She's thunderstorms: Capítulo 4- Realidade

Então era sábado e era dia de trabalho. Graças a Deus, o último dia do ano em que eu teria que acordar cedo e me dirigir ao escritório. Como revisora, o esforço para que tudo ocorresse bem no meu ofício não era pouco, dava o máximo de mim mesma e por vezes sacrificava meu tempo livre com a intenção de melhorar os artigos publicados na revista de onde eu fazia parte.
O agradecimento ao fim de ano e com isso, as férias, se devia a um simples fato: todos gostam de descanso e sossego, e não fujo dessa regra. Por mais que amasse meu trabalho, ter um tempo para si próprio nunca era demais.
A última edição da revista de consumo da qual eu fazia parte era a mais esperada e qualquer perímetro do prédio administrativo em que eu sequer pensasse em circular, estaria um caos. Discussões de layout em um lado, sugestões de fontes de pesquisa do outro. Havia secretárias anotando recados freneticamente em seus caderninhos, moças da limpeza cuidando de lixeiras que transbordavam bolinhas de papel, homens e mulheres de aparência cansada digitando incessantemente em seus computadores. Tudo isso em plena manhã de sábado.
Um suspiro sôfrego foi tudo o que eu pude dar a aquela situação da qual, muito em breve, eu faria parte. Pelo meu bom currículo, consegui o emprego como última revisora, ou seja, dentre a equipe de todos os revisores, eu era a última a ler os textos até então definitivos, ou seja, quando as matérias chegavam às minhas mãos, já não havia quase nem um erro, e meu trabalho se tornava mais fácil. Havia apenas alguns desvios de formatação ou pontuação aqui e ali (quando havia), nada muito dificultoso. Mas é claro, numa revista de grande porte como essa, não havia apenas uma “última” revisora. No mesmo cargo que eu, havia mais um empregado, e no cargo de revisores secundários, mais quatro. Devido a prévias reuniões e anos de trabalho, eu conhecia cada pessoa da minha equipe.
Cheguei a minha sala rapidamente e a primeira coisa que fiz foi checar meu e-mail de trabalho, se havia mais textos para serem revisados, que tudo fosse feito logo. E assim, de quinta para sábado, quinze textos apareceram magicamente na minha caixa de entrada. Era incrível como no trabalho eu poderia me sentir tão sufocada rapidamente. Mas quanto mais cedo eu começasse, mais cedo terminaria.
Então meu estômago roncou alto e lembrei que a última vez em que eu havia comido tinha sido na noite anterior, antes mesmo de ir ao bar.
–Que barulho foi esse? Virou cachorro e resolveu rosnar, meu bem?- Jasmine entrou na sala, com a cara de deboche de sempre.
–Muito engraçada. Cala a boca, tira essa expressão da cara e me traz um café. - Jasmine rolou os olhos e andou até mim, me dando a própria xícara de cappuccino.
–Se esqueceu de comer de novo?
–Sim, pra variar. Nem uma novidade.
–Em relação a isso eu sei que não tem novidade. Mas quanto à noite de ontem, obviamente tem, e eu quero saber de tudo.
–Por que você não pode ser uma pessoa normal e apenas marcar de sair comigo para fazer compras, beber e dirigir por aí? Eu não sou obrigada a dividir detalhes da minha vida sexual com você, sabia?
–Na verdade, é sim. Já que eu faço parte do quarteto.
–Não me lembro de você ser “música”, “cigarro”, “sexo” ou “bebida”.
–Ótima piada. Você entendeu.
–Tudo bem, tudo bem. Conto tudo, até com os detalhes mais sórdidos se assim você quiser. Porém só mais tarde, agora eu estou simplesmente cheia de textos para revisar.
–Ok. A gente se vê no lugar de sempre?
–Com certeza.
E ela se afastou, saindo pela porta. Jasmine era minha amiga de trabalho e amiga para todas as horas. Ela fazia parte da redação da revista, sempre dava um jeito de driblar o esquema de revisão de artigos e me passava direto os textos para que eu mesma revisasse, e claro, eu nunca negava. O “lugar de sempre” era o restaurante simples e rústico de esquina com o prédio administrativo da empresa, nós sempre jantávamos aos sábados lá, como uma maneira tímida de dizer “ei, nós ainda podemos sair e nos divertir num sábado a noite após um dia inteiro de trabalho!”, mas era mentira. Na verdade não podíamos. Acabávamos comendo massas, ou pães com paté acompanhados de algum vinho não muito especial, e cada uma ia para a sua casa logo em seguida. Se no trabalho nos víamos constantemente, fora dele era meio complicado, já que morávamos em extremos oposto da mesma cidade.
Ao longo do dia, recebi sete e-mails com anexos de matérias que deveriam ser revisadas, mas eu simplesmente não tinha mais tempo pra isso, já que na minha frente, Patrick, o cara que dividia o mesmo cargo que o meu no escritório, me chamava para uma conversa em sua sala.
Patrick, por mais estranho que pareça (já que ele possuía o mesmo cargo que o meu), era a pessoa com que eu menos mantinha contato em toda a empresa. Ele era sempre sério demais, o semblante concentrado em papéis na frente do rosto e constantemente era visto gritando com funcionários pelos corredores. Isso demonstrava extrema profissionalidade de sua parte, e apesar de toda essa rigidez e seriedade em seu comportamento, não deixava de ser um cara bonito. E extremamente atraente, diga-se de passagem. Era alto, e os cabelos dourados sempre brilhavam em exposição a qualquer tipo de luz. Mas todo esse jeito intimidador nunca despertara nem a curiosidade de ser apenas colega de trabalho dele. A distância era preferível para mim.
–Aconteceu algo?- Perguntei apreensiva.
–Na verdade não- ele disse mais relaxado- Já vi que você está ocupada, mas realmente preciso que você venha até a minha sala, não vou ocupar mais do que vinte minutos do seu tempo. - Concordei levemente com a cabeça, apenas fechando meu notebook, arrumando a roupa assim que me levantei e seguindo para fora da sala, logo atrás de Patrick.

Um comentário:

Não precisa estar logado em lugar nenhum para comentar, basta selecionar a opção "NOME/URL" e postar somente com seu nome!


Se você leu o capitulo e gostou, comente para que as autoras atualizem a fic ainda mais rápido! Nos sentimos extremamente impulsionadas a escrever quando recebemos um comentário pertinente. Críticas construtivas, sugestões e elogios são sempre bem vindos! :)