She's thunderstorms: Capítulo 8- Rompimento

Música do capítulo: 


Dei-lhe um longo beijo antes de olhá-lo nos olhos e logo em seguida virar e encarar a parede, de costas para Gustavo. No chão, nossas roupas jaziam em posições estranhas. Foi a última coisa que vi antes de cair no sono.
***
Se não estou enganada, essa foi a primeira vez que permaneci até o amanhecer com o Gustavo. A primeira vez que não fugi ao primeiro indício de que em algumas horas o sol apareceria. Então não preciso comentar que ao abrir os olhos e enxergar tudo ao meu redor tão claro, tão exposto ao sol, foi um choque. Um mal estar sem tamanho tomou conta de mim, me senti frágil, como se eu houvesse perdido algum tipo de luta. Pelo menos, ao analisar com mais cuidado o quarto, vi que a cama era ocupada apenas por mim, o que me dava algum tempo de me recompor.
Levantei-me, recolhi minhas roupas e vesti-me, percebendo que todas as roupas de Gustavo continuavam no chão. Grande coisa. Aquele era o quarto dele, se fosse o meu também não recolheria nada.
Desci as escadas rapidamente e cheguei até a sala, busquei meu celular na bolsa e chamei um táxi. Joguei-me no sofá enquanto esperava, moída demais pra ir pra qualquer outro espaço da casa. O mal estar já havia passado, eu só estava vazia, o que já é meu estado de espírito quase fixo. Mas aí a porta da frente abriu-se e me levantei num movimento rápido, encarando um Gustavo com uma expressão confusa, que me encarava de volta.
─ Bom dia? ─ Ele disse com o tom mais duvidoso possível.
─ Péssimo dia. ─ Respondi me jogando de volta no sofá.
─ Uau, que surpresa. Não sei por que ainda pergunto. ─ Ele fechou a porta e se dirigiu até a cozinha. Após um tempo, ouvi sua voz um pouco mais distante. ─ O que te fez ainda estar aqui?
─ Ah, não se preocupe. Só estou esperando o táxi, assim que possível eu vou embora. ─ Disse com um tom de escárnio. Como ele me pergunta uma coisa dessas? É como se ele estivesse me expulsando.
─ Eu não... Tanto faz. ─ No mesmo momento ele saiu de onde quer que estivesse com passos fortes e dirigiu-se às escadas, subindo rapidamente. Eu podia observá-lo da posição na qual eu estava deitada.
Aproveitei e fui até a cozinha, minha cabeça doía e eu precisava de um remédio. Peguei um copo de água e ouvi os passos do dono da casa retornando. Ele estava distraído com algo que levava nas mãos e não percebeu minha presença enquanto retornava ao cômodo.
─ Você tem remédio pra dor de cabeça? ─ Eu estava encostada na bancada, bebericando do copo d’água em minhas mãos. Devo admitir que estava quieta. Posso ser rude quando quero, mas nunca me sinto bem em pedir algo para alguém com quem acabei de ser dura. Simplesmente parecia muito ruim.
─ Na caixa em cima da geladeira. ─ Ele respondeu depois de apenas alguns segundos de hesitação.
─ Pode pegar pra mim? ─ Ele fez uma cara que dizia “qual o seu problema? Por que você mesma não pega?” para qual tive que explicar ─ Eu não alcanço, ok?!
Ele foi em direção a geladeira e deu uma pausa perto de mim apenas para esticar o braço e colocar um batom cor de rosa sobre a bancada, na minha frente.
─ Acho que você esqueceu aqui em casa da última vez que veio. ─ Ele murmurou apontando para o batom, enquanto me entregava a aspirina.
─ Isso faria algum sentido. Se eu usasse batom rosa.
─ Ah... ─ Pude perceber que ele ficou meio corado, o que foi uma piada, porque ele não tinha nenhum motivo pra isso. ─ Desculpe.
─ Tudo bem, mas é um batom caro, seja lá qual for a dona, acho que ela amaria ter ele de volta.
Ele deu uma risada fraca e foi até o outro lado da bancada, servindo-se de café.
─ Quer café? Tem pão de queijo e sanduíches, também.
─ Eu passo. Nunca acordo com fome. ─ Ele deu de ombros e tomou um gole de sua xícara.
─ Tudo bem.
Peguei meu celular e mandei algumas mensagens de texto, confirmando a hora em que deveria pegar meu vestido para o coquetel da empresa e confirmando a hora no salão perto do meu prédio.
Quando terminei de digitar e olhei para o meu copo, a aspirina já havia se dissolvido. Não totalmente, mas quem liga? Bebi tudo muito rápido, já estava acostumada.
─ Certo. Eu te vejo semana que vem? ─ Ele perguntou. Ele sempre perguntava.
─ É. ─ Respondi contra minha vontade, encarando meu copo vazio.
Eu odiava momentos assim. Odiava ter que cumprir com algo, porque eu me conhecia: como eu estaria semana que vem? Eu poderia estar mal, estressada, o que é bem comum pra mim. E o que me restaria fazer? Sair mesmo indisposta. Contra a minha vontade.
Sentei-me em um dos bancos altos dispostos um ao lado do outro, Gustavo continuava sua refeição.
Sinceramente, qual era o meu problema? Tudo o que eu queria era ser estável, mesmo que por um curto período. Um dia e eu já seria feliz por poder desfrutar de vinte e quatro horas de sanidade.
Mas não era bem assim que as coisas funcionavam. Gostaria que fosse.
─ Bea? ─ Ele chamou, com um sorriso de criança.
─ O que foi? ─ Levantei o olhar até ele, suspirando.
─ Você acha que algum dia vai poder ser sincera comigo? Que vai poder me dizer no que está pensando quando fica com o olhar perdido no nada, viajando em outro mundo?
Mais um suspiro vindo de mim.
─ Você e eu sabemos que não. Foi uma pergunta bem desnecessária.
Ele queria que eu compartilhasse o que eu pensava?! Ah, claro! Minha especialidade é manter minhas ideias só pra mim, e pensar sobre elas mais do que o recomendável. Mas é óbvio que ele não entendia isso. Não tinha capacidade para tanto. E eu realmente estava cansada disso.
Quer dizer, era óbvio que Gustavo me causava várias coisas positivas. Prazer e saciedade eram apenas uns dos efeitos que ele me causava. Mas se tratando do meu emocional... Bem, Gustavo fodia com ele. Completamente.
─ Gustavo...
─ Sim?
─ Isso não pode acontecer mais. Nós.
─ Não começa com essa história. Eu não estou pedindo nada além do que a gente tem. ─ Agora ele me olhava nos olhos, seu semblante era sério.
─ Ok, você não entendeu. Eu sou egoísta, tá legal? Nós estamos bem em um minuto, e no minuto seguinte eu viro essa alma miserável e triste. Eu não posso continuar fazendo isso comigo mesma, isso me acaba. E eu não sou idiota, eu vejo o mal que isso te faz. Eu posso não ser a pessoa mais zelosa por você, mas eu não sou um monstro. ─ nesse ponto eu já gesticulava obsessivamente de todas as formas que eu podia ─ Qual o ponto de continuar algo que é destrutivo para nós dois?! Não faz sentido! Porque, você sabe, isso é só alguma coisa, não chega nem perto de uma relação.
─ Eu posso consertar qualquer...
─ Não diz! Você não pode! Não pode me consertar, nem consertar essa coisa que a gente tem. Coisas abstratas não se consertam. Elas esvaem, acabam, e não têm volta.
─ A gente não vai chegar a lugar nenhum com isso.
─ Eu não sei qual é o seu ponto. Mas o meu é que, tudo bem, eu admito: adorava o que a gente tinha, de se encontrar quando podia pra sair da rotina, se divertir, transar, e tudo mais... Mas eu não sei lidar com os seus sentimentos. Com os sentimentos de qualquer um. Eu não posso dar nada em troca.
─ Beatrice, você quer terminar algo que nem começou! Isso não existe, está tudo na sua cabeça!
─ Então tudo está.
Mas ele não entendeu.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Não precisa estar logado em lugar nenhum para comentar, basta selecionar a opção "NOME/URL" e postar somente com seu nome!


Se você leu o capitulo e gostou, comente para que as autoras atualizem a fic ainda mais rápido! Nos sentimos extremamente impulsionadas a escrever quando recebemos um comentário pertinente. Críticas construtivas, sugestões e elogios são sempre bem vindos! :)