Suck it and see - Capítulo 2

         Fiz sinal para o táxi que passava, tentando equilibrar meu almoço - um sanduíche qualquer e meu copo de café - minha bolsa e o casaco em apenas uma mão. Sai as pressas de casa, vestindo uma combinação de camiseta listrada, jeans de lavagem clara - meu par preferido da Levi's sempre me salvava em situações de desespero como essa - e espadrilhas negras amarradas no tornozelo, foi o melhor que consegui resgatar do fundo de meu guarda-roupas. O veículo parou imediatamente ao meu lado, agradeci mentalmente às forças do universo por pelo menos algo ter dado certo nesse dia horrível.

        

         - MTV Headquarter's, please - Dei a coordenada para o motorista que apenas assentiu ignorando a minha bagunça no banco do passageiro.

         Eu não podia acreditar que Thomas tinha feito aquilo, me mandar entrevistar Alex Turner mesmo sabendo a respeito de nosso relacionamento no passado. Como eu ia encarar ele de novo e ainda por cima ter que fingir ser indiferente na frente das câmeras?

         Não que não pudéssemos ficar no mesmo recinto por ódio ou algo do gênero, a decisão de terminar partiu dos dois depois de ver que as constantes brigas e a ausência quase permanente de Alex por conta das viagens da banda estavam destruindo o respeito que tínhamos pelo um pelo o outro. Depois do término conseguimos manter um certo contato, uma amizade que se resumia a algumas mensagens de texto e e-mails, era como se não conseguisse me desligar totalmente dele.

         Ficava nervosa só de me imaginar frente a frente com ele de novo, talvez não fosse assim com um outro ex qualquer, mas Alex era diferente. O jeito como eu o amei foi diferente, nunca tinha me permitido gostar de alguém sem ter receio de me machucar e foi justamente isso que tornou tudo pior.

         Eu nunca fui o tipo de pessoa que sofre por coração partido, sempre engatei um relacionamento no outro, o que não me dava tempo pra me lamentar pela perda de um namorado já que estava nos braços de outro. Quando terminei a coisa toda com Turner, tive que me virar e reaprender a ser a garota durona que fazia os caras sofrerem. Mas apesar da fama recém adquirida, deixar o nosso apartamento em Williamsburg foi a coisa mais difícil que tive que fazer em toda a minha vida.

        

         ***

        

         - Então é isso - Minha voz ecoou pelo cômodo agora mais vazio pela ausência de minhas coisas.

         Haviam caixas de papelão empilhadas perto da porta, Pixie estava lá pra me ajudar a carregar tudo para o táxi, não havia porquê ter pressa em sumir dali o mais rápido possível, Alex estava em turnê pelo país.

         Não havia ninguém para correr atrás de mim assim que saísse pela porta, ninguém para me abraçar e dizer que me amava mais do que tudo, ninguém para me dizer pra ficar e esquecer a ideia de deixa-lo. Ninguém para me fazer ficar naquele apartamento até o fim de meus dias.

         Mas eu preferi assim, tinha medo de que se olhasse para aqueles olhos castanhos e profundos eu perderia a coragem de ir embora. Eu não podia continuar com Alex e nem ele comigo, já tinha tido essa discussão comigo mesma na frente do espelho mais cedo naquele dia ainda vestindo uma de suas camisetas velhas e puídas. Eu não estava pronta para largar minha vida toda por ele e nem o faria.

        

         - Tudo pronto? - Pixie me perguntou depois de carregar a última caixa para o táxi. Assenti com a cabeça e lancei um último olhar para o local.

         - Sim - Fechei a porta do apartamento e suspirei - Vamos logo, acho que preciso desesperadamente encher a cara.

         - É assim que se fala garota.

        

        

         ***

        

         Comi apressadamente meu sanduíche com gosto de velho, pelo menos o café estava bom - mesmo que um tanto frio. "Que bosta de dia" pensei comigo mesma bufando, eu começava a sentir meus olhos pesarem pelo cansaço, deveria estar um horror com aquela expressão de sono e roupas amassadas, não era como eu imaginava estar quando reencontrasse Alex.

        

         - Chegamos - Disse o motorista, paguei pela corrida e o agradeci desejando-lhe um bom dia. Ele respondeu indiferente e arrancou com o carro quando fechei a porta.

        

         Encarei o grande prédio espelhado a minha frente, eu estava puta com Thomas por ter armado essa para mim, com certeza não passava de um golpe publicitário arranjado por ele e o produtor da banda. Suspirei procurando em vão por um cigarro, mas era inútil, eu jamais esqueceria um maço de cigarros em uma bolsa.

        

         - Que seja então - Disse empurrando a grande porta de vidro e atravessando a recepção do prédio rapidamente, sem me importar em responder a mulher que me desejava boa tarde com um sorriso apático.

        

         Quando sai do elevador pude sentir todos os olhos do andar em mim, com certeza já estavam todos cientes da situação na qual meu produtor me metera e mesmo assim ninguém parecia se importar com o fato de que eu podia escutar todos os comentários a respeito de minha entrevista.

         - Você acha que ela tá assim por causa do… - Perguntou uma garota ruiva para a outra que estava na mesa em frente a sua.

         - Querida, eu também estaria puta se tivesse que entrevistar o meu ex - Interrompeu a loira que jogava seu cabelo escorrido para o lado - Se bem que se fosse eu, não ia me importar se aquele gostoso fosse um canalha comigo.

         Olhei para as duas automaticamente depois de ter escutado o último comentário da loira, ambas se entreolharam constrangidas e voltaram a exercer suas tarefas.

         Parei em frente da porta do escritório de Thomas e respirei profundamente, precisava ser profissional e não deixar uma coisa simples - como entrevistar Alexander em rede aberta, apesar de tudo o que ocorreu - arruinar minha carreira, eu precisava ser o exemplo de educação britânica quando entrasse naquela sala. Tomei fôlego e girei a maçaneta.

         - Bom, aqui estou - Disse erguendo meus braços num gesto teatral tentando ser engraçada, mesmo querendo matar ele - O que quer de mim, Thomas? - Sorri ao final tentando não parecer falsa, mas não tenho certeza se deu certo.

         - Ashley está te esperando com seu script, figurino e maquiadora no camarim 3 - Disse automaticamente, sem tirar os olhos dos papéis sob sua mesa e apertando freneticamente o botão da caneta que tinha em suas mãos fazendo um barulho irritante - Mandei um estagiário fazer anotações a respeito do show, o que nos servirá de material para chamadas entre programas. Você só precisa chegar para a entrevista. Isso te dá pouco mais de 2:30 hrs para se arrumar e estar pronta com o link ao vivo direto da Times Square.

         - Alright, capitan - Disse segurando os piores nomes que queria vociferar para ele naquele momento, mas não podia botar tudo a perder, não depois de ter conseguido atravessar a porta sem enfiar uma caneta em seus olhos.

         A maquiadora fez o seu melhor em meu rosto, quase senti pena por ela quando lembrei das olheiras enormes que escondia atrás de meus óculos escuros. Li o script que Ashley entregou em minhas mãos, com as mesmas perguntas bobas de sempre: "como se sentem a respeito do novo cd", "quais foram as influências", "planos para o futuro" e toda aquela baboseira corriqueira.

         Amassei o papel na bolsa enquanto lançava um breve olhar para o espelho, analisei o figurino escolhido para mim: regata de alças finas de chiffon preto, shorts de alfaiataria no mesmo tom o que fazia as peças parecem um conjunto, alguns colares para quebrar a monotonia e um blazer chumbo que arrematava a produção junto com as botas de cano curto de camurça púrpura que calçava. Meu rosto estava mais corado, e longe da aparência de “zumbi” que tinha ao chegar ali, agradeci a maquiadora e me levantei para sair quando pensei em algo.

         - Ei Ashley, você podia pedir umas pizzas pro pessoal da criação. Eles precisam manter aquelas bocas fofoqueiras ocupadas com alguma coisa, aproveita e põe tudo na conta do Thomas. - Eu pisquei e as duas riram da minha proposta - Qualquer coisa diz que foi ideia minha! - Disse saindo do camarim, ao chegar no corredor pude escutar a voz de Ashley no telefone pedindo 10 pizzas de pepperoni extra grande e garrafas de coca-cola, ri imaginando a cara de Thomas ao receber a conta.

         Caminhei apressadamente para a van junto com o resto da equipe de filmagem, deveria ser um show rápido de algumas poucas cinco ou seis canções, já que se tratava de uma via movimentada como a Times Square, o que nos dava alguns poucos minutos para chegar e montar tudo. Minha cabeça começara a doer, estava muito nervosa com a situação toda, procurei relaxar de alguma forma encostando minha cabeça no banco.

         Não sei se dormi de fato, mas quando abri os olhos todos haviam deixado o veículo, e lá fora podia escutar os acordes iniciais daquela música que já significou tanto pra mim.

        

"I'm going back to 505"

         Já passava da 1 da manhã, eu havia ido até o aeroporto esperar a chegada do vôo que saíra da Costa Leste e o traria de volta para mim. Eu estava com tanta saudades, que era capaz de pular em seus braços assim que o visse e nunca mais o largar. Era tão horrível ficar naquela cidade sozinha e ter que acordar todos os dias naquele apartamento que cheirava a ele, mesmo quando não estava lá.

         Quando ele viajava eu não sabia como me comportar, não sabia aonde ir ou o que fazer, éramos unidos de uma forma tão intrínseca que era até ridículo me ver nos dias em que ele não estava em Nova Iorque, eu parecia ter perdido o chão, não sabia mais como era ser eu mesma - só, sem Alex ao meu lado segurando minha mão. Eu o queria tanto, que doía respirar sem ele, não sabia dizer se houve algum dia em minha vida em que desejei alguém tanto assim, a ponto de esquecer como era viver sem estar ao lado dela.

         As portas de vidro do saguão se abriram e um grupo pequeno de pessoas se dispersou, mais atrás eu podia ver um vulto se mover lentamente como se esquecido pela multidão. E lá estava ele, com os cabelos desgrenhados empurrando suas malas num carrinho enquanto arrumava os óculos escuros no rosto, seus lábios se curvaram num sorriso ao me ver. Gosh, ele não tinha ideia de quão lindo era.

         Segurei meu ímpeto de correr e apenas acenei tímida murmurando um "oi" inaudível, seu sorriso se alargou mais e veio caminhando em minha direção. Meus pés não tocavam o chão enquanto ele me abraçava apertado e começou a cantar aquele verso só pra mim.

"I'm going back to 505"

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Headquarter: O mesmo que sede, escritório principal (usei a abreviatura “HQ”no ultimo capítulo mas esqueci de escrever o significado :s )

Pixie: trata-se de Pixie Geldof - amiga de longa data da Alexa (podem jogar no google para imagens decentes da garota, é que não pude resistir àquela foto)

        

        

N/A: Olá garotas! Queria agradecer a todos os comentários no último capítulo, foi a minha “estréia” aqui no blog e fiquei muito feliz ao saber que vocês gostaram da história e da minha escrita! Se preparem que teremos muitos encontros no próximo capítulo, huhuhu

Beijos xx