SKY BLUE LACOSTE ONE: CALIFORNIA AIR

“Monday, 11h50 a.m

O meu destino final se aproxima cauteloso. A ideia de que vou ter um endereço fixo por algum tempo faz com que cada poro de minha pele se arrepie. É como se agora os receios, medos e memórias indesejadas tenham o mapa que as levam ao meu encontro.
Memórias... passei tanto tempo fugindo delas, mas elas sempre encontraram algum jeito de se agarrarem aos meus pés me impedindo de seguir em frente.
Mas espero que a Califórnia dê um pouco de cor a essas páginas em preto e branco.
Espero que a calor da Califórnia derreta esses sentimentos frios.
Espero que o ar da Califórnia refresque o meu abafado coração.
Eu espero.”
   
  O apartamento era relativamente grande, sem falar da visão privilegiada para o mar do oceano pacífico que se tinha da varanda. O lugar era claro, arejado e o clima praiano predominava no ambiente. Eu teria gostado de minha nova residência... Mas não naquelas circunstâncias.
  - O que achou? – perguntou Peter, também conhecido como meu irmão mais velho. Ele apesar de ter suas raízes francesas, havia se tornado o típico garoto Americano. Sorriso perfeito, corpo bem definido, cabelos propositalmente desajeitados. Sem falar de seu amor-próprio comparável a massa do Sol.
  Não o respondi, continuei de boca fechada parada em frente a porta enquanto ele me encarava ansioso por uma resposta.
  - Pelo o amor de Deus, Bella. Fala alguma coisa! Você não abre a boca desde o aeroporto.  Não é tão ruim assim, é só até você terminar a faculdade. Já era hora de se aquietar um pouco.
   Eu rolei os olhos de desgosto. Desde que eu havia terminado o colégio, estava viajando pelo mundo. Conheci inúmeros povos, culturas, gastronomia e pessoas diferentes. Finalmente estava descobrindo a vida em todos os seus sentidos e redescobrindo a mim própria. Tentando encontrar a verdadeira eu. E estava gostando disso, estava chegando perto de uma resposta, até que meus pais decidiram que era hora de ir para uma faculdade e começar a “encarar a realidade”.
Pais esses que quando vivíamos sobre o mesmo teto, mal se lembravam de como era meu rosto por viverem presos em seu trabalho usando sempre a mesma desculpa de “tudo o que fazemos é para você, agradeça por isso”.   
  - Arabella Volturi responda alguma coisa!
  - Não me chame assim, eu odeio esse nome – falei em um tom acima do normal e então, me joguei no sofá macio de couro branco.
  - Ah, já temos um progresso aqui – disse sentando-se ao meu lado – Agora sei como fazer você me responder. E eu vou a chamar de Arabella quantas vezes for o necessário.
  - Nem ouse – falei me levantando e indo até a varanda.
  A brisa fresca batia em meu rosto suavemente como um sopro. O cheiro do mar invadia minhas narinas de um modo refrescante e o sol esquentava minha pele de maneira agradável. Droga, eu poderia me acostumar demais com a costa oeste se dependesse do clima e não era o que eu queria.
  Peter apareceu logo em seguida, apoiou-se ao meu lado e pôs-se a fitar o imenso oceano.
  - Bella, olha isso. O azul do mar combinando com o azul do céu. Eu sei que você gosta disso – ele voltou sua atenção a mim - Eu sei que você tem esse espírito aventureiro, que aos meus olhos é perigoso demais para uma garota de dezenove anos, mas... Vai ser bom pra você. Eu prometo.
  Eu continuei com o foco no horizonte, como se aquilo que ele dissesse não fosse mudar nada. Porém, era Peter quem estava falando, meu irmão protetor que sempre me colocou na frente de si mesmo. Que daria a própria vida por mim. Se ele prometesse algo, então era pra valer.
  Finalmente, voltei meu olhar a ele e pela primeira vez balancei a cabeça em concordância.
  - Ta legal. Eu vou me esforçar para gostar dessa terra do purgatório.
  Uma expressão de alegria invadiu o rosto de meu irmão.
  - É assim que se fala – ele me puxou e começou a bagunçar meu cabelo. A cena mais clichê que existe na história.
  - Eu não dei permissão para isso, Peter – falei me soltando de seus braços fortes.
  - Ei, um sorrisinho não ia fazer sua cara feia desmoronar, sabia? Você vai morar com seu irmão, Peter Volturi! Isso não é um máximo? Enquanto nossos pais estão a milhares de quilômetros de distância.
  Sorri ironicamente enquanto o observava gesticular como um garotinho que viu a Playboy pela primeira vez de tão animado.
  - Com certeza, um máximo! – balancei as mãos no ar como se tivesse ganhado uma passagem só de ida para Marte.
  - Agora, sim! Animação.
  Fui obrigada rir da falta de perspectiva dele.
  - Peter, eu não sei se você lembra, mas eu tenho uma entrevista de emprego marcada para daqui a meia hora.
  Então, o sorriso de seu rosto transformou-se em uma expressão de desespero.
  - Ah Deus, esqueci-me completamente! Por que você não avisou antes? Você não pode chegar atrasada para essa entrevista, eu tenho que pegar as chaves do carro. Papai e mamãe vão me matar se você perder... Você vai assim? Você tem que se trocar...
  - PETER! – dei um grito mais do que alto, pois foi a única maneira que me pareceu o suficiente para fazê-lo calar a boca e respirar – Calma. O que foi que deu em você? Eu que vou ser entrevistada.
  - Você tem razão. Calma – ele respirou e inspirou umas três vezes – Você está pronta?
  - Por que, algum problema com minha roupa?
  - Não nenhum – disse levantando as mãos na altura do ombro como se eu estivesse apontando uma arma para ele – Então... Vamos.
  - Ei, ei, ei – falei em tom autoritário para que ele olhasse para mim - Não tão depressa, antes eu preciso de um café para ser capaz de formular uma frase que faça sentido.

===

  Minha mão se encontrava para fora da janela fazendo ondas ao vento enquanto tentava curtir aquele calor que os Estados Unidos me proporcionava. Quem diria que um dia eu ia contestar a ideia de que o frio não era tão aconchegante assim.
  - Bella? – Peter se manifestou pela primeira vez desde que saímos de casa.
  - Hum?
  - Você está... Melhor?
  - Não quero falar sobre isso.
  Vendo que não conseguiria arrancar nada de mim sobre aquele assunto que mesmo sem falar nada eu sabia bem do que se tratava, não hesitou em levar a conversa para outro rumo.
  - Hã, como você conseguiu essa entrevista na NME? Quer dizer, você nem começou a faculdade nem nada...
  - Até parece que você não conhece os pais que temos – ri como se fosse a coisa mais óbvia do mundo - Foi só a senhora Volturi mexer uns pauzinhos e pronto. Depois do pequeno incidente ela acha que por qualquer coisa eu vou... – engoli seco e por um breve momento as lembranças enxurraram minha mente, porém logo tratei de afastá-las - Enfim, acontece que só foi eu citar a revista e ela não pensou duas vezes.
Então Peter sorriu como se agora tudo no mundo fizesse sentido.
Não demorou muito para que ele parasse o carro na frente de um grande prédio branco.
  - Você quer que eu vá junto? – perguntou.
  - É claro que não. Pode ir, eu pego um táxi depois.
  - Você não sabe pegar táxi aqui.
  - É um táxi, não uma máquina do tempo – falei já batendo a porta do carro.

===

  Na recepção, uma mulher que aparentava seus trinta anos me fuzilou com seu olhar de poucos amigos assim que adentrei o prédio. Aproximei-me devagar com medo que sua visão laser fosse me torrar a qualquer instante.
  - Com licença, eu tenho uma entrevista de emprego marcada para as três horas – usei o tom mais natural que pude.
  Ela me olhou como se aquilo que saiu da minha boca fosse a coisa mais absurda do mundo.
  - Não tem nenhuma entrevista marcada hoje. Volte outro dia – respondeu grosseira.
   Eu fraquejei por um segundo. Será que minha mãe havia me enganado só para eu me mudar? Se esse fosse o caso, ela teria sérias dores de cabeça. Mas então, decidi tentar só mais uma vez.
  - Tem certeza? Meu nome é... Arabella Volturi.
  A antipática tirou seu olhar da tela do notebook mais uma vez e os voltou a mim.
 Então, abriu uma das gavetas da mesa e dali tirou um crachá, o mesmo entregou em minhas mãos sem muita delicadeza. Era um cartãozinho preto com as iniciais NME escritas em vermelho, seria igual ao que a mulher usava a não ser pelo meu nome impresso no plástico em letras de forma. 
  - O que isso quer dizer? – perguntei confusa para a recepcionista.
  Essa se limitou a rolar os olhos e voltar a digitar.
  - Quer dizer, queridinha, que seja lá quem marcou essa entrevista esqueceu-se de avisar que você já foi contratada. 
  Levei um tempo para processar a informação e tenho quase certeza que minha boca se escancarou enquanto eu fazia isso. Tive que segurar firme o recipiente que portava meu café para que ele não caísse entre meus dedos.
  - Acho melhor você não os deixar esperando... – a loira que já não parecia tão antipática disse me acordando do transe.
  Quando estava de volta ao mundo real, caminhei decidida em direção ao elevador tal que se abriu assim que apertei o botão.  Já dentro da caixa metálica, me dei conta de que não fazia ideia do andar em que me esperavam.
   - Qual o...
   - Décimo sétimo andar – respondeu a mulher antes mesmo que eu terminasse a frase.
   As portas se fechavam quando uma voz quase desesperada gritou:
   - Hold on!
   Em um movimento rápido digno de ninjas, logo coloquei minha mão entre a abertura que já era quase mínima. Quando as portas abriram novamente pude ver o dono da voz. E que dono, diga-se de passagem.
  - Thanks – agradeceu assim que passou a dividir o espaço comigo. Uma coisa era clara, ele era Britânico. Ou fazia uma imitação muito boa.
  Sorri sem muita animação. Agora os botões dezessete e dezenove brilhavam no painel.
  O perfume amadeirado do homem que jazia ao meu lado impregnava o meu olfato. Ele usava óculos escuros e seu cabelo estava impecavelmente penteado com gel.
  - Será que o gel já entrou em extinção?
  - Uh, sorry? – ele pronunciou-se de repente, só então percebi que me questionei em voz alta.
  - Nada não...  É só que o gel para ultrassom... Está em falta na... Ásia... Por que... –  felizmente me dei conta da besteira que estava falando a tempo. Normalmente quando eu tentava consertar alguma coisa, só piorava a situação.
  - Perdeu a fala foi? – o olhei e logo vi que esperava pela conclusão de minha frase.
  - Não, mas vou perder o emprego antes mesmo de meu primeiro dia se essa coisa não andar mais rápido.
  - Garanto que eles não teriam coragem de despedir uma garota tão bonitinha que nem você.
  O analisei cinicamente enquanto o mesmo mantinha o foco nas portas de metal. Ou era o que parecia afinal, os óculos exageradamente escuros não me permitiam ter uma certeza absoluta.
  - Hahahaha... No.
    Dessa vez sua cabeça virou-se em minha direção.
  - Tsc tsc, vejo que a mocinha não sabe agradecer pelos elogios que recebe. Se eu fosse você eu ficaria bem mais contente que isso.
  - Sorte a minha que eu não sou você, então. Ou o contrário, que seja.
  Ele puxou um sorriso malicioso no canto dos lábios e tirou um pente do bolso. Ajeitou algum fio inexistente bagunçado e guardou o objeto novamente.
  - Você tem ideia de com quem está falando garota?
  Dei de ombros como se aquilo não me importasse.
  - Logo vi que não sabia – falou ironicamente.
  Para minha felicidade, logo em seguida as portas finalmente se abriram.

  - Por essa eu não esperava – balancei a cabeça negativamente - Não é incrível que Alex Turner seja mesmo tudo o que dizem? – falei em alto e bom tom enquanto o deixava sozinho no elevador. 

7 comentários:

  1. Primeiramente: Me senti uma Arabella. Meu sonho é morar na califórnia e viajar pelo mundo. Segundo, problemas com os pais, iupiii. Terceiro, eu quero o Alex Turner pra mim.
    Meu, dona misteriosa, eu quero mais ouviu? Estou super empolgada com a história e quero muito saber o desenrolar de toda ela. MUITO mesmo.

    ps: Peter é um amor

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  2. Adoreeeeeei! Já tô ansiosa pelo próximo capítulo! *-*

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  3. Esse misterio de saber quem é a escritora já tornam as coisas mais divertidas... Mas, foco! Seja lá vc quem for, eu estou apaixonada pela sua escrita. A história está envolvente e bem articulada, você deve ter muitas cartas na manga que ainda vão nos deixar de queixo caído. Foi muito lindo ter colocado o nome da protagonista de Arabella(já me apeguei), ela me parece uma menina sagaz! Tô apaixonada ao quadrado. Outra coisa... Usar uma frase do Al (a do café) também foi incrível. O Peter é um amorzinho. To ansiosa e é isso. Não demora pra postar. Bj

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  4. Adorei esse capítulo! E amei a Arabella. Não demora pra postar o próximo, porque você ganhou uma leitora nova! :)

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  5. Amei cara, roteiro genial

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  6. *aplaudindo de pé pela ótima escrita e história*

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  7. Futuras altas tretas vão rolar~~~~
    Amei o Peter, faça dele um personagem presente prfvr _*
    Vou ali rapidão ler as atualizações, bjs!

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