Criminal: Capítulo 2 - Whatever, Whenever


(Nota da autora: Se você se sente incomodada em imaginar o Alex numa escola, acredite, é exatamente essa sensação que eu quero causar, imagine a protagonista vendo um homem daqueles na escola, como vocês iriam ficar? Pois é)
“Baby I would climb the Andes solely to count the freckles on your body” (Shakira)


- Então eu passo na sua casa sábado à tarde? – Fiz que sim com a cabeça, eu tinha outro caderno que poderia ir escrevendo as coisas enquanto ele estava com as minhas coisas, não me importava de ajudá-lo enquanto isso. Entreguei o caderno roxo com capa de couro para ele enquanto subia na bicicleta. O uniforme do Duchesne Institute era tudo, principalmente desconfortável, aquele blazer, aquela saia, aquela camisa social, eu me sentia em Hogwarts e posta na casa errada. Então quando a aula terminava, eu ia para o vestiário da quadra, tomava um banho frio e mudava de roupa, o que fazia com que as pessoas achassem que eu era maluca por tomar banho demais, mas eu não ligava.
Eu havia escolhido uma camiseta do meu time, o Liverpool que era longa o bastante para cobrir minha bunda enquanto eu vestia uma dessas yoga pants, mas mesmo vestida daquele jeito pude notar que Alex tinha seus olhos em minhas coxas, não conseguia deixar de me perguntar o que ele via nelas, mas aquilo apenas confirmou para mim um fato que já estava consumado: ele não prestava.
- Tudo bem. Muito cuidado. – Disse enquanto ele piscava um olho, de uma forma que segundo minha mais nova paranoia mental era para me enlouquecer ou seduzir, mas eu não cairia nessa. Acenei, logo engatando com a minha bicicleta para sumir dali, da frente daquele rapaz e daquela série de zunidos que viam das pessoas daquela escola. Eu não tinha a menor intenção de ir direto para casa, antes eu iria a Lott University, que era uma universidade muito concorrida e dona de um dos melhores cursos de Medicina em Londres, tão concorrido que tinha uma prova até para entrar pro curso preparatório, que era uma espécie de último ano do ensino médio, dava diploma e tudo, mas era apenas para aqueles que estavam realmente interessados em cursar a universidade após o término. Uma das alunas do curso era a minha melhor amiga, e também prima, Lola. E claro que eu tinha intenções de ver o meu homem dos sonhos, aquele que eu sabia que nunca se compararia ao Alex, que era o Jamie. Jamie Cook. Era um bônus e uma motivação perfeita para que eu pedalasse no meio do caos que era o trânsito londrino, não era só pela Lola, que apesar de eu amar muito não era motivo suficiente, principalmente quando eu poderia visitá-la sempre.
Desde conheci Lorde e ouvi algumas músicas de seu CD, Pure Heroine, percebi o quanto ela me entendia e comecei a escutar com frequência no meu caminho louco por Londres. Eu definia como louco por muitos motoristas me xingarem, dizendo que eu dirigia como uma americana por correr mais do que o permitido e na mão errada.
O turno matutino da universidade terminava alguns minutos mais tarde que o turno do meu colégio, e era tempo o suficiente para eu estacionar calmamente na frente do enorme prédio de esquina, cinzento, tradicional e com uma destoante arquitetura francesa.
Mas para Lola nunca era o suficiente. Ela estava ali, sentada, com os braços cruzados e usando uma dessas camisas geek que ela gostava.
- Demorou muito. – Ela sempre dizia isso, até quando eu chegava absurdamente cedo para nossas saídas.
- Sinto muito, vossa alteza. – Fiz uma reverência ridícula, mas fez com que ela acabasse rindo. Lola rindo era um som maravilhoso para mim, e com a situação que vínhamos passando nos últimos meses era um milagre. – Prometo não demorar na próxima vez.  – Ela me abraçou, não era muito de demonstrar carinho, mas demonstrou naquele momento. Fechei os olhos e senti seu corpo magro tocar no meu, suas mãos fazer carinho em minhas costas e eu podia sentir a sua dor. Mordi o meu lábio inferior e tentei segurar minha vontade de chorar.
- Ouvi o que parecia ser um sorriso enquanto ela me soltava e apontava com a cabeça par um ponto que estava atrás de mim.
- Libbie? – Ouvi uma voz que conhecia bem, aquela voz sorridente, linda, sempre animada com alguma coisa. A voz do homem que eu irrevogavelmente iria me casar com. Eu me virei e o abracei também. Apesar do tempo frio e da leve garoa, que sempre existia em Londres, meu corpo estava aquecido pela série de abraços. Jamie tinha braços levemente fortes, firmes, mãos grandes. Por algum motivo estava usando um jaleco, que me fazia imaginar como seria se eu me casasse com ele e o visse vestido daquele jeito todas as manhãs.
- Jamie! Que ótimo te rever, faz tempo que não te encontro. – E fazia mesmo, principalmente quando a “irmãzinha” dele, a Anne, era minha colega de turma. E ela me odiava da forma mais profunda, e profana, que um ser humano poderia odiar outro. Motivo? Nenhum.
Eu, Jamie, Anne e Lola fomos criados quase juntos. A minha família e a dele eram super amigas, uma coisa ao melhor estilo “família burguesa tradicional”, apesar do meu pai não ser lá muito fã dessas coisas ele não gostava de discutir sobre o assunto com a minha mãe. Jamie e eu estávamos destinados, de forma definitiva e irrevogável, a ficarmos juntos. Não apenas porque ele era um verdadeiro príncipe e sinônimo de estabilidade, mas porque nossas famílias eram amigas e desde pequena minha mãe diz que eu devo me casar com ele. Graças a Deus a puberdade não me decepcionou e o transformou o patinho feio num belo cisne.
Ele viu Lola e acenou com a cabeça, estendendo seu braço para cumprimentá-la.
- E aí, como vai seu irmão? – A pergunta não era para mim, era para Lola. O irmão dela, Matt, era o motivo da nossa fase ruim. Matt era tudo o que eu sempre quis ser. Rebelde sem causa, louco, um destruidor de corações em série. O cara que te olha nos olhos e você sente que ele tem gosto de aventura. Lola e Matt não são parecidos. Há uma piada interna dentro da família que diz que ela foi trocada na maternidade, porque ambos não se parecem nem um pouquinho. O que apenas fez com que Lola não tivesse pesar nenhum de acabar se sentindo atraída pelo próprio irmão. O dito irmão, afinal nem ela acreditava.
Ela poderia entrar muito bem na lista de pessoas que sofreram abuso dentro da família. Alguns anos, ela tinha seus 13 e ele seus 16, Matt chegou bêbado e durante uma tentativa de banho, para ajudá-lo a se recuperar ele beijou e passou a mão onde não deveria enquanto dizia coisas como “eu sempre quis fazer isso”. Lola poderia ter feito cena, mas ela gostou.
Não rolou nada depois daquilo. Matt lembrava, se desculpou mil vezes no dia seguinte, mas ambos combinaram nunca mais tocar naquilo. E foi assunto encerrado.
Mas Matt se apaixonou e se relacionou com outras pessoas depois daquilo. Logo ele que jurava que nunca iria se apaixonar por ninguém se apaixonou justamente por uma mulher que acabou com ele. Amores intensos atingem naquelas pessoas que justamente pareciam imunes a tal sentimento. Ele tentou se matar após beber e ingerir cocaína demais. Trancou-se dentro da garagem e ligou o carro. A minha tia chegou a tempo, mas ele foi para uma clínica de reabilitação se tratar antes que tudo viesse a piorar.
- Melhorando, o médico diminui os remédios para ansiedade e depressão, ele já está conseguindo dormir e provavelmente voltará para casa em menos de um mês. – Lola disse, tentando sorrir, apenas tentando já que falar em Matt perto dela é pedir para ver as lágrimas formarem em seus olhos.
- Sinto muito por isso. – Jamie torceu os lábios e mordeu o inferior em seguida. Tudo o que ele fazia era de uma forma doce, mas incrivelmente sexy.
- É... Jamie? Eu posso te ver sábado? De noite? A gente podia sair de novo, ir pra algum lugar e você me emprestar aqueles livros que você me prometeu. – Mudei o assunto, o foco, queria que Lola ficasse feliz em ver eu tomando atitude, afinal ela insistentemente dizia que eu deveria fazer isso. Ela sorriu, fiquei grata internamente por isso.
- Claro, mas você não vai se importar se eu não puder ficar não é? Marquei de ir tomar uma cerveja com os meninos no mesmo dia. – Meus pais estavam fora por um mês, eles estavam fazendo uma espécie de segunda lua-de-mel, visitando uma série de países que não visitaram porque eu acabei nascendo antes que o negócio do meu pai engatasse verdadeiramente.
- Claro que não. Estou sozinha em casa, tenho que demonstrar serviço e mente boa se não meus pais nunca mais confiarão em mim. – Jamie deu uma risadinha, pôs suas mãos no bolso do jaleco e moveu levemente seu corpo para o lado daquele jeitinho fofo um modo que só ele sabia fazer.
Ouvimos uma buzina familiar, Jamie moveu seu corpo para trás, um pouco surpreendido e viu que era sua mãe, que apesar dele ter seu próprio carro, sabia que a mimada nojenta da Anne não aguentava esperar a diferença de 15 minutos dos horários de saída Lott para a Duchesne, acrescentando com o trânsito e fazia com que a mãe a buscasse na escola ao invés do irmão. Esse era apenas mais um motivo pelo qual eu a desprezava.
- Liberty Black! – Ela me insistia em me chamar pelo nome e sobrenome, trazendo a identidade da minha família à tona. Ela era dessas que gostava de ostentar e gritar ao mundo que era casada com um herdeiro multimilionário e que era amiga de outras pessoas influentes, como se sua roupa já não fosse outdoor o bastante. Mas eu gostava dela, era como se ela fosse uma versão legal da filha demoníaca dela.
- Senhora Cook, quanto tempo! – E dessa vez fazia bastante tempo mesmo, apesar de eu encontrar com Jamie pela cidade era mais difícil esbarrar com ela.
- Você está linda, diferente... Seu estilo... – Ela espremeu os olhos, provavelmente não chamando a atenção para minha roupa tipicamente esportiva, mas para o meu cabelo, para meus anéis e para a cor escura no esmalte que preenchia meus dedos. E claro, para a tatuagem que eu tinha e que estava cobrindo meu antebraço direito. Aquilo foi a última loucura que Matt fez comigo antes do término com a ex.
- Gostou? – Eu gostava de provocar as pessoas assim, principalmente com Anne no banco de trás. Ela não era nada pra mim até começar a estudar comigo. Eu vi o olhar de cão raivoso que ela me soltou e aquilo me deixou ótima por dentro.
- É interessante, viu? – Sorri enquanto Jamie entrava no banco da frente ao lado dela e acenava se despedindo. – Temos que ir agora, foi um prazer te reencontrar, Liberty. – Acenei positivamente com a cabeça enquanto o carro olhava para Lola.
- Você não está com fome não? – Minha barriga roncou contra minha própria vontade. Eu que tinha mania de negar as coisas, não consegui negar a fome que sentia.
- Pode ir, tenho turno agora a tarde, vou almoçar no Pizza Hut. – Estávamos indo bem, mas eu via nos olhos de Lola que ela não estava na mesma aura positiva de antes, a lembrança de Matt estraçalhou com seu equilibro. Não a culpava, mas era lastimável. Torci meus lábios, beijei sua bochecha, subi na bicicleta novamente prestes a voltar para minha solidão pessoal.

2 comentários:

  1. Valeu por subir tão rapido, capitulo incrivel.

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  2. ai bells, to apaixonada
    essa fic é tão diferente, eu to amando *----*

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