BE CRUEL TO ME 18: ON THE WARPATH

  Breana havia me emprestado roupas, já que as minhas estavam completamente encharcadas e nem a secadora deu conta de secar, queria ir embora e não estava decidida a esperar. Não imaginei que uma roupa sua iria caber em mim, pois quando eu a olhava ela parecia mais magra que qualquer uma que já havia visto, mas a calça e a camiseta um tanto larga que havia me emprestado, couberam como se fossem minhas. Até mesmo o all star preto.

  - E o seu carro? – ela perguntou quando eu já estava pronta para partir.

  - Eu pego um táxi até lá. Eu vou ficar bem, eu prometo – falei tentando transmitir segurança.

  Ela me olhou como se duvidasse de minhas palavras, mas acabou cedendo.

  - Ok. Mas me dê notícias. Qualquer coisa, se você quiser se distrair eu posso te ajudar. Eu sei como me divertir – falou rindo – Tudo bem?

  - Obrigada – sorri e a abracei. Ela e Matt haviam sido generosos, e apesar de tudo, uma saudade imensa de Lia abateu meu peito.

  Ela me acompanhou até a porta, mas antes que ela abrisse alguém a abriu do lado de fora. Era Matt, e ele não estava sozinho. Quando os olhos de Alexander encontraram os meus, seu rosto ficou tenso. Eu apenas procurei manter a calma e o encarei indiferente.

  - Eliza, você já está indo? – era Helders perguntando.

  - Estou. Ah, obrigada pelo o que fez... Mesmo.

  - Não tudo bem, mas... Eu achei que...

  Entendendo o que ele pretendia com tudo aquilo, uma sensação de incomodo invadiu meu corpo.

  - Eu tenho que ir – foi tudo o que falei enquanto tentava passar pela porta. Foi ai que senti uma mão gelada em contato com o meu braço.

  - Eu preciso falar com você – a voz de Alexander saiu sem muita convicção – Por favor.

  Por um momento pensei sem sair correndo dali, deixando-o plantado falando sozinho. Mas afinal, quem devia explicações a quem? Não seria justo ficar com raiva dele, quem havia escondido evidências era eu. Não era?

  Eu apenas concordei com a cabeça.

  - É, eu e Breana vamos ao...

  - Mercado – ela completou já saindo pela porta – Fiquem a vontade.

  Então, os dois sumiram no corredor restando apenas eu e ele. Ele permaneceu na porta enquanto eu me dirigi ao sofá. Ficou ali, parado, me observando. Parecia estar apreensivo.

  - Você vai ficar ai? – perguntei.

  Ele balançou a cabeça, fechou a porta atrás de si e se sentou ao meu lado de modo que não ficamos um de frente para o outro. Ele deslizou suas mãos sobre suas próprias coxas e pigarreou.

  - O que eu vou falar agora, provavelmente vai mudar tudo entre nós – ele virou o rosto em minha direção, eu apenas acenei o incentivando a continuar – Não espero que me perdoe, mas eu preciso fazer isso. Você pode estar sentindo alguma culpa, que talvez não mereça a ter realmente.

  - Não estou me sentindo culpada, não fiz nada de errado – eu contestei.

  Ele deu um longo suspiro.

  - Alex, seja lá o que você queira falar, acho melhor falar logo. Enrolar só irá complicar mais as coisas.

  Pude ver que seus olhos ficaram um tanto surpresos, mas logo depois, ele deu um sorriso de canto.

  - É estranho, você nuca me chama de Alex. O nome até se torna diferente quando você o diz.

  Eu fechei os olhos e foi minha vez de inspirar fundo. Logo, o sorriso que havia se aberto dera espaço para uma expressão tristonha.

  - Eliza... E-eu – os segundos em que ele não proferiu nada além de resmungos, eram como se fossem beliscões em minha pele – Eu... fiquei com a Sam.

  - Ficou?

  Alexander apoiou a cabeça nas duas mãos e logo em seguida, disse o que eu praticamente tinha certeza.

  - Eu transei com ela.

  Eu sorri ironicamente. Pensei que quando aquelas palavras fossem ditas, iria me debulhar em lágrimas, mas elas simplesmente não deram sinal de que estavam ali. O meu coração batia tão rápido que tive receio de que até ele poderia estar o ouvindo. A raiva, irritação e decepção travavam uma batalha com meu cérebro para ver quem o dominava. Mas creio que nenhuma delas conseguiu falar mais alto que o desgosto.

 Não sei quem foi a mulher fria e sarcástica que começou a soltar aquelas palavras de repente, eu não a conhecia, mas era ela quem tomava conta de minha língua.

   - Eu realmente gostaria de dizer que não esperava essa atitude de você, mas, você é Alex Turner, o que mais deveria esperar de você?

  Turner me virou em sua direção segurando meus braços e havia suplica em sua voz.

  - Não fale assim, por favor.

  - Não fale assim?  Não falar com a minha língua ou não falar as verdades? – disse me livrando de suas mãos.

  - Eliza, eu estava com raiva, bêbado, com um milhão de coisas se passando em minha cabeça. Você queria que eu pensasse o que? Você estava abraçando intimamente o cara que tentou nos separar porque queria ficar com você. E o pior, você mentiu para mim, deveria ter me falado que iria se encontrar com ele.

  Eu ri daquela afirmação.

  - Pra começo de conversa, eu não menti. Eu não disse que não iria me encontrar com Dave, eu disse que tinha um compromisso. E depois, francamente, ele tentou nos separar? Achei que tinha sido você que me botara em uma aposta estúpida. Ah, claro, não vamos esquecer o fato de que você tinha uma namorada e escondeu isso de mim – eu me levantei e passei as mãos pelo meu rosto, que estavam praticamente pegando fogo – Acho que agora as cartas estão na mesa, não estão? Não diga que foi Dave que tentou nos separar. Foram suas atitudes ridículas e infantis.

  Alexander também se levantou e veio em minha direção, ele pegou meu braço com certa força de modo que não consegui largar.

  - Eu realmente achei que nós tínhamos superado essa história. Como se você não soubesse o quanto eu me arrependi. Você tem noção o quanto me machuca falando isso? – ele olhava diretamente em meus olhos com suas órbitas escuras faiscando. Sua voz não era calma, sua voz estava carregada de amargura.

  - Você tem noção o quanto me machuca transando com a minha prima? A Sam... Jura? Até eu sei que ela é uma das mais promíscuas que existe na face da terra e pelo menos, até boa parte do universo. Foi muito baixo nível de sua parte.

  Suas mãos afrouxaram, mas não largaram o meu braço.

  - Promíscua?

  - É Alex, promíscua. Ou no popular, vadia – fiz questão de colocar toda a minha raiva na última palavra, tal que fez Alexander me soltar.

  Eu cruzei os braços e o encarei, ele andava de um lado para o outro como se não soubesse o que fazer. 

  - Você não parecia achar isso – falou.

  - Eu sou educada o suficiente para não sair falando esse tipo de coisa, mas isso não significa que eu seja burra. Eu não sou cega. Ela sempre foi assim.

  - Então porque você a aceitou em sua casa?

  Eu rolei os olhos e soltei uma risada incrédula. Novamente procurei pelas lágrimas, mas era como se elas tivessem secado.

  - Oh desculpe, esqueci-me de passar em uma Vidente para perguntar se o homem que dorme comigo e diz que me ama iria transar com a minha prima.

  Minhas mãos tremiam e meu sistema nervoso estava entrando em colapso. Fechei os olhos para tentar manter a calma, tentar organizar meus pensamentos. Tentar entender o que aconteceu, mas nada parecia fazer sentido. Ele havia cometido um grave deslize, e não era a primeira vez.

Acordei de meus devaneios apenas quando senti a respiração de Alexander contra o meu rosto. Ele estava tão perto que seu cheiro de nicotina e álcool tomava conta de meus sentidos. Então, senti seus lábios roçando em meu pescoço fazendo com que eu me arrepiasse por completo. Ele acompanhou a extensão de meu maxilar até chegar a minha orelha, ali depositando um beijo demorado.

  - O que você pensa que está fazendo? – minha voz sairá mais alto do que eu imaginei.

  Ele afundou ainda mais seu rosto em meu pescoço o mordendo de leve.

  - Tentando guardar em meu subconsciente seu perfume e o toque de sua pele.

  Eu coloquei minha mão na altura de seu peito para afastá-lo, o que foi inútil.

  - Sua essência é complexa, minha querida - ele beijou meu pescoço mais intensamente – Se vou ficar sem você, quero guardar cada detalhe em minha memória.  

   Eu afundei minhas unhas em seus braços com esperança de que aquilo fizesse ele me largar, mas tudo o que ele fez foi pegar meus pulsos com força e me prensar contra o seu corpo.

  - O problema Eliza – ele sussurrava em meu ouvido com a voz rouca e naturalmente sensual – É que eu não quero ficar sem você.

  Tentei fazer com que minhas pernas não tremessem e manter a racionalidade. Se ele achasse que aquilo iria fazer com que eu o perdoasse e fosse pra cama com ele como se nada tivesse acontecido, ele estava muito enganado.

  - O problema Alexander, é que eu não o quero mais – tratei de manter o tom firme.

  Ele riu contra o meu pescoço deixando sua respiração quente bater contra minha sensível pele.

  - Você sabe que isso não é verdade. Eu sei o que eu fiz, e não me orgulho disso. Mas nós dois sabemos que nossos corpos pertencem um ao outro.

  Então, me aproximei e como ele, sussurrei em seu ouvido.

  - Eu acho que não. E agora você vai me saltar e eu vou sair pela aquela porta. Espero que você sinta minha falta, pense no que poderíamos ter feito. Se arrependa e aprenda. Eu vou sentir sua falta, Alex. Mas isso vai passar e com sorte, você vai se tornar uma vaga memória.

  Nesse momento, ele me largou. Olhou no fundo dos meus olhos, sua expressão o entregava. Ele não esperava pela aquela atitude de minha parte. Andou em direção a sacada e ficou olhando para o horizonte. Enquanto isso, peguei minha bolsa e fui em direção a porta. Quando percebeu que eu estava de saída, ele voltou à sala.

  - Então você simplesmente vai embora, assim? Ignorando minhas desculpas como quem ignora um inseto. Vai abandonar tudo o que temos por um deslize?

  - Seu histórico não o ajuda e além do mais, eu ainda tenho um pingo de amor próprio – abri a porta e estava pronta para ir, porém, ele abriu a boca mais uma vez.

  - Só me promete uma última coisa...

  Eu virei para trás e dei uma última olhada nele.

  - Não tem razão alguma para isso, Alex. Promessas são quebradas antes mesmo de serem feitas.

...

  Os raios de sol iluminavam o quarto avisando que o dia já havia começado. Mas o relógio anunciava que a noite quase chegava. Eu havia dormido o dia inteiro. Estava afundada em minhas cobertas de uma maneira extremamente confortável. Na noite anterior quando finalmente havia chegado em casa, para a minha felicidade Sam não estava. Tudo o que meu corpo pediu foi um longo banho quente e uma cama pronta para dormir. Meu cérebro pediu trégua de tanta confusão e pensamentos embaralhados. Eu só precisava de um momento para fazer absolutamente nada.

E era isso o que eu pretendia fazer pelo resto do dia que restava. Ou melhor, não fazer. Abracei-me a um dos travesseiros e pude sentir o cheiro de Alexander ainda impregnado ali. Era um cheiro agradável, diferente de qualquer outro que eu já havia sentido.  Era um cheiro que me hipnotizava e me prendia. Junto com a sensação de certa felicidade, vinha junto à sensação de decepção, de como ele havia agido imprudentemente mais uma vez. Senti-me estúpida por ter confiado a ele uma segunda chance, talvez se eu não tivesse sido tão inocente, não estaria passando por isso novamente.

  Larguei o travesseiro e me virei para o outro lado, só para me deparar com uma foto dele na mesinha ao lado. Estávamos um ao lado do outro, minha cabeça pendia no ombro de Alex, enquanto esse sorria timidamente, no fundo o jardim do Museu de Literatura coloria a foto, mesmo que em preto e branco. Lia havia tirado essa foto e isso só fez com que eu desejasse mais do que nunca que ela estivesse aqui.

  Resolvi fitar o teto em esperança de não achar nada que me lembrasse dele. Porém, as estrelas fluorescentes coladas no teto o trouxe a minha memória com mais intensidade ainda. Então percebi que ele me rodeava, mesmo quando se quer estava presente. Mas isso não era o suficiente. O que ele havia tomado a atitude mais imatura que alguém poderia tomar.

A raiva estava prestes a tomar conta de mim quando a campainha soou. A primeira coisa que me veio a cabeça foi a imagem de Sam, ela poderia ter esquecido as chaves e agora estava acabando com os meus planos de passar ficar na cama. Levantei sorrateiramente, respirando e inspirando fundo, pois não sabia o que faria se visse a cara dela. Provavelmente uma vontade incontrolável de dar uns bons tapas nela surgiria e não sei conseguiria me controlar.

  Quando cheguei em frente a porta dei um longo suspiro e contei até três. Assim que a abri, deparei-me com um rosto bem familiar e o alívio junto com a felicidade tomou conta de meu coração.

  - Lia!!! – pulei em cima dela a abraçando como se não a visse há anos.

  Ela começou a rir e retribuiu com mesma animação.

  - Você conseguiu sobreviver sem mim? – perguntou assim que nos separamos.

  - Só um pouco.

  Sua cabeça pendeu para o lado e o peso de seu corpo se apoiou em uma perna.

  - Não, não. Você vai me contar o porquê dessa carinha triste – ela falou enquanto já adentrávamos a sala e nos sentávamos no sofá – Me diz, o que aconteceu?

  Inclinei minha cabeça para trás e fitei o teto branco, mas não havia porque enrolar. Era com Lia que eu estava falando.

  - Eu e Alexander... Nós brigamos e acho que dessa vez, as coisas não vão se concertar.

  - O que esse idiota fez dessa vez? - o seu tom era ríspido.

  - Ele me traiu... Com a Sam.

  Nos lábios de Lia um perfeito ‘o’ foi formado.

  - Sam? Sam sua prima? Eu não acredito nisso, como ele pode? Como... Eu já não gostava muito dos dois, mas agora, é bom eles agradecerem o fato de eu não ter uma arma.

  Eu abracei meus joelhos e ela botou seu braço por trás de meu ombro.

  - Por que isso aconteceu? – ela perguntou.

  - I don’t know, I mean... Eu só não quero falar sobre isso, Lia. Me desculpe.

  Ela apenas concordou com a cabeça. Lia era uma das pessoas mais compreensivas que se podia conhecer.

  - Isso não importa, não é? E afinal, eu vim aqui com outros motivos e não vou aceitar que você fique ai sentada comendo chocolate. Você vai comigo a recepção da Elle. Eu que organizei tudo sabia?

  - Lia, eu realmente não estou no clima.

  - E eu perguntei se você estava no clima ou não? Pelo o que eu sei Sam ainda está morando aqui, você vai querer ver a cara dela nesse estado? Se você for dar uns puxões de cabelo que esteja um pouco alterada e em um salto alto. Não de pijama.

  Eu arqueei a sobrancelha.

  - Não me olha com essa cara não. Não é uma festa Eliza, é só uma recepção intima com algumas pessoas que participaram da edição especial da revista. Vamos, você tem que se arrumar – ela pegou meu braço e me puxou até que eu me levantasse. Quando se tratava de Lia, eu não tinha uma segunda opção.

...

  - Sua roupa está linda, para de paranoia. Até parece eu – Lia falava pela milésima vez desde que chegávamos a não tão intima assim recepção da Elle, pois o lugar ficava cada vez mais cheio.

  - Mas está todo mundo tão arrumado. Acho melhor voltar para casa.

  - Até parece. Você só está querendo arranjar uma desculpa para sair daqui. Eu te conheço, Eliza – ela disse enquanto acenava para alguém atrás de mim – Vem cá, quero te apresentar uma pessoa. Eu trabalhei na sessão de fotos dele, sabe. Ele é bem legal.

  Ela pegou minha mão e me arrastou dentro meio das pessoas.

  - Olá! Como você está? – ela cumprimentou animada alguém que eu ainda não havia visto rosto, pois estava concentrada demais observando com atenção desnecessária uma fonte de chocolate que ficava do lado oposto – Eliza? Ei!

  Lia deu um beliscão no meu braço que me fez soltar um gemido de dor. Virei-me e me deparei com um belo rapaz, elegante e simpático.

  - Deixe eu os apresentar, essa é Elizabeth Fordie, ou pode a chamar de Eliza. E esse é...

  - Miles Kane – ele pegou minha mão com delicadeza e depositou um beijo sutil – Encantado, senhorita.

***

N/A: Olá, meninas! Espero do fundo do meu coração que vocês tenham gostado do capítulo Hahaha enfim, eu não me consegui controlar após ler um dos comentários que uma leitora anônima e querida deixou falando de como imagina Miles e Eliza, nesse exato momento eu fui obrigada a escrever. Muitas surpresas estão por vir, muitas emoções vão rolar. Muitíssimo obrigada pelos comentários e por acompanharem. Enfim, Beijos!! Bel.