e Nick estavam juntos há muito tempo, e planejavam levar as coisas pra outro patamar, mas não anunciariam nada tão cedo. Aconteceria aos poucos. Me deu um abraço singelo, e disse que adorou me conhecer, e eu retribuí o comentário. De certa forma, enxerguei em seus relatos um Nick mais adorável que quem sabe, viria a conhecer no futuro.
Deixei um beijo nos meninos, e saí de fininho, não querendo tirar a atenção dos que balbuciavam agora em uma língua estranha, que provavelmente vinha do álcool.

Ao me aproximar porém, da parede de tapumes fina que separava a sala de estar do hall de entrada, onde estava com Alex antes, ouvi algo que me chamou atenção.

– Eu não sei Alex... Você tem que tomar cuidado com ela.
Parei no mesmo segundo. Meu coração começou a bater mais forte, de repente querendo sair do peito.
– Mas o que você quer dizer com isso, bro? Você viu como ela é. Daqui a um tempo, quem sabe, você a conheça melhor e...
– É exatamente essa a questão Al, ela é uma pessoa ótima. Só não é tão madura. Ainda está começando a fase adulta... Tem coisas, no seu mundo... Que ela ainda não conhece.
– Eu sei disso. Eu vou cuidar disso.
– Você sabe o que dizem Alex... A girl is a gun... Não vai querer carregá-la a ponto de fazer com ela dispare. É uma menina.

Antes de ouvir mais alguma coisa, me impulsionei a caminhar.

– Alex, estou pronta! – Disse mais alto, antes de contornar a parede e encontra-los. A expressão de surpresa em seus olhares durou milésimos de segundo.
– Claro meu amor. Não quer se despedir?
– Já o fiz com algumas das pessoas, mas prefiro sair à francesa. Nick, foi ótimo ver você!
O enlacei em um abraço, tentando deixar a impressão de que não havia nada com o que se preocupar.
– Igualmente Lou. – Ele sorriu, e dando um rápido olhar à Alex, voltou-se para a festa.

Enquanto desaparecia pelo corredor. Um silêncio pegajoso encheu o cômodo onde nos encontrávamos por alguns segundos. Vi o casaco de Alex sobre a cômoda de madeira escura ao lado da porta, e o peguei. Fiz sinal para que ele o vestisse e enquanto o fazia, tirei a polaroide da bolsa e o fotografei de surpresa. Seus braços cruzados sobre o peito combinavam com a imagem que congelava um “Hey!” de surpresa.



– Você está toda lembranças. – Ele disse rindo, o riso que eu mais adorava: que vinha acompanhado de uma leve covinha de canto.
– É que você está especialmente agradável hoje, e sabe que gosto de guardar momentos como esse, assim como você gosta de tirar fotos minhas quando fazemos amor.

Alex riu finalmente sua voz grave, e murmurou um "você não existe". Se virou para mim, e colocou meu rosto entre suas mãos, me beijando em seguida. Diferente dos que me entregou a noite toda, esse era intenso, numa miscelânea de sentimentos embaraçados que não consegui definir, já que minha cabeça ainda mesclava toda a conversa de segundos antes. Quando precisamos de ar, me soltei do beijo. Ele me encarou durante algum tempo, e fez carinho em minhas maçãs. A mão fria por conta do clima do apartamento, anestesiava minha pele quente e enrubescida, ainda presa na vergonha de imaginar que Nick me achava um problema.

– Sabe, eu ainda não sei responder que eu sou Luisa. – Ele disse, com o olhar distante. – Mas eu sei que só quero vê-la bem.
O abracei sorrindo, me lembrando da sua fala na ligação da manhã anterior.
– Se eu acreditasse por um minuto que não quisesse me ver feliz, nunca teria ido até você Al.

***

Apesar de passar o caminho até minha casa distante, ele aparentava calma. Eu me esforcei para trazer a mesma sensação, mas sabia que o mesmo diálogo habitava nossas mentes agora. Decidi não conversar sobre o que ouvira, pois sabia que ele devia estar ponderando as coisas, e mesmo tendo a impressão de que não traria isso à tona, precisava deixar que seu julgamento ocorresse da forma correta.
Assim como eu precisei ter certeza de nós dois, era justo que ele deixasse a paixão de lado e tivesse certeza também. Quando achasse que fosse necessário, eu poderia intervir em sua decisão.
Não sei como responderia antes, mas hoje, agora, tendo consciência de sua mão sobre minha perna esquerda, do carro perfumado com o seu cheiro, da lembrança clara de estar em seus braços, eu sei que não deixaria que ele fosse por qualquer coisa. Mesmo o fato de pensarem que eu era ingênua, ou que não era madura o suficiente. Como se ignorassem a obviedade do mundo à sua volta, e como todos sabem o que ocorre por lá.
Eles dizem sexo, drogas e rock’n roll, mas os corações quebrados e as tragédias estão implícitos.
Voltei o rosto para a janela, me despedindo do céu noturno de Sheffield.
Alex sabe quem sou, e para mim isso bastava.

***

Point of View - Benjamin

– Ben, eu me esqueci de tirar o lixo essa tarde! Pode deixar lá fora querido?
Estava terminando de lavar os pratos da janta com vó Eleanor, enquanto ela acompanhava a maratona da série que mais gostava, Law & Order.
– Claro vó, sem problemas.

Mais tarde, depois de me despedir de Lizzie no chat e antes de dormir, agarrei o saco de lixo, e o levei em direção a varanda. Estava bem cheio, por isso precisei embrulhar mais uma sacola nele.
Quando abri a porta da sala, uma rajada de vento gelado me atingiu, e eu decidi voltar para buscar um agasalho. Havia saído de uma gripe há poucos dias, e preferi não arriscar.
Voltei à varanda e caminhei em direção a lata de lixo quando uma luz alta me chamou atenção. Havia um carro ligado, na frente da casa de Sofi.
Vi então Lou sair do modelo, um Volvo preto, mas antes que pudesse acenar, do outro lado do carro, Alex Turner descia e batia a porta. Em segundos ela estava sendo pressionada contra o carro, enquanto se beijavam avidamente.
Luisa e Alex Turner.
Luisa e Alex Turner juntos.

***

Por conta da madrugada fria, Alex não concordou em me deixar próximo de casa. Quando saí do carro agradeci por ter sido vencida, já que o vento arranhou minha pele, nervosamente. A ideia do short havia sido péssima. Em pouco tempo, porém, fui aquecida por seus beijos até que percebêssemos que a paciência havia se esgotado.
Por mais peso que nossos pensamentos carregassem, não havia questionamentos sobre o quanto queríamos estar perto um do outro, e rapidamente brasa virava fogueira. Com alguns miados e sussurros, enfim, conseguimos nos despedir.

Caminhei até a porta de casa, ouvindo o barulho do carro de Alex sumir pela esquina.
Enquanto procurava a chave na bolsa ouvi passos. Me virei instantaneamente na direção deles, e me assustei com a figura de Benjamin de chinelos e meias, embrulhado no seu moletom enorme do Los Angeles Lakers.
Os braços cruzados e o olhar sério me levaram mais uma vez para o dia em que bati contra a parede no porão branco, o que parecia ter sido eras atrás. Eu senti que vomitaria meu coração a qualquer minuto. Fora pega sem chance de uma retaliação decente.
“Burra, burra, burra!” era o que minha cabeça gritava pra mim durante os segundos que preencheram o silêncio pesado.

– Uma vez você me disse que eu seria o primeiro a saber Luisa. Me pergunto agora se naquele dia, você já sabia que isso não passava de uma mentira.

***

N/A: Manas s2 Não preciso reiterar a saudade que senti daqui. Serei breve e apenas direi que logo, mais um capítulo vai sair.
Façam-se presentes e se estão ansiosas para o desfecho desse fim de capítulo, ME CONTEM!
Amo vocês besourinhas sumidas.
Débs
PS: Não sei se revisei bem, mas a ameaça da Babs me fez postar de uma vez. Apontem errinhos, se encontrarem.


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Um comentário:

  1. Acho muito bom que minhas ameaças estejam sendo levadas a sério, humpf!

    O capítulo tá ótimo, estou louca pra saber o desfecho de tudo, principalmente esse climão entre Ben e Lou.

    Enfim, aguardo ansiosamente.

    Beijos, Babs.

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