Criminal: Capítulo 4 - Fear and Loathing



“There is no crime in being kind. Not everyone is out to screw you over. Maybe, oh just maybe they just wanna get to know you.” (Marina And The Diamonds)

Eu estava jogada na cama ouvindo música alta. Um mix eletrônico quase que histérico para aguentar meu coração ansioso. Alex prometera chegar à minha casa naquela tarde. Eu tentava escrever sobre ele pra espantar aquele sentimento. Ultimamente eu estava tão esquisita que não conseguia nem me reconhecer. Com a mente trabalhando numa constante multipolaridade. Feliz, triste, irritada, excitada, amargurada... Era simplesmente um ciclo sem fim, se minha família estivesse em casa eles notariam que havia algo errado e investigariam, mas ninguém podia provar nada. Não naquele momento.
As batidas ecoavam em meu ouvido, o som estava altíssimo, coisa ensurdecedora, mas eu permanentemente resolvi que iria me levar por aquelas batidas que me faziam imaginar como se tivesse ingerindo alguma droga com ecstasy ou cocaína. Qualquer droga que me deixasse agitada e pedindo por mais.
Paixões eram como drogas, dependendo do seu tipo há a possibilidade de te deixar completamente acelerado ou completamente lerdo. De paixões eu havia provado, de drogas não. A diferença entre as duas? Nenhuma. Ambas viciavam, ambas traziam uma sensação de prazer, ambas destruíam pessoas, ambas matavam lentamente.
Mas por algum motivo o fato de eu estar sozinha em casa havia um significado muito profundo para mim. Minha mente presa, amarrada, arraigada em tudo o que eu aprendi dos meus pais, de tudo o que a sociedade me disse sempre de “como ser uma boa moça”, de todas as coisas que eu deveria aceitar e negar, o certo e o errado. Meu corpo estava livre, leve, solto se eu ligasse para Jamie naquele exato momento e pedisse que ele viesse ali para transar comigo eu poderia, se ele aceitasse claro, apesar de eu duvidar que ele fosse querer algo realmente conhecendo-o como eu conhecia.
Jamie não era santo. Como dizer que um estudante de medicina em seus 21 anos era santo? Jamie era bonito, as pessoas viam isso, as pessoas sabiam disso. Jamie tinha um corpo perfeito, Jamie era gentil, educado, inteligente. Ele era o homem dos sonhos de qualquer um, seu único defeito era Anne.
Eu e ele conversamos sobre sexo algumas vezes. Ele sabia que eu era virgem e me contava suas aventuras só para ver meu rosto ficar vermelho. Não era nem pelas histórias em si, era porque eu acabava imaginando como seriam se fossem comigo. Eu imaginava os toques, os lábios de Jamie correndo por lugares que não fossem minha boca, os olhares, as mordidas... E foi aí que Eliza sugeriu que eu deveria escrever para colocar todas essas energias para fora. De vez em quando eu me pegava escrevendo dentro de sala de aula no meu caderno. No meu caderno. No caderno que estava com Alex.
Entrei em pânico. A primeira coisa que fiz foi arrancar meus fones e ficar em choque sentada pensando em o que eu faria quando ele chegasse. Pensei em fingir de morta, nunca mais atender a porta e fugir pro leste europeu.
Mas já era tarde demais, eu já ouvia o barulho da Thriumph de Alex. Entrei em estado desespero. Minha cabeça entrou numa bagunça sem fim de gritos desesperados do meu inconsciente.
Fiquei inquieta, meus pés começaram a tremer, as mãos se moviam sozinhas por todo meu corpo e eu podia sentir seu toque suado e molhado por onde passava.
Escancarei a porta do quarto, indo em direção ao corredor, logo depois comecei a descer as escadas. Andava sempre fazendo muito barulho, com os pés batendo violentamente no chão de mogno que mamãe amava, e por causa do mesmo chão só era permitido andar descalço dentro de casa.
O andar de baixo da minha casa era muito parecido com o andar de baixo de várias casas clássicas inglesas. Principalmente com as do meu bairro, Buckingham, o bairro real. A questão do bairro inspirou meus pais na decoração do meu quarto desde o dia que nasci: “Aqui dorme a princesinha do papai e da mamãe”.
Quando pus meus pés no último degrau a minha espinha inteira se arrepiou. Observei o corredor que levava até a porta. Meu coração estava insaciável, meu corpo inteiro tremia e eu sabia que aquilo se resumiu no principal efeito de Alex em mim: desequilibrar-me. Era quase impossível tirar minha expressão de indiferença e sarcasmo do rosto, mas o Turner estava conseguindo de tal forma, com tanta perfeição, quase profissional devo dizer, que chegava a me chocar e irritar profundamente, mas ao mesmo tempo me encantava.
Criei a teoria de que ele devia ter namorado uma mulher com o gênio idêntico ao meu.
Apesar de estar atordoada o que realmente eu só conseguia pensar em: “Como eu vou reagir?”, haviam grandes chances de ele ter encontrado e lido os textos. Na pior das hipóteses ele apenas olhou e riu, mas na pior delas, ele poderia ter tirado foto e espalhado para a escola. Eu imaginava Alex como uma pessoa terrivelmente má.
Não conseguia me concentrar, não conseguia ouvir nada ao meu redor, só sabia que quando eu puxei a porta Alex estava estendendo a mão para apertar a campainha.
- Não sabia que além de arrogante você era vidente. – Ele destilou seu veneno enquanto sorria aquele seu maldito sorriso. Revirei os olhos e parei rapidamente para observá-lo. Era aquele mesmo visual de sempre, quase seu uniforme, camisa colada, mas dessa vez branca, jeans, botas e a porcaria do casaco de corpo, só que dessa vez estava em seu corpo e aberto. Em seu rosto estavam óculos aviadores, eu sinceramente achava sexy demais aquele modelo e, como qualquer coisa que ele usava, infelizmente ficava perfeito em seu rosto.
- Vai ficar me encarando ou vai me convidar pra entrar? – Encostei com a porta e simplesmente neguei com a cabeça. Não, não ia ficar apenas o encarando. Não, não ia convidá-lo para entrar. Ele tirou os óculos e eu percebi que ele direcionou o olhar para minha sala, espiando pra ver o que tinha lá dento.
- Estou sozinha. – Retruquei, Alex sorriu, mordeu o lábio inferior e me encarou profundamente, quase me despindo com seu olhar.  Ele  estava me testando.
- Melhor ainda. – Resolvi usar de psicologia reversa e enfrentá-lo. Estava cansada de usar a defensiva disfarçada de ataques verbais.
- Tira os sapatos. – Ele não esperava que eu realmente o chamasse para entrar. Notei que ele ficou levemente atordoado enquanto eu desencostava da porta e fazia sinal para que ele entrasse. Ele deu de ombros, se ajoelhou, desamarrando e logo em seguida tirando os sapatos e deixou no tapetinho da entrada. Fiquei um pouco tensa enquanto ele colocava seus pés dentro da minha casa. Em nenhum momento ele fez menção ao conteúdo que ele possivelmente possa ter encontrado no caderno. Como eu acreditava que Alex era uma pessoa irrevogavelmente má eu sabia perfeitamente que ele estava esperando a melhor hora para me atacar.
Eu estava perfeitamente disso por estava sempre em alerta.
Alex pôs o capacete na mesa de entrada, junto com o casaco. Assim que ele tirou a peça eu pude ver aquela maldita tatuagem e odiava isso.
- O que isso significa? – Fingi que nunca havia notado que ela estivesse ali, apesar de meus olhos sempre estarem presos nela. Eu sabia o que era, conheci uma romena numa excursão que fiz para a Sérvia uns anos antes.
Alex sorriu, olhou e se virou pra mim levemente. Nem parecia a mesma pessoa de alguns minutos antes.
- Algo como fora da lei, fugitivo, marginal... – Levantei minha sobrancelha e ele deu de ombros. – Coisa de quando eu era mais novo. – Ele comentou dando pouca importância ao que estava ocorrendo, como se não fosse com ele. – Eu era bem jovem, achei que seria uma coisa misteriosa e divertida. – “Até parece”, pensei. Eu sabia que ele tinha alguma coisa a esconder, sempre tive uma desconfiança, aquilo aguçou minha dúvida, mas eu não tinha provas coerentes sobre uma vida de bandido. Não naquele momento. Ele cheirava como perigo, mas era só.
- E você tem mais? – Perguntei com curiosidade. Ele deu de ombros e colocou as mãos na barra da blusa.
- Posso? – Acenei positivamente com a cabeça, ele deu um sorriso malicioso, eu sabia que ele estava com mais intenções exibicionistas do que de realmente me mostrar suas tatuagens.
E quando sua camisa saiu de seu corpo eu pude ver que não eram apenas os braços que eram fortes, seu peitoral era levemente forte e inchado. Seu abdome era marcado pelos morrinhos de uma definição discreta, porém linda.
Era uma série de desenhos que poderiam desconcertar qualquer um. Eu poderia prender meus olhos em seu corpo, mas as cores do seu corpo me chamaram ainda mais a atenção. Minha mão se espalmou e logo moveu em direção aos desenhos. Antes de eu conseguir tocar olhei em seus olhos e perguntei com um tom quase amedrontado.
- Posso tocar? – Minhas mãos estavam apenas a milímetros de sua pele. Ele deu de ombros, me olhando com um olhar de provocação, um sorriso sarcástico no rosto. Seu rosto estava virado levemente para o lado, como se ele esperasse alguma ação minha.
- Fique a vontade. – Ele virou de costas e pude ver uma imagem gigante do símbolo da justiça, era tão bonito que eu não conseguia tirar os olhos. Eu quis olhar por mais tempo, até que ele se virou de frente novamente. Meus dedos não resistiram e correram pelo azul do desenho que estava em seu peito. Era uma espécie de desenho bem elaborado com caveiras mexicanas e pistolas. Em seu abdome, do lado direito, havia uma cruz . Minha mão corria sem nenhuma vergonha por aquelas partes, não era por seu corpo, era por seus desenhos. Eram lindos.
Nem percebia que eu me aproximava lentamente dele. Que quando consegui sair daquela confusão de cores, daquela vontade de apertar, arranhar, morder, beijar eu já estava com meu rosto próximo ao dele. Quando levantei os olhos senti a ponta de meu nariz roçar nos dele. Seus olhos estavam presos nos meus, presos em qualquer movimento que eu fazia até quando meus olhos moviam alguns milímetros ele estava observando.
- Meu caderno. – Eu disse quebrando o clima, quebrando tudo e dando um passo para trás com meus olhos duros e fixos nos seus.
Ele não entendeu. Em seu lugar eu também não entenderia, mas não estava ali para explicar nada a ninguém. Apenas cruzei os braços e estendi minha mão. Ele se abaixou e pegou o caderno no chão, colocando a camisa no corpo logo em seguida. Meu caderno estava em sua mão, mas eu nem havia notado que ele chegou segurando o tal. Só sabia olhar para seu corpo, para sua roupa, para seus olhos.
Senti-me desprezível.
Alex não disse mais nada, apenas deu um beijo na minha testa e saiu pela porta.
Pelo vidro da porta eu conseguia ver que ele apenas se ajoelhou, colocou os sapatos e subiu na moto. Pude ver sua moto roncando, mas fiquei ali, sentindo o toque dos seus lábios macios, acompanhados pela forma que sua barba rala me espetava.

3 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. ELES TEM QUE FICAR JUNTOS S2

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  3. e a pergunta: SERÁ QUE ELE LEU??????????
    hahahahahahaha fiquei apavorada junto com ela hahaha

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