She's thunderstorms: Capítulo 6- Invasão

– Oi, Gustavo. – Eu disse, com a voz carregada de humor.
– Boa noite. – Ele respondeu com a voz rouca de costume. – Por acaso você esqueceu que hoje é sábado? – Ele perguntou após uma curta pausa, usando um tom desafiador.
– Não, não esqueci. Mas pensei que hoje seria melhor variar. – Eu disse enquanto me apoiava na parede atrás de mim, e mordi o lábio inferior, prendendo o riso. Jasmine me encarava.
– Variar? Não me diga que vai me convidar para sua casa. – Ele perguntou numa animação antecipada.
– Mais uma vez, não. Com “variar” eu quis dizer que não quero te ver hoje. – Jasmine riu jogando a cabeça para trás, enquanto ainda me observava. Ela sabia que era mentira.
– Sério, Beatrice? Pensei que já tínhamos passado da fase dos joguinhos.
Ele estava errado e certo ao mesmo tempo. Sim, eu adorava joguinhos, e aquele era um deles. Ele era um deles. E não, “nós” não havíamos passado dessa “fase”. E nem passaríamos. Mas é claro que eu não diria isso a ele.
– Não tem jogo nenhum, Gustavo. Eu simplesmente quero ficar em casa hoje.
– Eu estou louco pra te ver de novo, e acredite, eu não vou perder essa discussão.
– Pago pra ver. – Meu lábio inferior ainda estava entre meus dentes e um sorriso sujo completava minha expressão.
– Como você pode querer ficar em casa, e pelo que sei, bebendo até perder a consciência, ao invés de simplesmente engolir essa porra de orgulho e aceitar me ver?
– Cala a boca.
– Que tal você vir calar?
– Isso foi ridículo. E, sinceramente, você acabou de eliminar qualquer possibilidade de eu ir te ver hoje. Vai procurar outra. Hoje eu não estou disponível.
– Ah, não está disponível? – Eu realmente já estava irritada, o tom provocador dele já não surtia efeito em mim.
– Não. – Disse, rigidamente. E para a minha surpresa, ele desligou. Simples assim. Na minha cara.
– O filho da puta desligou na minha cara! – Falei, enquanto me desencostava da parede e andava na direção de Jasmine, que dava de ombros à situação. – Pra completar, Patrick também não está mais na linha.
– Calma. Você brinca com o cara há dois meses, já pensou na possibilidade de ele ter cansado?
– Se ele cansou eu procuro outro, meu bem. Jas, até parece que você não me conhece.
– Porra, claro que eu te conheço! Mas você acha que eu não me preocupo com as coisas que você faz? Eu sei muito bem o estado em que você fica depois de fazer isso tudo! – Jasmine era o tipo de pessoa que só falava palavrão quando estava realmente chateada, e aquilo me assustou.
– Isso tudo o quê? – Eu perguntei com o tom desconfiado.
– Dormir com vários caras e depois ir embora como se isso não te afetasse! – A essa altura ela apontava o copo de vidro vazio em minha direção enquanto falava.
– E não afeta! Você sabe disso!
Jasmine soltou um suspiro cansado e deixou o corpo amolecer no móvel.
– Já deveria saber que para mim você não precisa colocar essas máscaras, mas você insiste em pô-las.
Soltei um suspiro e respondi:
– Eu estou bem. Nenhum deles me afeta. Não vou parar de fazer isso, porque não é errado. Eu só preciso me convencer totalmente disso. – Me deitei totalmente no sofá, com um dos braços cobrindo os olhos da luz forte que vinha do pequeno lustre da sala.
– Eu sabia. Bom, você está certa. Mas, qualquer coisa, já sabe que pode falar comigo.
– Ah... Certo. – A essa altura “I wanna be yours” chegava ao fim na minha playlist. – Eu vou... Vou pro seu quarto tomar um banho.
Dei um sorriso à ela e então fiquei sozinha na sala. Fui até a área de serviço do apartamento e procurei por um short e uma blusa preta que me caía bem. Voltei até a sala e me troquei, deixando a roupa do trabalho na área de serviço para ser lavada depois.
***
Pensei em fumar quando fui até a varanda do apartamento, mas ficar simplesmente sentindo a brisa no meu corpo e ficar observando a lua me parecia bem mais convidativo. O leve barulho do trânsito apenas tornava tudo mais agradável. Alguns podiam até pensar que isso estragava a leveza do momento, mas isso pra mim apenas tornava tudo mais realista. A delicadeza da noite era como o paraíso. Um paraíso negro que eu desejava alcançar. O barulho do tráfego era a realidade que contrastava com a minha utopia. Era algo tão distante que parecia tão mais próximo apenas pela relação com algo que os outros julgavam ser ruim. Talvez fosse apenas meu jeito de ver as coisas que tornava tudo mais significativo (pra mim), e em momentos como aquele eu agradecia ao meu subconsciente pelos instantes de liberdade que eu usufruía sem (tanto) álcool ou nicotina.
Mas então a campainha tocou. E, hesitantemente, eu fui até a sala. Eu me sentia tão bem, e só percebi isso enquanto andava em direção à porta. Com um sorriso no rosto, eu a abri.
E no momento seguinte, dois braços já envolviam minha cintura, puxando-me para perto, e lábios colidiam com os meus com urgência e saudade. Não me tomou muito tempo para que eu correspondesse com a mesma intensidade, só que sem a parte da saudade.
E as coisas começaram a se encaixar. Gustavo estava ali. Eu estava em seus braços. Ele havia encerrado a ligação na minha cara... E logo depois veio correndo para cá. Eu juro que tentei, mas foi impossível não abrir um sorriso ao pensar nisso. Nesse ponto minhas mãos bagunçavam seu cabelo.
– Feliz em me ver? – Ele havia interpretado meu sorriso dessa maneira. Disse isso quando se afastou rapidamente do meu rosto, me olhando nos olhos, para logo em seguida, me beijar novamente.
Cambaleamos para trás e suas mãos se espalmaram até a parte inferior da minha costa, enquanto eu agarrava seus ombros.
Num impulso me afastei dele. Nós estávamos no meu apartamento e Jasmine estava no cômodo ao lado. Ele me olhou com a expressão mais confusa que eu já havia o visto usando.
– Isso foi um não? – Ele soltou mais esta pergunta enquanto tentava organizar o cabelo que eu acabara de bagunçar.
– O que você está fazendo aqui? Eu disse que não queria te ver hoje. – Ignorei a indagação já feita por ele e respondi calmamente enquanto me sentava no sofá atrás de mim.
– Eu vim te ver. – Ele respondeu, pondo as mãos nos bolsos e me encarando diretamente nos olhos.
– É, eu percebi. Espera aí. – Disse enquanto me levantava rapidamente e me dirigia ao quarto.
– O quê?
– Só espera aqui!
Assim que entrei no quarto, o barulho de água caindo do chuveiro cessou. Me dirigi até a escrivaninha e peguei minha bolsa. Passei meu batom vermelho, calcei uma sapatilha preta e encarei meu reflexo no espelho a minha frente. Era incrível como eu parecia tão mais viva do que na sexta feira. Todo aquele clima mórbido havia sumido, e, por mais que eu ainda fosse vários fragmentos do que uma vez a verdadeira Beatrice fora, agora eu me sentia remendada. Nem de longe isso soava como algo bom, mas eu sabia que era o melhor que eu podia ter. Pela primeira vez em semanas eu não me sentia como se estivesse prestes a desmoronar, e aparentemente, não havia motivos para eu me sentir assim. Eu só sentia. E era grata por isso. Um sorriso surgiu em meu rosto e segundos depois Jasmine saiu do banheiro, enrolada numa toalha branca, me encarando desconfiada.
– Mais tarde eu volto, meu amor. – Corri até ela ainda sorrindo e dei-lhe um beijo na bochecha.
– Meu amor? O quê? Aonde você vai?
Mas eu já estava na porta do quarto, e tudo que eu fiz foi lançar-lhe um beijo no ar, enquanto fazia meu caminho de volta à sala.
Gustavo estava sentado no sofá mexendo em algo nas unhas, e ao ouvir meus passos, me encarou com o rosto neutro. Eu ainda estava sorrindo.
– Vamos? – Parei na frente dele, estendendo-lhe a mão.
– Claro. – Ele respondeu pegando a minha mão e me beijando. – Eu juro que já tentei, mas não consigo entender você. – Ele completou, adotando a mesma expressão de Jasmine quando me viu sorrindo no quarto.
– Fico feliz de ouvir isso. – Me afastei dele e, com nossos dedos ainda entrelaçados, puxei-o até a porta.
Meu humor havia mudado da água pro vinho, e eu me sentia bem. Certo, havia uma quantidade considerável de álcool no meu sangue, mas eu me sentia sóbria e ao mesmo tempo, leve. Eu sabia que era contraditório, mas eu era exatamente isso: os opostos colidindo. Mas mesmo com essa sutil confusão que ainda me preenchia, eu estava... Feliz.
Definitivamente, aquela seria uma noite de sorte para o meu acompanhante.

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