BE CRUEL TO ME 17: THUNDERSTORMS

Eu fiquei sem reação após ouvir as palavras que saíram da boca de Eliza. Era como se o meu corpo tivesse perdido a sustentação e eu fosse cair a qualquer momento. Mal, não era nada comparado ao que eu me sentia. O pior de tudo é que eu sempre soube que minha atitude não traria boas consequências. Mas por um lado, o meu orgulho martelava em minha cabeça e o fato de ela ter só me dito aquilo quando houve a possibilidade de me perder, me deixava irritado e fazia com o que eu pensasse que eu possuía alguma razão.
  - Por favor, diga alguma coisa – ela quase suplicou.
  Dei um longo suspiro antes de responder.
  - Você poderia ter dito antes. Eu sempre respeitei o seu silêncio quando eu dizia que a amava, mas sinceramente, eu não sei poderia aguentar isso por mais tempo.
   Ela passou as costas da mão no rosto para enxugar uma única lágrima que escorrera.
   - Parece que eu só me lembro de dizer que eu amo as pessoas, quando elas já estão indo embora. Pensei que quanto mais tarde falasse isso para você, mais tempo ficaria. Mas o fato de eu nunca ter dito isso, não quer dizer que o que sinto é inferior. São só palavras. As pessoas as dizem sem ao menos sentir. É mais importante sentir do que as dizer.
  Minha cabeça fervilha em um turbilhão de pensamentos. Era isso? Eu transava com a prima dela e depois a pegava nos meus braços como se nada houvesse acontecido? A parte sã de minha cabeça me impediria de fazer isso, e a mesma dizia quase em um sussurro para eu contar o que havia se passado. Porém, isso só faria com que ela virasse as costas e nunca mais voltasse a dirigir uma palavra a mim. A parte masculina e predominante, diferente da outra quase gritava, falando para eu aproveitar a chance que se mostrou. Eu iria me safar sem ao menos um arranhão.
  A imagem de Eliza se sentindo culpada em minha frente, simplesmente partia meu coração. Quem deveria estar daquele jeito era eu, não ela. Eu sabia o quanto ela já havia enfrentado e uma insegurança ridícula de minha parte fez com que eu a deixasse naquela situação.  Não podia fingir que tudo estava bem, mas não seria capaz de falar tudo ali. Agora. Naquele momento. Eu precisava pensar.
  - Eliza, é melhor nós conversarmos depois. É... eu acho que é melhor nós darmos um tempo - finalmente disse, relutando contra o meu verdadeiro desejo.
  Ela sustentou seu olhar, diferente do que achei que faria. Seus lábios selados e rígidos apenas contribuíam para a frieza de sua expressão. Seus olhos piscaram lentamente, e apesar de todo o resto dizer o contrário, eles se tornaram mais tristes do que nunca.
  - Então, eu... – fui incapaz de completar a frase enquanto ela me encarava daquele jeito. Simplesmente estava me consumindo de um modo extremamente estranho. O que me restou foi abrir a porta de meu apartamento e logo em seguida fechá-la, a deixando com seus olhos tristes do lado de fora, sem ter como eles consumissem os meus.

POV Eliza

  No momento em que ele fechou a porta, tive certeza do que sempre soube. Eu tinha o incrível talento de afastar as pessoas. Eu tinha falado de meus sentimentos tarde demais, como sempre foi, como sempre vai ser. Também foi no momento em que a porta foi fechada, que as lágrimas invadiram meu rosto descontroladas. Queimando minha pele como se fossem feitas de ácido. Pesadas, carregadas de toda tristeza que meu coração levava.
  Saí depressa em direção ao elevador. Apertei o botão descontroladamente com a ânsia de as portas se abrirem o quão mais rápido para que eu pudesse sair dali. Quando elas se abriram entrei pesadamente no cubículo de metal, mas então, a sensação de choque contra um corpo fez com que eu me assustasse.  Ergui a cabeça um instante para murmurar uma desculpa qualquer, porém, reconheci o rosto daquele com quem eu me chocara.
  - Eliza, o que aconteceu? – era Matt falando.
  Não fui capaz de sibilar uma palavra se quer. Era como se minha garganta estivesse fechada e o ar me faltava para falar. Então, agindo de modo inesperado, Matt me acolheu em seus braços em um abraço forte e protetor. Eu deveria me encontrar realmente em um estado deplorável.
   - Você vai vir comigo – ele disse nos impulsionando para dentro. No mesmo instante, as portas se fecharam.

POV Matt

  A pobre se encontrava tão acabada que não teria como eu a deixar ali. Estava tão pálida que parecia que tinha visto um fantasma ou algo do gênero. Encharcada, descalça, com a pior cara que alguém pode ter. Ela e Alex haviam brigado e a coisa foi feia, acho que essa era a explicação mais óbvia que existia. Sempre o alertei para ter cuidado com Eliza, desde quando eles decidiram ficarem juntos. Qualquer um via que ela era como um daqueles vasos caros que se tem que ter o máximo de cuidado ao os manusear. O problema era que as mãos de Alex eram muito rígidas para tal manuseio.
  Meu objetivo era tirar ela dali. Ela repetia que estava em pleno estado para voltar com seu carro, mas simplesmente não havia chance alguma de uma pessoa em condições como aquela pegar um veículo.  E para confirmar os meus pensamentos, após cinco minutos acomodada no banco do passageiro, Eliza adormeceu.  

POV Eliza

  Meus olhos pareciam se recusar a abrir, era como se estivessem pesando o dobro do normal. Demorei um pouco a assimilar as coisas, mas assim que olhei para o teto percebi que aquele não era o de meu quarto. Também parecia estar seca e vestia um moletom confortável. Não só roupas, mas estava deitada em uma cama embrulhada por cobertas fofas e macias. Inclinei minha cabeça para o lado e a analisei o lugar. Eu nunca havia estado ali, que era o que me parecia ser um quarto que não era usado normalmente, pois só tinha a cama e um guarda roupa.  
  Foi quando me tirando do transe que me encontrava, uma voz feminina ecoou pelo lugar.
  - A bela adormecida acordou? – era a voz de Breana, a namorada de Matt. Havia escutado sua voz poucas vezes, mas ainda sim não tive dificuldade em reconhecer.
  - Como eu vim parar aqui? – perguntei meio confusa, me sentando na cama.
  - Matt trouxe você pra cá. Você dormiu no carro e bem, aqui você está - ela disse se sentando na ponta da cama.
  - Me desculpe, eu não queria causar esse incômodo.
  - Nem pense em se desculpar, você é praticamente da casa – falou sorrindo.
  - Breana, eu nunca estive aqui – tentei sorrir divertida.
  - Ótimo, pra tudo tem uma primeira vez, certo? – ela riu.
  Forcei um sorriso com forças que não existiam. Felicidade não era exatamente o que eu estava sentindo.
  - Ei – ela se aproximou percebendo meu descontentamento – Não fica assim. Eu sei que falar nisso em uma hora dessas é tão inútil quanto comprar um par de sapatos e não ter pés – abri um sorriso de canto pela comparação, mesmo sendo um tanto maldosa – Mas é isso, não podemos nos abalar por essas coisas. Alex pode ser um idiota, completamente imbecil às vezes, mas eu sei que ele gosta de você.
  Fitei os lençóis pensativa por um instante. Porém, a cena de Alexander fechando a porta não saía de minha cabeça.
  - Ele disse que era para nós darmos um tempo. E eu acho que sabemos o que isso realmente significa... – minha voz saíra mais baixo do que eu imaginei.
  Breana pegou então, uma de minhas mãos que estava enterrada em um travesseiro e sorriu gentilmente.
  - Nem sempre esse tempo nunca acaba. Nem sempre esse tempo é um adeus.

POV Alex

   Tocava a guitarra com uma atenção diferente. Estava jogado no sofá, só eu e ela. Resmungava aqueles versos que não saiam de minha cabeça, persistentes como uma criança querendo doce. A chuva se tornara uma tempestade. Assim como ela, em uma tempestade de lágrimas que iriam acabar a afogando, pois ela relutava em prendê-las em minha frente. Ela ainda tinha o seu orgulho, e por mais que aquilo tivesse me ofendido, não sei se daria o braço a torcer se os papéis fossem invertidos.
Encontrava-me muito perdido na névoa de meus pensamentos e o barulho da campainha que antes era só um zumbido, agora era como um alarme de incêndio. Meu corpo não moveu um músculo, minha vontade de ver alguém naquele momento se encontrava abaixo de zero. Porém, a voz que eu ouvi do outro lado me obrigou a levantar.
  - Você vai abrir a porra dessa porta ou não? Eu sei que você está ai – era Helders já impaciente.
  Abri a porta sem entusiasmo algum e logo voltei para o sofá novamente.
  - Pelo visto sua cara também não é das melhores – falou.
  Arqueei uma sobrancelha e o encarei.
  -Como assim também?  - perguntei.
  Ele sentou-se na poltrona ficando de frente para mim.
  - Eu ia vir aqui mais cedo, mas no corredor, esbarrei com uma Eliza que parecia mais figurante do Resident Evil. E eu estou me referindo aos zumbis.
  Inspirei e respirei uma, duas, três vezes. Mas só a menção de seu nome fez meu peito arder novamente. Vendo que eu não iria responder, ele prosseguiu.
  - Enfim, eu não podia deixar a coitada naquele estado. Muito menos dirigir, botei ela no carro e quando eu menos esperava ela dormiu. Levei ela lá pra casa e Breana cuidou dela, com sorte ela não vai pegar um resfriado. Mas acho que esse é o menor dos problemas...
  Matt me olhava repreensivo, esperando alguma explicação de minha parte. Tal, que não iria dar, pois não estava com cabeça para remoer o assunto.
  - Se você veio aqui falar sobre isso, perdeu a viagem.
  Helders bufou.
  - Qual é, Alex?! Há quanto tempo nós conhecemos?
  - É só que eu não quero falar sobre isso agora – falei na defensiva.
  - O que você fez de tão sério? Ela estava arrasada, mas não pode ter sido pior que da última vez. Lembra? Você ficou que nem um bêbado abandonado, quer isso de novo?
  A última vez. Eu mal tinha começado as coisas com Eliza e já tinha estragado tudo, tudo por causa de uma aposta idiota.
  - Vai falar ou não? – ele insistiu.
  Ajeitei-me no sofá e apoiei o peso da cabeça nas mãos.
  - Eu transei com a prima dela.
  Levantei a cabeça para ver a reação de Matt, mas ele parecia surpreso demais para esboçar qualquer expressão.
  - Alex, você tem noção do que você fez? – falou quando pareceu ter processado a informação.
  - Eu tenho, ta legal? Eu não tenho mais quinze anos eu sei o que eu faço.
  - Não é o que parece...
  - Olha Helders, você me fez falar para me dar lição de moral? Porque eu dispenso!
  O silêncio pairou por um momento, mas não durou muito.
  - É só que... Cara, a Eliza. Você sabe como a situação fica mais precária quando se trata dela.
  - Ela é minha namorada, você acha que eu não sei disso?
  Falar aquilo em voz alto me fez perceber que talvez ela pudesse não ser mais minha.
  - Você contou pra ela? – ele perguntou.
  - Não.
  - E o que você vai fazer?
  - Não sei.
  Então, Matt adotou uma feição de indignação.
  - Como não sabe? Você vai contar a verdade pra ela. Para de pensar em você por um minuto, Alex. Não é questão de ela não o perdoar, ela precisa saber da verdade para que ela pare de pensar que o problema é com ela.

  Por um minuto, senti raiva, mas logo ela foi afastada pela compreensão. Ele estava certo, era o mínimo que eu tinha que fazer. Alivia-la da dúvida. Alivia-la da culpa.

***

N/A: Só queria agradecer os comentários, e por acompanharem. Vocês sempre me incentivam a escrever mais e mais. E bem, espero vocês no próximo capítulo, como algumas queriam, vai ter uma Eliza usufruindo de seu girl power! Hahahah Beijos, Bel. 

7 comentários:

  1. ''Para de pensar em você por um minuto, Alex. Não é questão de ela não o perdoar, ela precisa saber da verdade para que ela pare de pensar que o problema é com ela.'' Acho que o que o Matt disse resumiu o capítulo.
    Realmente o Alex foi um babaca e fez a Eliza sofrer demais, e o pior é que ela ainda nem sabe o que ele fez. Poor Eliza quando souber. Espero que ela de um basta no Alex e ele sofra MUITO.

    Matt e Bre sendo fofos demais. E apenas continuam, fiquei ansiosa pra saber.

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  2. Yaay! Breana apareceeeu! *-* E awwwnn.... Matt, pára de ser lindooo.
    Adorei esse capítulo, adoro drama, por mais sádico que pareça. Hahahahahahahahahaha Matt tem razão, a coitada da Eliza tá achando que o problema é com ela enquanto ele que é o errado da história. Como eu tinha comentado em um dos capítulos anteriores, Eliza devia ter contado pro Alex com quem ia se encontrar, mas isso não justifica de forma alguma o que ele fez, ele nem escutou a coitada! Poor Eliza... D:

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  3. Espero que o Alex sofra bastante, apenas. Ansiosa para os próximos capítulos *_*

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  4. Why so foolish, Alexander? Eu tô com pena dela e por incrível que pareça, tô com pena desse idiota também. Ele se precipitou e enfiou os pés pelas mãos, acho justo ele pagar por isso, não tendo Eliza como namorada. E quanto a ela, você pensa em torna-la namorada do Dave? Não faz isso não :( que eles sejam muito amigos, mas não namorem...assim, acho que pra ela o que seria bom mesmo seria uma mudança, mudança não, uma adição ao jeito de ser dela...tipo, que ela se torna mais perceptiva com as pessoas ao seu redor (a prima tinha "vadia" escrito na testa e ela não viu, ou fingiu que não viu), que ela seja um pouco mais fria (mas sem perder a meiguice), não sei...Eliza não é boa demais pro Alex, Alex é que é imaturo no amor, mas sl...ela pode ajudar ele nessa parte (né?) :(
    E quanto a participação do casal Helders nesse capítulo, SUPER APROPRIADO! Hahaha (eu amo esse homem [e tá, a Breanna é legalzinha...] pra quem não percebeu)
    Enfim, falei pra caramba (damn!), desculpa, sua fic tá impecável e...PLMDD NAO DEMORA PRA POSTAR O PRÓXIMO CAPÍTULO! (eu não tenho por onde falar com vc, então nao demora mesmo não, tá?) XxXxXxXxX Mrs.Helders <3

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  5. ok, leitora fantasma hahaha sério, amo sua fic porém sempre tenho vergonha de postar algum comentário aqui kkkkkk então, adorei o jeito que você inseriu breana na história (como amiga da eliza) e matt sempre fica perfeito quando dá aquela de irmão mais velho e mais experiente pra cima do alex hahahaha mas te peço, eliza não pode ficar com dave :( sério, eles não combinam mesmo! sabe quem eu adoraria? o miles kane, sério. tipo, fiquei a aula toda pensando no miles e a eliza juntos (sim fiquei hahaha e sim, sei que é estranho) btw, acho que os dois ficariam bem bonitos (além de deixar o alex todo com ciúmes e fofo kk) amo sou vivo sua fanfic, você escreve muito bem, parabéns (e desculpa pelo coment enorme hahaha)

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  6. MEU DEUS MEU DEUS MEU DEEEEEUS
    O Alex é um filho da puta, caralhoooooo
    E a Eliza tem que parar de se culpar D: Ela não fez nada, o Alex que é idiota! Esse Matt é muito amor (me lembrou um amigo-colega meu que me abraçou quando eu tava chorando na escola semana passada asojos;dcn)E eu amei a aparição da Breana! <3
    Ainda bem que o Matt existe pra botar juízo na cabeça do Alex, porque né... Tomara que ele conte pra ela, a Eiza estapeie a Sam e mande ela pra rua hahahah Ela merece!
    E sei lá se eu quero que eles acabem juntos, eles se amam, mas o Alex é tão inconsequente...
    Enfim, besos e não demore até a próxima atualização!

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  7. Passou-se um capítulo e minha vontade de socar a Sam não diminui nem um pouco huehueuhe Vi a ideia de a Eliza ficar com Dave em um comentário acima e também peço: por favor, não! D: Não consigo gostar do Dave, não sei porque. E isso que vou dizer vai doer mas, espero que o Alex sofra. Talvez assim deixe de ser tão inconsequente.

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