Stuck On the Puzzle 02: Two Fingers.

N/A: Esse capítulo ficou meio bosta, mas postei por causa dos lindos comentários que recebi no prólogo. Boa leitura!







A viagem fora tranquila, fora certas turbulências. Meu corpo ainda doía pelo mau jeito em que dormi e isso dificultou um pouco as coisas.


No momento em que descemos do avião, senti vontade imediata de tirar o casaco e jogar ele para longe. Era outro clima, completamente diferente. O que significava que eu precisaria de roupas novas. O céu, porém, estava nublado, então torci para que chovesse mais tarde.


A pior parte de viajar é ter que esperar um século inteiro para pegar as malas. E dessa vez, tinha o negócio do visto, para completar a desgraça de desperdiçar meu tempo em um aeroporto.


“L.A., baby” disse André, enquanto colocava seus óculos escuros. Aquilo me fez rir.


Demorou, mas conseguimos sair daquele lugar chato e pegar um táxi. Quando vi, era uma hora da manhã e eu estava (mas não totalmente) sem sono. Digo, estava cansada, óbvio. Mas não estava chegando ao ponto de implorar por uma cama.



Mentira, eu estava sim. Eu já previa a bagunça que minha vida se tornaria por um mês para eu me acostumar com o novo fuso horário.


André disse o endereço ao taxista e ele pisou fundo. No caminho, até conversaram. Aquele cara estava feliz demais para alguém que estava trabalhando de madrugada.


A casa ficava num subúrbio, aquele lugar onde todas as casas são praticamente juntas e iguais. Temi que fosse acordar a mãe, mas a luz que atravessava o vidro dizia outra coisa. André pagou o táxi e, por fim, descemos com as malas até a porta.


Ding-dong, tocou a campainha. Logo em seguida, uma mãe loura com olheiras apareceu, vestindo apenas um roupão lilás.


“Oi, mãe” eu e André dissemos em uníssono.


“Crianças!” ela praticamente berrou, nos esmagando. “Entrem, entrem! Fiquem à vontade!”


“Obrigado, mãe. Estava com saudades.”


“Eu também, querido. E você, Marine? Como cresceu!”


Apenas sorri. Sério. Não sabia o que dizer.


Depois de comermos e pôr inúmeros assuntos em dia, mamãe acordou o namorado, Jimmy, para ajudar com as malas.


“Marine, já que não sobraram quartos” pronto, fodeu. “Pensei em deixar o sótão para você” opa!


“Obrigada, mãe, adorei o presente” é claro, um quarto no sótão era uma recompensa para essa viagem cansativa. “Inclusive, já vou dormir. Tenho muito pôster pra colar amanhã.”


“Certo. Só peço que não se assuste caso ouça algum barulho mais tarde.”


“Por que?” questionei. “Contratou algum assaltante?”


“Não, querida. É que... Ellie ainda não chegou.”


“Ah.”


E foi exatamente após minha fala que uma Ellie bem tonta atravessou pela porta. Ao nos ver, soltou um riso um tanto quanto alto.


“Aaaaannndréé! Mariiiiina!”


“É Marine. Bom te ver também.”


Ellie tropeçou no tapete mas foi salva pelos reflexos vindos de mim e de André, cujos foram rápidos como a luz e fizeram com que nós carregássemos a bebum a tempo.


O cheiro de álcool logo penetrou minhas narinas, me fazendo quase cair junto com ela. Por Deus, ela havia bebido muito.


“Els, vá tomar um banho” disse Jimmy, na maior tranquilidade.


Ok. Isso foi estranho. Quem caralhos vê a própria filha chegando tarde em casa, ainda por cima bêbada, e não faz nada?


Eu olhei para Ellie sendo carregada enquanto seu vômito caía pela escada a cada degrau subido por André. Ao mesmo tempo eu pensava em ir dormir (é mesmo!), me convencendo de que aquilo era o certo a fazer. Eis que minha mãe se pronuncia:


“Ela não toma jeito, Marine. Todo final de semana é isso.”


“Ela... Tem namorado, mãe?” perguntei, logo depois me arrependendo. Porque logo pensei na possibilidade de ela ter um namorado drogado.


Mamãe ficou quieta, observando a fumaça do seu cigarro flutuar ao redor de si. Foi quando reparei que ela também havia mudado bastante. Não parecia mais aquela morena com cara de nova e feliz. Havia realizado seu sonho, seria Ellie o motivo de seu estado?


“Mãe? Você está bem?”


Ela piscou e direcionou seu olhar para mim, voltando à realidade. Pelo menos foi o que pareceu, afinal, parecia pensativa.


“Oh, filha, estou ótima. Não se preocupe comigo. Respondendo à sua pergunta inicial... E-eu não sei.”


A pobre coitada parecia bem mal. Mas não fiz nada, era melhor deixar quieto. Todas as vezes em que tentei ajudar alguém acabei piorando as coisas, e a última pessoa com quem faria isso seria minha própria mãe.


“Boa noite, mãe”, eu disse. Só que eu não tinha me direcionado para o quarto, e sim para a cozinha.


As únicas vezes em que estive naquela casa foram em três épocas de folga, no máximo. Portanto, ainda tinha muito a descobrir por ali. Até o cheiro me estranhava, mas eu sabia que logo iria acha-lo normal. Isso também explica o fato de Ellie confundir meu nome. Ela e André são mais íntimos, por isso estou até prevendo nós duas saindo juntos forçadamente por pedido de nossa mãe. Porque sinceramente, na última vez que a vi não demos nem uma palavra por pura falta de interesse uma na outra.


Pensei em parar de ser negativa. É. Talvez isso funcione. Quem sabe Ellie mudou? Não sou a mesma pessoa que eu era três meses atrás, quem dirá minha meia-irmã mais velha. Infelizmente, André continuava o mesmo trouxa de sempre. A única diferença é que, de uns meses para cá, ele passou a escutar hip-hop e rap nacional. Caras tipo Emicida e Rashid. Admito, eu gosto de algumas músicas, exceto quando ele coloca no último volume e não me deixa concentrar no que eu estou fazendo, seja lá o que for.


Abri a geladeira (que graças aos céus estava cheia) e peguei o jarro de água. Derramei um pouco num copo azul-claro de plástico que achei perto da pia e bebi.


“Cresceu, hein?” disse Jimmy, me assustando um pouco.


“Foi mal, não te vi entrando.”


It’s ok.” falou, enquanto enchia seu copo desta vez. “Fez boa viagem, Mari?”


Revirei os olhos. Eu odiava quando me chamavam de Mari. Mas eu não odeio o Jimmy. Pra um padrasto, até que ele é legal.


“Estou exausta.”


“Então por que não vai dormir?”


Fiquei quieta, até que vomitei palavras demais.


“Não ficou irritado com Ellie?”


Ele riu, derramando o pequeno resto de água no ralo. “Não. Por que eu ficaria?”


“Eu não sei, ela é sua filha e chega tarde e bêbada toda sexta feira? Não fica preocupado?”


“Marine, ela tem vinte e dois anos. Ela sabe o que faz” uau, quem dera ter um pai assim. “É lógico que fico preocupado. Mas ela é apenas uma jovem, olhe para ela. Que vai ser da sua juventude e se eu prende-la em casa?”


“Nunca passou pela sua cabeça que ela pode ser embebedada e sofrer abuso?”


Jimmy respirou fundo. “É exatamente disso que eu estou falando, Marine. Se pensar só nas consequências de sair de casa, não há como aproveitar. Confio nela porque sei que ela é responsável, sei o tipo de lugar que ela frequenta. E outra, boates uma vez ou outra não matam ninguém, certo?”


Fiquei quieta. Mas aquela história ainda não havia me convencido. Só de olhar para Ellie dava para saber que ela estava dançando igual a uma louca numa boate qualquer por aí.


“Ela já fazia isso muito antes de eu conhecer sua mãe. Era só eu e minha filha. Acredite, estamos muito bem. She’s not alone out there.


Sorri fraco, pensando nas suas amigas sóbrias segurando seus cabelos enquanto vomitava em um banheiro sabe-se de lá onde.


“Jimmy, ela tem namorado?”


Mais uma vez, a resposta demorou para sair. Que porra de mistério é esse? Só quero saber uma simples informação.


Ou quero saber demais. Afinal, ainda teríamos que criar uma intimidade e eu não me dava muito bem com isso.


“Só sei que mês passado ela disse que estava ficando com um guitarrista.”


“Um guitarrista? Nossa. Ele faz parte de alguma banda local?”


“Acho que não. Mas a banda também não é tão famosa assim.”


“Qual o nome da banda dele?”


“Não me lembro. Para falar a verdade, acho que ela nem nos disse. Ela não gosta muito de apresentar seus casos amorosos à família dela.”


“Entendo” ri. “É, já passou da hora. Até amanhã, Jimmy.”


“Boa noite, Mari.”


Pedi licença para a mãe enquanto subia a escada, já que ela estava ocupada limpando o vômito. Olhei para os dois lados do corredor e vi que uma cordinha estava presa ao teto do lado esquerdo. Puxei-a e uma outra escada surgiu com o movimento. Certifiquei-me que estava tudo certo para que eu não caísse dali e subi.


Surpreendemente, o sótão não estava nada sujo. Havia uma janela por onde atravessava a luz abafada da lua, um armário, um móvel e uma cama de casal bem macia. Bem, em um mês ou dois talvez aquele quarto estaria uma obra-prima.


Pelo menos havia uma cama de casal macia, como eu já disse. Aquilo já era mais do que o suficiente.


Como sou curiosa demais para o meu gosto, xeretei as gavetas e tudo o que tinha por ali. Para o meu azar, não encontrei nada além de um cobertor vermelho, sendo que a cama já estava feita.


“Toma juízo, Marine, olha a hora. Vá dormir” pensei, ou pelo menos foi o que minha consciência disse a mim.


O que me fez desobedecer foi o meu celular vibrando no meu bolso. Quando vi, era uma mensagem de Rodrigo.


Rodrigo é meu namorado. Ele é três anos mais velho, é de Floripa e também um dos motivos do porquê de eu querer ficar lá. Nos conhecemos num show do Skank em um festival de música que estava sendo levado para várias partes do país.


Essa é a parte legal de ir em shows. Não importa qual seja, você sempre conhece pessoas novas e faz amizades. Bom, a parte chata é esquecer de pegar o telefone da pessoa. Mas eu e Rodrigo trocamos os nossos números e passamos a sair juntos quase todo sábado. Um dia ele me pediu em namoro e aqui estamos.


Apesar de saber que eu não iria ficar lá para sempre, aceitei porque ele é o cara mais legal que conheço e não é todo dia que um cara super legal quer te namorar, não é? Ele ficou chateado com a notícia, mas não quis terminar mesmo assim. Para ele, a distância é só um obstáculo idiota que muitos casais que nasceram para ficar juntos usam como desculpa para terminar dias de história. Além do mais, nas férias eu poderia voltar para o Brasil e ficar na casa dele. Simples assim.


No SMS, ele me perguntava se estava tudo bem e pedia desculpas se havia me acordado. Sorri igual a uma boba enquanto respondia.



“Não, você não me acordou. Na verdade eu estava indo dormir. Depois reviso esse fuso horário e a gente conversa. Já ‘tô com saudade.”




Bocejei e me deitei na cama, pensando no quanto aquele travesseiro era bom. Desliguei o telefone e escondi-o por baixo daquele monte fofinho. Como sempre, minha mente encheu-se prestes ao sono vir. Então sacudi a cabeça e fechei os olhos, torcendo para que dormisse logo.




N/A:Talvez vocês não acreditem, mas é assim que eu imagino o Rodrigo. Eu ainda não achei uma foto pro quarto da Marine, mas vou continuar procurando e posto aqui em qualquer capítulo. Mas e aí, curiosas pra saber quem é o "namorado" da Ellie?

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