Criminal: Capítulo 3 - Alors On Danse


“Qu'en tu crois enfin que tu t'en sors quand y en a plus et ben y en a encore!” (Stromae)

“Sozinha em casa”, sentimento bom nas primeiras 48 horas, depois vem aquele sentimento terrível e devastador de solidão. E lá estava eu, sentada no balcão da cozinha, porque na copa aquele sentimento de vazio ficaria ainda maior, comendo besteira sozinha. Já havia almoçado comida chinesa e estava fazendo arte na cozinha para sustentar aquela sensação de que eu estava pra lá de chateada.
“Mente vazia é oficina do Diabo”, diria minha avó. Se eu pudesse falar com ela diria que a pobrezinha estava corretíssima. Foi só ficar sozinha com meu sorvete que comecei a pensar em Alex. Comecei a pensar em seu braço, forte, marcado de veias e músculos, pensei em seus olhos castanhos, em sua voz grossa e falando comigo como se fosse uma provocação. Meu corpo inteirinho ficou arrepiado enquanto eu fechava os olhos e sentia aquela sensação de excitação correr pelo meu corpo. Mordi o lábio inferior por puro reflexo e me arrependi.
Por algum tempo fiquei olhando para a taça vazia com os restos do sorvete, encarando como se tivesse pensando em várias coisas, mas não estava pensando em nada, estava tentando limpar minha mente. Fechei os olhos, respirei fundo, me levantei lembrando todas as formas de se livrar de pensamentos como aqueles. As formas que a minha psicóloga havia me ensinado de dar vazão aos meus sentimentos nunca falhava.
Minha bicicleta quase “capotou” no caminho da escola quando uma moto me cortou. Primeiramente achei que fosse só um louco correndo desenfreado no meio das ruas com sua Thriumph preta fosca.
- Seu otário de merda! Olha pra onde anda! – Gritei. O asfalto estava molhado, o que ajudou os pneus a derraparem e escorregarem. Além disso havia uma poça no canto da rua, esbarrei nela e a água molhou minha camisa social e meu blazer. O mico era ainda maior quando eu usava um sutiã de oncinha ridículo, mas o mais confortável do mundo, que ficou bem visível. O motociclista levantou a viseira do capacete eu pude ver aqueles olhos escuros me encarando. Ele usava um casaco de couro e por isso não reconheci quem era antes. Eu reconheceria seus braços fortes em qualquer lugar do mundo se eu pudesse vê-los.
- Desculpe mocinha, eu estava prestando a atenção, você que não estava. Posso saber no que você estava pensando? – Mostrei meu dedo do meio pra ele por puro instinto. Era dessa forma que eu agia com homens como Alex. Estava com tanta raiva que estava até ignorando o fato dele estar dando constantes olhares furtivos e intensos para meus seios. Antes que pudesse agir e dar um soco na cara dele voltei a pedalar entrando no estacionamento da escola e indo até a vaga de bicicletas esperando que o vento do caminho curto secasse alguma coisa da minha camisa. Tentei ir rápido, evitando os olhares, ninguém estava vendo, mas eu não me importava. Eu tinha medo.
Tinha medo de muitas coisas e boa parte disso veio da minha criação.
Na Idade Média o medo era a melhor forma de controlar a população “vocês vão para o inferno se pecarem” dizia o padre aos fiéis súditos da igreja daquela época. Eles não sabiam ler, não poderiam interpretar a bíblia ao seu modo e não poderiam constatar se iam mesmo para o inferno. Da mesma forma educam muitos pais, da mesma forma educam os meus pais.
Desde o “se comporte se não você não o bicho-papão vai te pegar.” até o “se você fizer isso vai ficar de castigo!” dessa forma eu não tinha para onde correr e ficava presa nos meus medos e neles. O que me acarretou tantos problemas, hoje eu temia tudo e lutava para libertar de meus próprios preconceitos.
Assim que encostei a bicicleta, antes mesmo de acorrentar a bicicleta, fechei o blazer. Não queria ninguém olhando para meu sutiã, para meu mico. Não queria dar pano para manga para que Carrie ficasse falando mais merda sobre mim. Estava profundamente cansada dela, de Alex, daquele lugar, da solidão, da minha vida, enfim estava cansada de tudo. Quinta-feira era o dia da semana que eu estava no auge da minha falta de paciência. Eu tinha meus motivos. E aquele dia era uma quinta-feira.
Depois que acorrentei minha bicicleta não consegui dar nem três passos até que senti Alex se aproximar de mim. Ele era bem alto em comparação a mim, pois senti seu enorme corpo se encostar atrás do meu como uma fera devora sua pequena presa.
Naquele momento notei que seu casaco á não estava no corpo e sim no braço direito notei que na altura do ombro havia uma tatuagem, me chamou a atenção pelo que estava escrito: “haiduc”. Meu conhecimento em romeno era pouco, mas eu sabia que aquilo significava “fugitivo” e com a fonte que ela foi escrita me lembrava perfeitamente uma tatuagem de bandido, gângster, criminoso.
- Não quer ajuda pra secar isso daqui? – Ele disse apontando para dentro do blazer, onde a camisa ainda estava molhada e grudando da minha pele de uma forma que me irritava profundamente.
- Secar? Você? Com o que? Com a língua? – Eu só notei que tinha falado besteira depois que soltei, pus minha mão na boca. Alex ficou perfeitamente satisfeito com aquela reação, deu um desses sorrisos de lado que ele sabia muito bem como fazer, e eu sabia que ele fazia porque o vi lançando para outras meninas, ato que somente alimentava minha fúria.
- Olha... Eu nem estava pensando nisso. Pensei em só mandar você tirar e ficar sem, deve estar incomodando né? Mas já que você deu essa ideia, também me satisfaz. – Revirei os olhos e bufei a presença dele estava me consumindo. A forma que ele me olhava, como se eu fosse comida, estava acabando comigo.
- Sabe o que está me incomodando? Você. – Disse olhando nos olhos dele, de certo modo eu sabia que estava deixando ele desapontado. Eu sabia que ele estava insatisfeito por eu ser a única mulher naquela escola que desprezava ele. – Eu te conheço há poucos dias e você está sugerindo que quer me assediar.
- Mas a senhora fala bonito... - Ele estava esgotando com a minha paciência, comecei a acelerar o passo para tentar me livrar dele eu sabia que estava falhando, porém continuava tentando. – Falar bonito não te livra do fato que foi você que sugeriu que queria ser assediada. Eu só estou... Alimentando sua imaginação.
Fiquei indignada, saí marchando sem dizer mais nada, sem retrucar e ele me deixou em paz.
Alex ficou parado na porta do colégio, tirou um maço de cigarros do bolso e acendeu. Seus movimentos eram rápidos, quando eu me virei daquele movimento ele estava soltando a densa fumaça no ar úmido daquele dia, o olhar que era para ser furtivo, mas acabou se tornando longo como se eu estivesse apreciando aquele ato.
Corri para o banheiro, sabia que iria me atrasar por ficar secando minha camisa no secador de mãos do banheiro.
Tudo culpa de Alex Turner.

- Você me disse que está escrevendo coisas sobre esse rapaz. – A sala era escura, pintada de vermelho-cereja. Minha psicóloga era fã de romances obscuros, ela tinha um busto de Bram Stoker e outro de Edgar Allan Poe em sua escrivaninha. Foi por causa dela que eu comecei  a escrever de verdade, para espantar meus demônios. E inclusive a tatuagem que cobria meu antebraço era um anjo abrindo suas asas enquanto em baixo estava escrito: “amo, amas, amat.”. E era justamente pelo sentimento de libertação que eu sentia quando escrevia, mas infelizmente essa sensação ficava apenas no meu hobby.
- É, eu tenho. – Disse um pouco triste por ter que admitir aquilo. Odiava admitir coisas.
- Posso dar uma olhada? – O conteúdo do que eu vinha escrevendo era estritamente erótico. Estritamente sexual e carnal. Se eu engatasse algum tipo de relacionamento com ele seria somente sexo. Elizabeth, minha psicóloga, deu uma lida no texto, ela estava lendo com cuidando, buscando sinais que ela pudesse assimilar e dizer algo sobre. Eu fiquei nervosa. O texto que eu havia entregado a ela era justamente o texto que falava sobre a continuação do incidente do dia anterior. A continuação que teria acontecido caso eu tivesse cedido. Caso eu tivesse levado ele para o quarto de limpeza em baixo da escadaria do terceiro corredor. O terceiro corredor era um corredor escondido da escola, ninguém usava muito durante a manhã porque era onde ficavam as salas das oficinas de artes que só funcionavam durante a tarde. E pra melhorar, como ninguém usava, logo ninguém limpava da mesma maneira que limpava o corredor principal, assim o lugar mais seguro para ter uma experiência mais intensa com alguém era ali.
Eu havia descoberto aquilo enquanto vagava a escola sozinha, apenas para conhecer.
E tudo o que eu estava pensando era em ver realmente Alex secando meu corpo com a língua.
- E aquele menino, o Jamie? – “Jamie” aquele nome me despertou dos meus devaneios profanos e me fez piscar os olhos três vezes seguidas até eu recuperar a sanidade.
- Jamie? Ah o Jamie... Vou encontrar com ele amanhã. – Ela deu um sorrisinho de quem sabia o que estava passando na minha cabeça.
- Amanhã é? – Eu veria Jamie e Alex no mesmo dia. Meu coração acelerou, comecei a suar, sentir minhas mãos ficarem úmidas.
- Eu pretendo engatar num relacionamento com Jamie logo, Eliza.
- Quer fugir de Alex?
- Quero. Muito.

2 comentários:

  1. Cara, eu não ouvia essa musica ha um tempao que nostalgia hahahahah
    Capítulo ótimo, to adorando sua historia <3

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  2. bella diva sexy do amf hahahahah
    gente, que sensuaaaaaal se peguem logoooo

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