(D)evil Twin 09: The Blond-O-Sonic Shimmer Trap.



— Alex? Alex! — disse Jules, chamando a minha atenção.

— O que foi?

Ele olha para mim e solta um riso cínico.

— Está brincando? Eu e Miles já trocamos inúmeros assuntos aqui e você apenas encarou o saleiro. Algo lhe pertuba?

Penso em Johanna. Já faziam dois dias desde o acontecido e parecia ter sido cinco minutos atrás. Jules não sabe do beijo, e por algum milagre Miles também não. Nenhum ser humano no mundo sabe, a não ser eu e ela.

A ação, a iniciativa tomada por ela havia me chocado tanto que eu não tinha parado nem para pensar em Arielle ainda. Ela continuava a me tratar normalmente e não parecia suspeitar, embora eu demonstrasse sinais que pudessem provocar desconfiança. Por quarenta e oito horas, foram poucas as que não estive de olhos arregalados e boca completamente imóvel. Deve existir um nome, não, vários nomes e descrições para esse tipo de reação. Eu não concordaria com nenhum deles. Este era, de fato, o meu único pós-temor. Do tipo em que o indivíduo tem um tipo bizarro de fetiche pelo próprio pesadelo.
Isso depois de descobrir quem realmente é o sinônimo de terror, no meu ponto de vista.

— Não. Nada. Só estive calado, ultimamente. É só.

Olho para baixo, tendo a visão do andar de baixo da livraria. Não consigo pregar o olhar por muito tempo; pensar na possibilidade da presença de Johanna por ali já me causava temor. Era vergonhoso.

— Você está é cansado. — disse Miles, dando tapinhas em meu ombro. — Com essa chegada de estoque e lançamento de romances adolescentes, você realmente trabalhou muito. Vá para casa. John não está por aqui para vigiar mesmo.

— Tem certeza? Ainda há uma pilha de livros para...

Miles me interrompe. — Eu dou conta do recado. E você precisa ensaiar, a Batalha das Bandas é no final de semana que vem.

Sorrio. — Te devo uma, Miles.

Penduro aquele avental que me fazia parecer ridículo no cabide ao lado da porta da loja e logo me vejo em uma rua cheia de NYC. Jamie tinha razão – era como nos filmes. Aquela imensidão de gente andando por todos os cantos, prédios altos e grandiosos, a estátua da Liberdade... Eu nunca visitei a estátua da Liberdade.

Bem, até então tenho o resto da minha vida idiota para fazer isso e não vai ser agora.

Sinto o celular vibrando na metade de um percurso para atravessar a rua e vejo que é Arielle. Minha barriga esfria num piscar de olhos, por mais que fosse comum Arielle ligar para mim o dia inteiro.

— He-ey, como vai a minha ruiva preferida? — essa foi, de longe, a pior voz que já fiz na minha vida.

— Onde está você?! Preciso de sua ajuda!

— Ei, relaxa. O que aconteceu?

— É a Johanna!

Fico quieto por alguns segundos, sentindo o celular deslizar de minha mão e quase cair. Arielle nunca comentava sobre a irmã quando estava comigo, a não ser que ela tenha aparecido cinco minutos antes. Naquele momento pude perceber que, para ser pelo telefone e o principal motivo daquele telefonema existir, era algo sério.


(...)

— Arielle? — digo, empurrando a porta destrancada de seu apartamento.

— Alexander! — berrou Jonah numa má pronúncia, aparecendo de surpresa à minha frente.

— Oh. Olá, amigo. Sabe onde está sua irmã?

Ele olha para cima, pensante. — Arielle... Banheiro!

Dou um tapinha em seu ombro e sorrio para o garoto. Em seguida, ando até o banheiro da casa, e a medida que me aproximo, as vozes de Johanna e Arielle ficam mais altas.

— Quando eu disse sobre uma mudança de visual, eu quis dizer luzes, um corte novo, não isso!

— Quando você vai parar de ser tão chata?! O cabelo é meu!

— Jesus Cristo, Johanna. Seu cabelo era completamente invejável, olha só o que você fez!

Paro em frente às duas quando Arielle solta um “Você é louca.” Ela olha para mim, diz um “oi” e me beija intensamente. Demoro a retribuir o beijo, pois estou ocupado demais sendo um idiota abrindo os olhos e vendo o reflexo da gêmea no espelho revirando os olhos.

— Então, qual é o problema?

— Por favor, diga à ela que o cabelo dela é perfeito como ele é.

Hesito. Johanna me encara pelo espelho, com um sorriso ameaçador enquanto engulo em seco ao mesmo tempo em que Arielle olha para mim. Como ela não desconfiava?

— Seu... Hm-hm. Seu cabelo é... Bonito. Não há a necessidade de fazer nada nele.

— E eu não sei como seu cabelo aguenta tanto gel, e também não há a necessidade da opinião de nenhum de vocês.

— Johanna!

Observo-a concentrada no corte do cabelo, agora louro e caindo um pouco abaixo dos ombros. Ela o repicava num estilo punk dos anos 70, talvez quisesse parecer com Suzi Quatro ou Joan Jett, naquela altura do campeonato.

— Quer saber? Eu desisto. — disse Arielle. — Faça o que quiser, mas saiba que a mamãe vai te matar.

Arielle sai do banheiro, ignorando completamente a minha existência, ao contrário de Johanna. Agora isso é algo que eu nunca pensei que fosse acontecer.

Permaneço parado, encarando a figura ao meu lado separando mechas artificialmente louras e cortando-as, deixando tufos de cabelo caírem sobre o chão cinza. Nisso, ela volta a olhar para mim e diz:


— Ainda prefere o ruivo?

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Não precisa estar logado em lugar nenhum para comentar, basta selecionar a opção "NOME/URL" e postar somente com seu nome!


Se você leu o capitulo e gostou, comente para que as autoras atualizem a fic ainda mais rápido! Nos sentimos extremamente impulsionadas a escrever quando recebemos um comentário pertinente. Críticas construtivas, sugestões e elogios são sempre bem vindos! :)