She's thunderstorms: Capítulo 5- Vodka

Entramos na sala de Patrick e ele dirigiu-se rapidamente até sua cadeira de couro, atrás de sua moderna e organizada mesa de trabalho. Sentado e com os dedos das mãos entrelaçados sobre a mesa, ele me encarava. Como o pedido para que eu me sentasse não veio, fiquei parada, de pé, ainda próximo a porta. Tinha certeza de que minha expressão era totalmente neutra, dentre as coisas em que eu era boa, “esconder tudo o que eu queria” está em primeiro lugar.
– Então? O que foi? – Eu disse, cruzando os braços sob os seios e adotando uma postura até mesmo agressiva. Ele queria me contar algo e até então não usara de gentileza para nada, portanto eu também não precisava ser exatamente delicada.
– Disse que seria direto, e não vou mais gastar seu tempo. Hoje é o último dia de trabalho do ano nessa empresa, e é claro que você está ciente da festa de despedida que acontecerá amanhã à noite.
– Sim, eu sei. Assim como cada funcionário dessa corporativa. Por quê?
– Porque eu gostaria que você fosse minha acompanhante na festa. – Um sorriso que, nunca em milhões de anos eu imaginaria que ele tinha, surgiu em seus lábios. Não era um sorriso sério, galanteador ou qualquer outro sorriso que alguém associaria ao cara sério que ele mostrava ser todos os dias. Era um sorriso sacana e com várias intenções nem tão mascaradas sob ele. Aquilo estava começando a ficar interessante.
– Tudo bem, então. Mais tarde digo a hora em que nos encontramos. Era só isso? – Respondi rapidamente, colocando as mãos na cintura e ainda demonstrando indiferença.
– Na verdade ainda tem bem mais. Mas por enquanto... Sim, é só isso. – Ele não havia se deixado abalar com a pretensão que sei que tive. Se aquilo havia abalado minha pose superior? Talvez um pouco. Se eu deixaria transparecer? De modo algum. O sorriso dele agora era mais aberto, porém com os mesmos significados de antes. Ele se recostou na cadeira, levantando uma sobrancelha para mim, numa espécie de desafio silencioso. Dei de ombros e girei os calcanhares, voltando-me para a porta pelo qual eu havia entrado, e fazendo o caminho de volta para a minha sala.
Cheguei até minha sala apenas para organizar todos os meus documentos, desligar o notebook e deixar em ordem o que havia se desorganizado ao longo do dia. O convite de Patrick vez ou outra tomava conta de meus pensamentos. Aquilo tudo era, no mínimo, incomum. Quais as chances de um cara carrancudo, de uma hora pra outra, resolver se aproximar de você? Eu simplesmente não podia aceitar que aquilo era simples e pronto, que aquilo era apenas um convite. Sem dúvidas alguma coisa estava mascarada, e não demoraria até eu descobrir o que era.
Saí do prédio de trabalho com passos seguros, rápidos e decididos. Não faltava nada para as minhas férias e aquele local estava me sufocando. Ainda a pé, fui até ao restaurante da esquina encontrar Jasmine. Sentei-me a mesa de sempre, onde ela já me esperava.
A chuva começou a cair lentamente do lado de fora, fazendo com aquele cheirinho típico de terra e asfalto molhado nos rodeasse. Aquele cheiro era um de meus favoritos. Era natural, era leve e principalmente, era um cheiro que não pertencia a ninguém, não me lembrava ninguém. Eu não corria o risco de senti-lo e acidentalmente lembrar-me de alguém. Era um cheiro que me descrevia. Era livre.
E então aquele fim de tarde me pareceu mais bonito. As coisas ao meu redor pareciam mais animadas e Jasmine abriu um sorriso ao mesmo tempo que eu. Ela me conhecia bem o suficiente para saber que aquilo despertava o meu lado feliz. E meu lado feliz no momento clamava por álcool.
–A noite podia ficar mais bonita, sabia Jas?– Dei uma última mordida no pão de alho com paté.
–O que você sugere?– Ela abriu ainda mais o sorriso, os lábios pintados de vermelho eram sua marca.
–Você sabe bem o que eu quero. – Respondi dando uma risada baixa e levantando as sobrancelhas.
–Quarteto? – Jas falou com um ar de dúvida. –Cuidado, pelo que você me contou, você meio que ainda está virada, né? Quer dizer, só algumas horas de sono, um dia inteiro de trabalho e já quer mais farra? Amanhã ainda temos outra festa!
–Calma, calma, não o quarteto inteiro. Acho que apenas a parte do álcool é suficiente.
–Nesse caso estou de acordo.
–Ótimo, mas aqui nesse restaurante recatado e tão próximo do nosso trabalho a coisa não rola.
–Claro. Vamos para a minha casa, então.
–Ah não, Jas, vamos para o meu apartamento, por favor. Da última vez nós fomos para sua casa, agora é minha vez. –Implorei com o rosto mais suplicante possível, até ela ceder, revirando os olhos. Seguimos para o estacionamento da empresa, entramos no meu carro e fomos até minha casa.
Como uma boa solteira, meu apartamento sempre tinha vodka, cerveja, whisky, vinho e cigarros. Jasmine não fumava, mas também não se incomodava com quem o fazia. O apartamento inteiro estava escuro quando chegamos e aquilo me pareceu triste. O escuro e o frio não tinham graça sem a chuva, não tinham graça quando eu estava feliz, quando eu tinha companhia, quando tudo corria bem. Rapidamente as luzes iluminaram o local e as janelas da sala foram abertas, uma brisa boa batendo. Coloquei o iPod na caixa amplificadora e deixei os primeiros acordes de R U Mine? Invadirem o recinto.
Eu e Jas fomos nos servir. Ela já sabia os locais de cada bebida e eu precisava me “preocupar” apenas comigo mesma. Sentei-me no sofá branco da sala e Jasmine sentou no outro, de frente para mim. Fizemos um gesto no ar, de brinde com os copos, porém sem encostá-los, devido à distância.
Joguei minha cabeça pra trás após dois shots de vodka. Minha mente já ficava mais leve, tudo já parecia mais fácil. Meus pés estavam em cima da mesinha de centro, que ficava entre os dois sofás, se mexendo ao ritmo da música, e minha cabeça começou a acompanhá-los com os mesmos movimentos. Virei o terceiro shot e comecei a cantarolar a música que já estava na metade. Olhei para o relógio na parede e ainda não eram nem oito da noite. Talvez eu realmente precisasse encontrar distrações melhores que a bebida, mas eu pensaria nessa possibilidade mais tarde. No momento eu estava ocupada demais aproveitando o som de guitarras distorcidas para fazer qualquer outra coisa.
Então o celular tocou em algum local da sala. Eu olhei confusa para os lados tentando localizá-lo, sem sucesso.
–A sua bolsa- Jas disse lentamente enquanto dava mais um gole na sua lata de cerveja. –O celular está na sua bolsa.
Assenti e me levantei mais tonta do que eu pensei estar. Apanhei a bolsa do lado da bancada que continha as bebidas que estávamos consumindo no momento. Peguei o celular e a tela brilhava com as letras “Patrick”.
–Alô?- Minha voz saiu mais arranhada do que deveria, sem querer, claro.
–Boa noite, Beatrice. -A voz do outro lado parecia divertida, e eu certamente podia dizer que queria ouvi-la de perto. –Tudo bem?
–Oi, Patrick, tudo bem. Por que me ligou?- Eu deveria ser mais gentil? Sei que sim. Mas alguma coisa ainda me impedia.
–Rápida como sempre. Eu vou bem, obrigado por perguntar. Mas sinceramente, liguei pra dizer que passo pra te pegar na sua casa às dez.
–O que?- Minha voz escapou tão lentamente que qualquer um que ouvisse pensaria que eu tinha algum retardo mental. Três shots de vodka e alguns goles de vinho e eu já estava naquele estado.
–A festa de amanhã... Lembra?- Ele falou calmamente como se eu tivesse algum problema de compreensão. Mas talvez no momento eu tivesse mesmo.
–Ah, sim... –Aquilo não estava funcionando, e nem de longe eu me esforçava para parecer sóbria.
–São sete da noite, Beatrice, eu me recuso a acreditar que você esteja bêbada. Mas pela sua voz eu não tenho outro palpite. –Eu quase pude ver o sorriso de Patrick enquanto ele respondia.
–Desculpa te decepcionar... Mas acho que estou. –Dei uma pausa para um riso infantil entre uma sentença e outra. Até que meu celular começou a vibrar e eu sabia que estava recebendo outra ligação. –Espera um pouco, tem outra chamada aqui. –Acho que ele entendeu, pois recebi um “tudo bem” como resposta.
Afastei o celular do ouvido e o novo nome que brilhava na tela me fez abrir um sorriso em divertimento. Era ele. E Patrick me aguardava na outra chamada, eu deveria escolher com quem falar, certo? Teria que dispensar um dos dois. Aquilo seria divertido.

Um comentário:

Não precisa estar logado em lugar nenhum para comentar, basta selecionar a opção "NOME/URL" e postar somente com seu nome!


Se você leu o capitulo e gostou, comente para que as autoras atualizem a fic ainda mais rápido! Nos sentimos extremamente impulsionadas a escrever quando recebemos um comentário pertinente. Críticas construtivas, sugestões e elogios são sempre bem vindos! :)