Seen It All: 06 - Wavin Bye to The Train or The Bus?

Acordei com o som de passos e falas em plena manhã, quando planejava dormir até mais tarde devido ao nível de cansaço que o dia anterior havia me rendido. Espiei o celular. 8:47.

Revirei os olhos.

- Você pode subir querido. Dê um jeito nessa dorminhoca! Eu vou comprar pães para o café, se não vamos ter uma senhorita mal-humorada hoje! – Ouvi a voz de Sofi. Minha tia já sabia o efeito que a comida tinha em mim.

Me ajeitei na cama e fechei os olhos novamente. Desci um pouco a camiseta que me cobria, e me enrolei no lençol. Esperei. A qualquer momento a partir de agora... Será que meu cabelo estava bagunçado demais?

 Ouvi passos e minha porta sendo lentamente aberta. Então o estrondo veio e eu dei um pulo na cama, já caindo na risada. Ben havia pulado na box que me abrigava e estava fazendo cócegas em mim, hábito que adquiriu desde que minha tia deu liberdade para que entrasse em meu quarto e me acordasse.

- Bom dia Luisa! Já passou da hora de sair dessa cama não acha?!

Como acordar de melhor maneira, não é mesmo?

- How dare you Benjamin!!! – Fingi surpresa.

- Você sempre diz isso...

- E você não muda! – Cocei os olhos. – Vou começar a trancar o meu quarto.

- Você também sempre diz isso, e ainda não o fez... Fico me perguntando por que...

Olhei para ele e nos encaramos. Foi meio desconfortável. Ben me fazia muito bem, eu não podia negar. Mas havia a sua obsessão por algo em particular, que inclui um certo par de pernas e jaqueta preta, estava entre nós. E ele nem sabia.

- É óbvio, eu sempre esqueço. Mas estou decidida a colocar um lembrete na porta só para estragar sua ansiedade. – Sorrimos.

- Ah, claro! Eu finjo que acredito. Anda, vai tomar banho e me conte como foi a visita ontem. Eu fiquei esperando você ligar...

Ele disse e se virou, sentando na cama de costas para mim. Estava sem camisa, e então percebi que na verdade ela estava amarrada à sua cintura. Calçava tênis e seu cabelo estava bagunçado.

- Me desculpe, estava cansada e resolvi me deitar cedo. Já saiu para andar de skate? – Peguei o celular embaixo do travesseiro e posicionei a câmera.

- Sim, aproveitei que hoje amanheceu quente e agradável...

Tirei uma foto dele. Suas costas grandes e ajeitadas ocuparam toda a tela. A pele clara contrastava com o cabelo preto, e seu porte atlético brigava por espaço em seu corpo magro. Era mesmo bonito o garoto Benjamin.

- Lou?

- Sim Ben, eu já estou indo para o banheiro – disse me levantando - mas me dê meia hora porque meu cabelo está uma droga e –

- Não, eu ia te contar algo. – Ele me fez parar e me sentei na cama novamente. Me virei para ele.

- Tudo bem então, me fala.

- Ontem o Alex me ligou bem cedo, logo depois que telefonei para você. Ele disse que vai haver uma live session no Loft essa sexta, e que nós dois estamos convidados.

- É mesmo? – Estava realmente surpresa. Ele não me contara sobre isso em nosso encontro. Senti as palavras dele ricochetearem em mim como chuva torrencial.

“Definitivamente Luisa, não é aqui que terminamos”.

- Sim, sabe, acho que ele está me considerando bastante. É mais do que eu poderia imaginar. – Ele disse realmente animado. Sorri culpada, sabendo a verdadeira intenção daquilo tudo.

- Fico feliz por isso, por estar te fazendo bem. Mas acho que você tem que tomar cuidado com esse cara... Talvez ele não seja bem como você pensa que ele é.

- Por que diz isso?

- Por nada, é só que... Sei lá, as pessoas costumam se mascarar. Você só o conhece pela tevê. Quem sabe agora realmente veja quem ele é. – disse com medo de aparentar razão demais.

Ele silenciou e se deitou na cama, e eu me levantei me dirigindo ao banheiro, aproveitando a deixa.

- Luisa, tem mais uma coisa.

- O que foi? – respondi meio impaciente. Não queria mais falar sobre isso.

- Alex perguntou particularmente sobre você.

- Tá vendo, - bufei - ele pensa que andamos grudados, e a culpa é sua... O que disse? – fingi desinteresse.

- Na hora eu disse que você estava no St. Louis, mas depois tive a impressão de que não deveria ter dito. – Pausou. Eu encarei meus pés. – Ele, por acaso está... Procurando você Luisa?

- Não. – Eu disse de imediato. Ben definitivamente não era alguém com que eu gostaria de conversar sobre Alex. Não deveria ser eu a desapontar suas impressões sobre esse homem.

Definitivamente não seria eu. – Que ideia, por que ele me procuraria!
- Tem certeza?

- Sim, não seja bobo, você seria o primeiro a saber. Pare de me atrasar e saia do meu quarto... Te vejo lá embaixo.

- Tá, tudo bem. – ele quebrou a tensão sorrindo com seus dentinhos pequenos. Se levantou e caminhou até mim me dando um abraço – tocando levemente a parte descoberta das minhas costas. – See ya, little Lou.

Perto dele, eu era mesmo quase pequena.

Fui para o chuveiro pensando onde diabos estava me enfiando.

***

Coloquei um blusão comprido, um microshort preto e umas meias azuis que iam até meus joelhos. Eu tinha várias dessas... O dia estava lindo para uma saída, mas eu pensei em passar a tarde no máximo no jardim de tia Sofi, organizando meu horário de aulas.

Olhei para o celular. Disquei alguns números e ouvi o tu-tu-tu, ansiosa.

- Alô, pai?

- Luisa! Minha querida, quanta saudade de ouvir sua voz... Só os e-mails não são suficientes e você sabe que é complicado ligar daqui praí. – Sua voz aveludada fez meu peito murchar.

- Eu sei papai... Me desculpe por não ter ligado mais vezes. As coisas ainda estão muito novas e excitantes, eu não paro sequer um dia!

- Que bom, eu fico mesmo muito feliz sabendo disso. E sua tia Sofia?

- No momento foi buscar pães para o café. Ela vai bem, trabalhando bastante como sempre, mas sendo tão gentil e amiga comigo... Ai papai, você nem sabe o quanto.

- Sempre foi assim. Me tranquiliza sabendo que ela está com você. Sofi tem o mesmo jeito cuidadoso de sua mãe. – ele respirou pesadamente. Eu também – O que está fazendo filha?

- Acabei de tomar banho, vou passar o dia em casa. Estava com saudade da sua voz, só isso. Ah! Ontem visitei a universidade! É linda, tão clássica e moderna ao mesmo tempo! E o pessoal, os professores... Já estão organizando um projeto para o início das aulas. Estou tão animada pai!

- Que coisa boa de se ouvir! Desejo as melhores coisas para você Luisa. Promete que está se cuidando?

- Claro pai. – Disse, e vi meu reflexo se confundir no espelho. – Eu te amo, tá bem?

- Eu também te amo filha. Até logo.

Desliguei o telefone e desci, encontrando Ben e uma Sofia em polvorosa, contando algo sobre a vizinha que acabara de levar um tombo no caminho da padaria.

***

Mais tarde recebi um sms de Julie Brooke, combinando um café comigo. Sugeri o mesmo café do dia anterior, e ela aceitou feliz pois ficava perto da casa dela.

Ao entrar pela porta barulhenta, Julie espalhou luz e beleza pelo pequeno estabelecimento e atraiu olhares. Seus cabelos ruivos se escondiam embaixo de uma boina ainda mais vermelha, e chacoalhavam ondulados até sua cintura. O batom escuro destacava ainda mais sua pele clara, e ela caminhava como uma top model apesar da estatura mais baixa.

- É tão bom te ver de novo! – sua voz macia se vez cintilar pelo ar.

- Digo o mesmo! Como tem passado? – Respondi pensando que minha mania de usar roupas comuns demais estava começando a me irritar.

- Muito bem, e estou cheia de novidades!

Pedimos chocolates quentes e biscoitos, e a conversa fluiu como nunca pensei que poderia ter sido. Julie era um amor de garota apesar do semblante mais do que amadurecido. Contei um pouco mais sobre o Brasil, e ela me revelou que havia passado uma temporada no Rio de Janeiro, e que havia amado as praias cariocas. Além do mais estava noiva há alguns anos, e planejava se casar em breve. O noivo era seu primeiro namorado.

- Que história mais incrível! Eu acho que não tenho vocação para um conto de fadas dessa maneira... - Disse curiosa, e impressionada.

- Imagina, não começou como um conto de fadas se quer saber. – Disse entre sorrisos. – Phillip estudou comigo no ensino médio, e nós mal nos falávamos. Até que no último ano acabamos ficando juntos para um trabalho em duplas, e eu fiz a maior parte de tudo, ficando com raiva da preguiça dele, é claro! Brigamos bastante, mas no fim levamos a maior nota da sala. Ele me chamou para o um cinema para comemorar, e depois do filme se declarou para mim! Acabou que eu achava ele um gatinho mesmo, com os óculos fundo de garrafa e franja nos olhos... – Ela suspirava. - Enfim, estamos aqui até hoje. Mas e você Lou, vai me dizer que não tem ninguém?

Eu sorri amarelo.

- Não, claro que não... Eu tive um namoradinho no segundo ano, mas mudou de cidade depois de três meses. – Sorri me lembrando da minha sorte amorosa desde então. – Tive alguma coisa depois disso, mas nada sério. Na verdade, me sinto bem assim.

- Garanto que a vida a dois não é tão assustadora quanto se pensa... Você vai encontrar seu amor um dia. – Ela disse afetada. Julie vivia a tanto tempo em uma vida a dois que parecia ter se comovido com a minha solidão conjugal.

- Tudo bem, quem sabe... – Eu respondi tentando parecer positiva.

O assunto seguiu por mais algum tempo. Falamos sobre nossas carreiras em fim, e ela me contou que na verdade já era formada em cinema, e agora queria aprimorar seu currículo se especializando em fotografia e direção de arte.

- Sobre o nosso trabalho, eu tenho que te contar! Como sou a líder do grupo, recebi um email com as diretrizes do ensaio. Mas precisamos encontrar uma pessoa para ser modelo das fotos, e de acordo com o nosso tema, deve ser uma garota. Vim avisar que você automaticamente está pré-selecionada. – Ela disse super sorridente.

Eu ri e bufei em resposta.

- Ah claro, e vão me escolher com toda certeza, perto de você eu pareço um papel em branco!

- Pois saiba que eu não vou participar da seleção devido a minha condição de diretora. Vou conduzir o ensaio... Mas existem mais meninas no grupo, a Claire, a Anne, a Beatrice e a... Stephanie, isso. Bom, a votação vai ocorrer virtualmente mesmo, entre os próprios membros do grupo, eu já preparei tudo. O resultado sai no fim de semana.

- Tha knows... – suspirei fingindo um drama. Ela me encarou e gargalhamos.

Terminamos o lanche e já estava escurecendo. Decidi ir embora, mas dessa vez iria de metrô. Saímos do St. Louis cobertas em casacos pesados, o de Julie um charme aparte, com estampa de coelhos.

- Lou, eu acho que vamos ser boas amigas sabe? Adorei você desde o começo! – ela se virou para mim e eu pude ver sinceridade.

Fazia tempo que eu não tinha uma amiga. Tia Sofi era uma mãemiga para mim, mas eu não podia contar tudo pra ela... Não todas as coisas que estavam acontecendo.

- Eu também acho Julie. – Sorri em resposta. Nos despedimos com um abraço cheio de risadas, e ela saiu em direção ao seu pequeno NewBeetle azul.

Dei as costas para o café, e caminhei rumo à estação de metrô, observando o vai e vem dos carros e seus faróis se confundindo com o brilho das estrelas.

***

N/A: Meninas, minhas queridas. Eu disse que voltaria em um mês, e cá estou, um pouquinho adiantada. Lidar com a faculdade nesse fim de semestre tem sido muito desgastante, mas a fic está fluindo como água de nascente, e meus dias têm sido mais gostosos com ela.

Gostaria muito de saber mais sobre o que estão achando.

Agradeço desde já os comentários.

Beijos.

PS: Como esse é pequeno, o próximo vem sábado. Até!

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