She's thunderstorms: Capítulo 9- Vermelho

Eu estava em casa mais uma vez. O cheiro de incenso e cigarro me recepcionando com um sentimento de acolhimento. As lágrimas começaram a escorrer no primeiro sinal de que não havia mais risco de alguém estar me observando. Desliguei o celular e joguei no sofá. Escorreguei pela parede, parando sentada no chão e suspirando em frustração, como de costume. Frustração porque eu sei que sou uma bagunça, sei que ninguém gosta de arrumar a bagunça alheia, e veja bem, eu não consigo arrumar a minha própria.
Escorregando pelo chão, acabei deitada, encarando o teto branco feito de gesso. Eu gostava de coisas pálidas, pareciam puras, inocentes. Eu sei que estou comparando um teto com algo puro, mas é que quando momentos de angústia como esse chegavam, eu buscava um porto seguro na coisa mais estável ao meu alcance. E no momento, tudo o que eu tinha era o gesso sobre minha cabeça. Não era minha culpa se a chuva não caía. Se o meio externo não me reconfortava, então o meio interno tinha que servir, pelo menos por ora. E no momento, eu só tinha meu teto e minhas paredes nuas.
E foi pela falta de ânimo pra me levantar e fazer qualquer coisa que alguém faz no primeiro dia de férias, que eu simplesmente adormeci, bem ali no carpete da minha sala.
***
Eu acho que “de arrasar” seria pouco pra descrever como eu estava. De verdade, eu não conseguia parar de me encarar no espelho do meu quarto, dei meia volta pra olhar de outro ângulo e o vestido vermelho parecia ter sido feito especialmente pra mim, com o caimento certo em cada parte do meu corpo. Só faltava uma coisinha e eu ficaria pronta. Fui até o banheiro e borrifei meu perfume, principalmente na nuca e clavículas; passei meu batom vermelho e como de costume, beijei o espelho. Hoje ele me reconfortou, hoje não estava amargo. Agora sim, agora eu era... Eu.
O meu telefone tocou, atendi. Era Patrick. Minutos se passaram. Minha campainha tocou. Era Patrick.
Abri a porta e encostei-me no batente, sorrindo para ele, como em um filme. Ele estava lindo, devo admitir. Seu terno azul escuro com risca de giz estava perfeitamente alinhado ao seu corpo, assim como meu vestido vermelho estava em mim. Éramos uma dupla fatal. E eu pude constatar isso em apenas alguns segundos, antes de ele me cumprimentar.
─ Eu sei que deveria começar dizendo algo como “boa noite”, mas acho que um “você está linda” é mais apropriado para a ocasião. ─ Ele disse, abrindo um sorriso.
─ Obrigada... Pode entrar, eu já estou pronta, só vou pegar minha bolsa. ─ Devolvi o sorriso. Ele passou por mim e parou no meio da sala, enquanto eu fechava a porta para logo em seguida andar até meu quarto, procurando minha clutch prateada.
Sim, eu realmente tinha achado Patrick bem elegante essa noite, mas eu não tinha necessariamente que dizer isso em voz alta.
Tudo o que cabia na pequena bolsa era meu celular, minhas chaves, dinheiro e meu batom. Depois de tudo estar organizado, chequei meu celular e havia uma mensagem de Jasmine:
“Já estou a caminho, e sinceramente, acho que nunca fiquei tão gostosa em um vestido em toda a minha vidaaa! Te vejo lá xx”
Que eu respondi:
“Eu também ameeei meu vestido! Estou saindo de casa, te encontro lá! Xo”
Estava tudo indo bem, e de alguma forma, a noite estava recheada de boas vibrações, eu estava cheia de bons sentimentos. Voltei até a sala, onde Patrick estava sentado em um dos sofás, olhando para a varanda.
─ Você quer beber algo? ─ Perguntei
─ Prefiro esperar para beber na festa. ─ Ele virou o rosto sorridente pra mim.
─ Tudo bem, então. Podemos ir?
─ Claro. ─ Ele levantou e esticou o braço em minha direção.
Caminhei até ele e também estiquei meu braço, entrelaçamos os dois, na posição de uma noiva e seu pai entrando na igreja para o casamento. Percorremos o curto caminho da porta de meu apartamento até o elevador, e logo estávamos no térreo de meu prédio. Olhei para a rua e só havia um carro estacionado, um carro tão azul quanto o terno que ele usava. Eu não entendo nada de carros, então não tinha ideia de que modelo era aquele, mas achei bonito, mesmo que não fosse “arredondado”, que no caso é meu tipo favorito de carros. Mesmo eu não tendo ideia de que marca eles são.
Ele ia abrir a porta do carro pra mim, mas o fiz primeiro. Era o tipo de ação que eu achava completamente desnecessária. Ele podia ser educado de outras formas, como ao falar. Abrir a porta de um carro para alguém em condições de fazer isso não significava nada.
Uma vez que estávamos dentro do carro, eu senti que era a hora de perguntar.
─ Então, Patrick... Eu realmente estive pensando...
─ Eu sei, eu sei. O motivo de eu ter te convidado. ­─ O carro começava o seu percurso neste momento. ─ Bom, Beatrice, eu sempre te achei uma mulher muito bonita, pra ser sincero. ─ Ele encarava a rua, e o sorriso continuava em seus lábios. ─ Mas nós trabalhávamos juntos, e eu tento ser o mais profissional possível. Então eu esperei pelo momento mais oportuno, que no caso, é esse. Hoje.
Soltei uma risada fraca. Ele pode ter pensado que era um ato lisonjeiro, mas era uma risada de descrença. Aquilo não fazia o menor sentido! Nós éramos dois adultos, e ele agia como se fosse algo secreto, agia como se fôssemos dois adolescentes que não poderiam ser pegos pelos pais.
Um milhão de hipóteses apareceram em minha mente, mas eu só respirei fundo e esqueci de todas, por dois motivos: o primeiro era porque eu queria ter uma noite boa, queria continuar com todos os bons pressentimentos e queria aproveitar o máximo possível qualquer boa experiência noturna; o segundo motivo era que se eu continuasse pensando, eu provavelmente perderia o controle de mim mesma e soltaria várias perguntas, perguntas que talvez fossem desnecessárias, uma vez que tudo o que eu pensara foram hipóteses, nada era certo e confirmado.
Finalmente respondi, encarando seu perfil:
─ Se o momento é esse, então que ele valha a pena.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Não precisa estar logado em lugar nenhum para comentar, basta selecionar a opção "NOME/URL" e postar somente com seu nome!


Se você leu o capitulo e gostou, comente para que as autoras atualizem a fic ainda mais rápido! Nos sentimos extremamente impulsionadas a escrever quando recebemos um comentário pertinente. Críticas construtivas, sugestões e elogios são sempre bem vindos! :)