Now then, Mardy Bum? 22: Oh, i'm trouble again, aren't I?

— Como entrou aqui? — pergunto irritada. De uma hora para outra meu apartamento vira a casa da mãe Joana, inacreditável.

Ele sinaliza para a entrada com o polegar e uma ruga de expressão surge na testa.

— Porta. É um invento interessante, tem maçaneta e tudo o mais.

Me concentro em terminar de pintar minhas unhas, mesmo que a sensação de estar sendo observada seja quase palpável. Reconheço que estou em estado deplorável, de camisola e sem maquiagem, mas não há porque me importar. Depois de longos minutos, não aguento mais o silencio e rolo os olhos, virando para encará-lo, decidida a perguntar por que ele veio. Alex não retribui o olhar, porém, porque está roendo a unha do polegar concentrado em algo mais embaixo que meus olhos.

Levo meio minuto para perceber qual é o foco de seu interesse e jogo uma bolinha de algodão nele, para demonstrar a irritação. Ela cai vergonhosamente perto de mim, sustentando a ideia de que toda e qualquer tentativa de atingir Alex, em qualquer sentido eu esteja falando, é sempre frustrada.

— Você precisa parar de olhar para minhas pernas desse jeito, Turner.

— Não tô dando a devida atenção ao resto do seu corpo? Por que há pelo menos quatro partes dele pelas quais eu tenho grande interesse. Três, se você for o tipo de pessoa que conta a dupla como um só.

Rolo os olhos e me ponho a observá-lo. Às vezes ele parece que tem um mundo inteiro dentro daquela cabeça; diversas personalidades, pelo menos quinhentas frases prontas e um sorriso especial para cada ocasião. Só que hoje há algo diferente ali. Há uma profundidade com a qual não estou acostumada.

— E eu não estava olhando para suas pernas, exatamente. — completa com um olhar sugestivo. Uma ruga de expressão surge na minha testa — Há algo mais interessante, entre elas.

Arregalo os olhos quando percebo que minha posição não é exatamente de uma dama e coloco a grande almofada bege no colo, fechando as pernas e ajeitando a postura. A camisola de morangos que estou usando não é o que se pode chamar de sensual, então me espanto que ele preste atenção para esse tipo de coisa, mesmo quando estou parecendo uma versão mais velha, menos cabeçuda e menos rosa da Moranguinho.

— Nenhum Beatles. Nem mesmo um disco sobre musicas britânicas com algumas faixas deles. Nada. Inacreditável.

Dou de ombros.

— Eu disse que acho eles superestimados...

— Nenhum Beatles — ele continua, ignorando o que eu disse —, mas pelo menos três discos do Oasis.

— E?

— Quem você acha que é a principal e provavelmente única influencia no som deles? O Liam é obcecado pelos Beatles. A introdução de Dont Look Back in Anger é praticamente a mesma de Imagine. Qual é, Mardy Bum, você não pode ser fã de Oasis sem gostar dos Beatles.

Dou meu braço a torcer. — Tudo bem, admito que há sim grande semelhança, mas eu não sei... Imagine é boa, assim como Hey Jude e Yesterday, mas a única musica que consigo realmente gostar deles é I saw her stading there e Come Together.

— Well, she was just seventeen, you know what I mean. And the way she looked was way beyond compare — Turner canta com um sorrisinho vitorioso.

Ignoro a tentativa de me amolecer. Decido que ele precisa sofrer por ter omitido a partida. Pela maneira áspera com que me tratou. Eu provavelmente mereci, mas foi doído ouvir. Mesmo que, como Pablo fez questão de me relembrar, não fosse da minha conta; ele estivesse razão. Porque, afinal, nós não tínhamos nada sério, certo? Consigo visualizar seus dedos bronzeados fazendo aspas no ar e dizendo “tecnicamente” em todo final de frase. Maldito mexicano-que-está-quase-sempre-certo.

Alex continua mexendo na prateleira, despreocupado. O Snoopy roça em sua perna e ele se afasta meio centímetro. Espero por algum gesto relativamente brusco, mas seu rosto vira uma careta infantil e ele vira para me olhar, antes de dizer:

— Não gosto muito de gatos.

— Tudo bem, eles também não devem gostar muito de você. — dou de ombros.

— Certo. É o seguinte... — seus dedos bagunçam os cabelos — Aquele dia? Eu fui um idiota.

Sustento a mirada, ainda com os braços cruzados no peito numa postura defensiva.

Alex concerta — Eu sou um idiota.

Não digo nada, ainda que concorde com sua afirmação. Depois de alguns minutos de uma batalha silenciosa, porém, eu deixo o ar escapar pela boca e cruzo as pernas.

— Não, você estava certo. Eu não devia me importar.

Não preciso especificar a situação, nós sabemos do que estou falando. O incidente do hard rock aconteceu noite passada, mas mesmo que houvesse passado semanas, eu ainda me lembraria. Da hostilidade em sua voz. Do olhar impenetrante. Eu não tinha certeza se ele realmente estava puto ou só cansado.

— É realmente assim que você pensa?

— Eu não sei. Não sei de nada certo quando é relacionado à eu e você, Alex.

— Bom, e a culpa é de quem?

Minhas sobrancelhas se levantam.

— Achei que estivesse se desculpando.

— E estava. Estou. — conserta. — Mas isso não quer dizer que você não tenha uma parcela de culpa. Pelo que me lembro, você ficou do lado dele.

— Não fiquei do lado de ninguém. Não existem lados, Alex. Isso não é uma guerra. Não sou a princesa no alto da torre e não preciso que os bravos cavalheiros lutem para saber quem será meu salvador.

— Eu não vejo você como uma princesa — ele assegura, também na defensiva — Ou um troféu, como aparentemente presume. E aposto que nem ele.

— Você nem conhece o Jesse...

— Tem razão. Mas sei que ele é louco por você.

— Virou terapeutas de casais e vai me dar conselhos amorosos?

— Vocês são um casal agora?

— Não — me apresso a dizer, ignorando o que eu tinha dito sobre não me importar — Claro que não.

— Porque eu odeio ele. — revela, sem pensar duas vezes. — Odiei cada mísera célula dele quando ouvi o que disse pra você.

— Por quê? — era uma pergunta genuína. Depois da indiferença nos seus olhos, naquele dia, eu não conseguia entender. — Porque se importa?

Alex parece pensar na resposta. Por trás dos longos cílios e dos grandes olhos, vejo que ele tem muito o que dizer. Suas Iris negras me encaram, mas são como areia movediça e quanto mais eu sustento o olhar, mais me sinto afundando, então viro o rosto poucos segundos depois, com medo de ficar aprisionada neles e, o pior, gostar. Aí ele dá de ombros e bagunça os cabelos:

— Por que ninguém deve te fazer chorar. — Ficamos em silencio. Um suspiro pesado sai dos lábios ligeiramente ressecados, um indicio de que ele bebeu demais e esqueceu de se hidratar. — Nem eu.

Levanto do sofá, absorvendo o que ele acaba de dizer, incerta. Paro na bancada e me encosto nela, concentrada demais no fato de que foi nela que ele me sustentou, quando nos beijamos pela primeira vez. Deus,fazia só algumas semanas? Parecia muito pouco tempo e, estranhamente, parecia que sua boca não tocava a minha havia tempo demais.

— Nós vamos embora amanha.

Eu já sabia disso.

Mesmo assim, não era menos difícil.

— E assim presume que está me fazendo um favor? Que depois que for eu estarei bem? Protegida? — faço uma pausa, balançando a cabeça positivamente. — Quão altruísta, Turner.

— Eu não disse isso. Quer parar de agir tanto na defensiva?!

— Acha que é fácil acompanhar as suas constantes mudanças de humor?!

— Acha que você é remotamente diferente?! — Alex explode, mas sua voz não sobe mais que alguns decibéis. — É difícil pra caralho tentar entender você, Olivia. Com seus joguinhos. Com suas insinuações e seus ciúmes e quando fica do lado de outros caras e age como se aquela noite, nossa transa, nunca tivesse acontecido. Posso não ser ter um humor constante, mas eu sempre deixei claro que estava interessado.

— Ah, por favor, Alex! Não é tão fácil assim...

— Porque você não quer que seja! Porque tem essa necessidade de complicar tudo. Não aceita que algo legal esteja finalmente acontecendo. Tem essa cabeça fodida e acha que a vida deve ser assim também.

— Wow, obrigada pelas palavras. Você realmente é um babaca cretino.

— E ainda sim, aqui está você... — ele sorri debochado, sem humor algum. Suas palavras são ácidas e seu olhar é duro. Ele quer me machucar. Ele quer me machucar e está fazendo um trabalho incrível.

— É, eu sou uma idiota. Devo gostar muito desse emprego...—murmuro passando os dedos pela franja.

— Não. Você não consegue ficar longe de mim. Porque você não quer. E sabe como eu sei isso, Olivia? Porque eu não consigo, também.

Seus braços me envolvem e mordo o lábio inferior, confusa com minha própria reação.

— Não consegue ficar longe de você mesmo? — pergunto com ironia, antes de conseguir me conter.

— Hoje não. Sem joguinhos, sem perguntas insinuativas, sem comentários sarcásticos. Hoje... é você e eu. É você e eu — Alex aponta — e aquela cama.

Engulo seco.

— E aquele sofá. E a mesa da cozinha. Ou mesmo o chão da sala. Não me importo.

Balanço a cabeça.

— Eu... Sou toda bagunçada.

— Foda-se. Eu gosto da sua bagunça.

N/A:Nem vou dizer que demorou; cês sabem muito bem. Vou pedir desculpa de praxe, porque se eu vivesse de elogios e carinho, postava um capitulo todo dia procês. Quero agradecer a todo mundo que tá acompanhando NTMB (Não acabou nesse cap, calmem kk) desde o começo e as novatas também. Cada comentário e palavra fez essa fic ter um espaço dentro de mim maior que o planejado. É bom pra cacete poder compartilhar meu amor pelos macacos e minha paixão adolescente pelo Alex com vocês. E obrigada por me cobrar! Pelas indiretas e tudo, porque sem isso eu fico meio desanimada hahahah. Beijos!