Version Of Pervesion 01: The Meeting Place


Emma subiu até seu quarto escalando a parede trançada de flores da lateral da casa. Não era tarefa fácil com as tiras de uma sandália na mão e a fina alça de sua bolsa na boca, mas com a pouca iluminação que o jardim conferia, os passos foram dados com precisão e cautela. A ultima coisa que precisava para tornar a noite maravilhosa que teve era cair como uma banana podre e acordar seu pai.
Jogando os sapatos e a bolsa, ela conseguiu passar os dois braços e depois as pernas sem prender o vestido em nenhum prego solto e se deu um tapinha nas costas mental por isso. Seu corpo sentou-se numa posição mais confortável e seu pescoço girou algumas vezes, estalando e relaxando uns músculos.
Um estalido outro baixo ecoou dentro do quarto iluminado pela luz da lua e a silhueta de um homem robusto surgiu entre a escuridão. Seu pai vestia pijamas listrados e segurava um copo de Gim na mão. E não parecia estar feliz.
— Precisa de ajuda? — perguntou. O tom cordial não combinava com o semblante enraivecido.
As sobrancelhas de Emma se juntaram numa expressão confusa, enquanto negava.
— Ótimo. Sente-se.
Ela já estava sentada. Com um vestido preto com lantejoulas e os lábios ainda levemente brilhosos da maquiagem, mas ainda sim, estava sentada.
— Eu sei que você não costuma escutar o que digo, Emma; esta noite é a prova viva disso, mas quando eu estou no seu quarto às quatro da manhã e digo que se sente, você deve se sentar. — as silabas foram quase soletradas, as palavras saíram pausadamente, dando a leve impressão de que ele estava ironizando a situação ou insinuando que ela tivesse algum tipo de retardo mental. Ao observar a postura rígida de seu pai, porém, Emma não teve certeza.
Não era justo. Depois de meses confinada no regime rígido e opressor que o colégio interno exibia, Emma finalmente tinha tido uma noite incrível. Uma noite onde ela não estava inteiramente cercada de garotas usando saias até os joelhos e cardigans; uma noite em que sentira especial, linda e viva.
Finalmente tinha terminado o colegial, finalmente tinha dezoito anos, mas ainda sim, o “general” Homme não conseguia largar a guia. Emma sentia-se como um dos cavalos de seu pai, arisco, rebelde, mas por fim, domado. Colocaram-lhe uma sela e exibiam-na em cerimônias de premiação como a boa potrinha que era.
Com sorte ela ganhava uma cenoura.
— Espero que não entenda a proposta que vou lhe fazer como uma premiação. Espero, Emilia — a garota se encolheu ao ouvir seu nome de batismo — que não pense que está sendo recompensada. Mas estou cansado; estou farto de vê-la se esgueirando pelas ruas dessa cidade enquanto pensa que não sei do que acontece. Eu já fui jovem, Emma... Mas você é tão...
Seus olhos se fecharam, resolutos. Era patético. Enquanto “papai” estava ocupado sendo um astro do rock, ela estava trancada em um colégio pomposo e opressor em um interior qualquer, sempre sozinha, coberta de horários e tarefas a serem cumpridas. Sem livros!
— Pequena. — ele completou depois de meio minuto.
Emma encarou seu reflexo no espelho adjacente; não era pequena. Seus olhos observaram seus seios e sua boca volumosa, o cabelo levemente ondulado que lhe caia abaixo dos ombros e os olhos de sua mãe. Havia muito tempo desde que fora pequena.
— Lembra sobre a conversa que tivemos semanas atrás? Sobre a ideia estúpida que você teve em fazer intercambio?
Como poderia esquecer? A ideia “estúpida” que ele recusara veemente, mostrara-se irredutível. Como se ela tivesse pedido para ser entregue a uma matilha de lobos ou algo igualmente aterrorizador aos ouvidos do pai. Seis meses, ela havia suplicado. Três meses, chegou a implorar. Qualquer coisa. Estava farta, estava brava e por Deus, entediada como o diabo! Qualquer coisa. Era o desejar que Emma queria; ansiava por ansiar.
— Estou disposto à aceitar sua oferta, se você estiver disposta à aceitar minhas exigências.

***
Alex esfregou os olhos com os dedos até que anéis psicodélicos surgissem na parte interna de sua pálpebra. O que fazia Josh acreditar que ele poderia ser capaz de cuidar de uma menina?
Onde estava Helders para dizer que ele mal conseguia passar um dia sem foder com tudo?
— Você conhece a Inglaterra, ela quer conhecer, também. Pode levá-la para Londres, Sheffield, onde quiser. Só não deixe que se meta em encrenca. Não deixe que nenhum bastardo encoste a mão nela. Não posso mandar minha garotinha para outro país sem assistência, Al. Serão só algumas semanas. Um mês, no máximo. Leve-a para dar uma volta na London Eye, visitar o parlamento, o Big Ben; não me importo. Só... mantenha ela ocupada e segura.
Havia poucos músicos que Alex respeitasse e venerasse tanto quanto Josh Homme. Finalmente, naquele semestre, os Monkeys e ele colaboraram em uma musica chamada You and I. Uma canção que acabou se tornando uma das preferidas de Turner no álbum, mesmo que ele não cantasse a maior parte dos versos. Provavelmente porque ele não cantava a maior parte dos versos.
E o processo de criação da musica foi longo, o que permitiu uma interação quase familiar entre Homme e ele. Alex sentia-se próximo do musico como sentia-se de sua família, que a agenda apertada de turnês, entrevistas, gravações e compromissos não permitiam ver há alguns meses. Era um sentimento de respeito e admiração mútua, confiança cega e companheirismo. Por mais ridículo que pudesse soar, gostava de pensar que havia um sentimento quase paterno entre os dois.
Ainda sim, a ideia era absurda. Alex teve dezoito anos uma vez e sabia que mesmo que ele concordasse com a ideia – e acredite, não havia nada que ele não fizesse para poder dizer não -, a garota se recusaria. Ninguém iria querer um guarda-costas ao seu lado; não era a ideia propriamente dita de liberdade que ele apostava que a menina esperava.
Antes que ele pudesse escolher uma desculpa condizente, subitamente se fingir de ocupado, francês ou qualquer coisa, Josh colocou a mão em seu ombro e suspirou.
— Você é o único em quem eu confio.
***
O corpo dele parecia rejeitar a ideia com força. Quando ele deu de ombros e respondeu “claro, porque não?” ao pedido anterior de Homme para que desse uma de “Super Nanny” na Inglaterra com uma garota que ele nunca havia visto, não tinha pensado nas consequências.
Pra começar, Arielle ficara puta. Seu namorado passar semanas servindo de guia turístico para outra mulher, independente de quem ela fosse filha ou de quantos anos tivesse, não era algo que a ruiva tinha em mente. Foi preciso vários presentes e boas trepadas para que ela concordasse com a ideia.
Os festivais estavam todos marcados, as datas dos shows estavam impressos num papel que receberam e Alex notou que ficaria fora por várias noites. O que era bom, porque ele teria um tempo para si e para a banda e igualmente ruim, porque a garota ficaria livre. E “livre” fora algo que Josh tinha se mostrado irredutivelmente contra.
Em suma, a ideia era dar uma falsa liberdade a ela. Fazê-la acreditar que estava naquele país enorme, sozinha, com universos a explorar e mundos a conhecer, mas na realidade, ela exploraria bibliotecas e conheceria pontos turísticos. Vida noturna estava fora de questão, segundo Homme havia instruído.
Quase sentia pena da garota.
Seus olhos percorreram o telão do aeroporto onde os voos em pouso eram anunciados e ele encarou o relógio, impaciente; o aviso de não fumar em cada parede paralela à onde ele estava encostado não estava ajudando. Seus dedos sentiam falta do cigarro e sua boca parecia seca e oca, fazendo com que lambesse os lábios com frequência excessiva. O papel branco exibia o nome da filha de Josh e Alex sentia-se estúpido e deslocado, num aeroporto cercado de pessoas ocupadas vivendo suas vidas, enquanto ele estava usando a sua para aguardar uma outra na qual seus olhos nunca haviam pousado.
Quando os passageiros do voo 171 começaram a sair pela porta de vidro, Alex sentiu-se aliviado e ansioso. Encarou a escada rolante que ficava logo depois da porta por onde vários passavam com suas respectivas malas, e mordeu a unha do polegar, enquanto a direita  segurava o nome “Emma” numa caligrafia desconcerta.
Ninguém a tomaria por uma garota americana e Alex soube sem nenhum lampejo de duvida que aquela que descia era Emma Homme.
Porque ele podia jurar que havia pelo menos oito anos desde a princesinha doce na qual Emma fora descrita, ainda que seu sorriso carregasse a inconsequência de uma menina. Conforme os degraus rolavam para baixo e desapareciam, podia notar que ela não era baixa; talvez dez centímetros a menos do que ele. O vestido estampado projetava suas curvas de uma forma diabolicamente desnecessária e ela o observou através de longos cílios de um jeito travesso.
Alex respirou fundo.
Dava para entender porque o pai a havia trancado em um colégio interno.

N/A: Capitulo dedicado à Débora (que além de deixar comentários mordíveis, fez essa capa gracinha!) e à todo mundo que comentou no Trailer da fic.  Então, capitulos introdutórios não tem como ficar fodões... Eu pelo menos não tenho esse dom, haha. Vou passar o dia escrevendo hoje e se vocês quiserem (me digam) sai outro amanhã a noite. :)

22 comentários:

  1. Cara, vocês escrevem muito bem! E esse capitulo está fantástico, parabéns!

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    1. Obrigada, Anonima linda! Tô tentando dar mais atenção à escrita em si e fico feliz que tenha gostado!
      Beijos!

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  2. ESTOU CURIOSA PRA ESSA NOVA FIC, ein gente, vocês me matam com as vossas ideias!
    You and I é foda mesmo cara!
    mais o alex vai trair a arielle? não faz ele fazer isso, mesmo parecendo uma tontinha, a rapariga não é do mal :(
    beijos!

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    1. Eba, deixei alguém curioso, hahaha.
      Não tenho certeza, só lendo pra saber huahauh. Imagina, eu não acho que ela seja umapessoa ruim! Não apoio esse ódio por ela, não. Se ele faz ela feliz então tá ótimo pra mim, Sara :)
      Beijos e obrigada por comentar

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  3. ''O vestido estampado projetava suas curvas de uma forma diabolicamente desnecessária e ela o observou através de longos cílios de um jeito travesso.
    Alex respirou fundo.''
    Ai, eu tive um pequeno surto imaginando essa cena. Emma (que aliás é um dos meus nomes preferidos) com o jeitinho descrito por ela e por mim visto no trailer olhando o nosso magricelo Alex, juro que fiquei toda nhoin nhoin!
    Ta, eu realmente adoro suas fanfics e não é novidade eu já estar super ansiosa pros acontecimentos seguintes! hahahahha Beijo, beijo

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    1. Jura que você gostou do nome, Anne? Eu adoro ele, mas tava meio em duvida, haha.
      Ela é muito nhoin nhoin, não é? Digo, é engraçado: ela é extremamente sensual, mas tem um rostinho de garota que é muito legal. Queria ser assim, quem sabe não teria um Alex da vida kkkkk
      Simm, leitora fiel, obrigada pelos elogios e pelo comentário mesmo assim!
      Besocas

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  4. TE AMANDO ETERNAMENTE POR TER INCLUÍDO O JOSH NA HISTÓRIA <3 o capitulo ficou ótimo, parabéns! Não demora, bj.

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    1. Tô feliz que vocês tenham gostado do Josh na historia! Achei que ninguém daria bola e ele é bem fodinha.
      Não demorei, haha. Aliás, to super empolgada com a fic então é dificil eu NÃO poostar essa semana
      Beijo

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  5. Ai, já amei! Mas quando eu não amo, hein? São todas perfeitas!
    Super curiosa pra saber o que vai acontecer!!!!!
    Ansiosa por demais pelo proximo capitulo. Não demore para postá-lo, senão iremos surtar! hahahhahaha

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    1. Olá, Joycinha! Obrigadaaa, tô bem feliz com a reação positiva de vocÊs. São comentários lindos e atenciosos que me fazem ficar com MUITA vontad de escrever. :)
      PS: Sua foto é uma graça hahaha

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  6. Já amei, principalmente pela história ser diferente das que eu já li ;D
    Louquissima pelo próximo.. haha

    Fernanda

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    1. Que bão que você achou diferente, Nanda (é leitora fofa ja fico intima, que isso Luana)
      Ja tem proximo, corre lá, haha

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  7. Alex e seus pensamentos pervertidos <3<3<3<3<3
    E o Josh na história então? Perfeito!
    Beijos!

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    1. O Josh é um musico todo talentoso e aquela musica deles ficou incrivel né <3
      Hahaha, obrigadaa

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  8. Ahh Luana, obrigada pelo capítulo! *-*
    Sério você e as meninas são demais, eu nem mereço isso tudo. Lembro de vocês no Nyah!, autoras que eu admirava e admiro e hoje esses mimos que vocês me fazem me deixam feliz por um mês.
    Você sabe que foi um prazer fazer a capa e fico feliz que tenha gostado!!!
    Espero que as garotas do site também, vocês são minha grande família.


    Enfim, voltando a minha review mordível, eu me apaixonei pelo enredo.
    Já tinha uma ideia do que era, mas nada que se encaixe nessas proporções, ou seja, também fui surpreendida! Achei super interessante e cabível, o que fica mais gostoso quando lemos e podemos interceptar as histórias para o real.
    Sua escrita é maravilhosa, você explora muito bem. O conflito inicial prende muito; quando você coloca Emma como filha problemática de um pai cuidadoso mas onipresente por ser um astro do rock (Josh *-*), que estudou anos em um colégio interno e tem vontade de conhecer muito mais da vida, foi colocado de maneira nova. Mas percebemos que ela não é tão ingênua, o que é uma pitada a mais de interesse. O intercâmbio por um mês como o melhor amigo do pai, que por acaso é um certo Turner, como guia turístico, foi super bem criado e já me abre a mente para vários momentos blasé que eu gostaria de ver. Haha!

    Seu Alex é sempre bem trabalhado e eu amo isso. Estou anciosa para ver a relação que os dois vão criar, já que pelo que parece ele "gostou" da Emilia. Ela é LINDA e putz, combina mesmo com ele.

    O parágrafo que a Anne B quotou também me interessou muito, e eu prevejo fortes emoções por aí.

    Eu adorei tudo.
    O capítulo introdutório ficou ótimo, e eu estou anciosa para o desenvolvimento da história.

    Beijos grandes,
    Débs

    *(e posta hoje sim, pra eu começar a semana de aulas bem feliz!!!!!!!!!!!)

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  9. Este comentário foi removido pelo autor.

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  10. PUTA QUE PARIU!!!!! O josh nessa historia foi tudo! O Alex realmente 'idolatra' ele! você é muito genio, serio. Beijos

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    1. To bem feliz que vocês também sentem isso, essa admiração dele! Fiwuei receosa de vocês não acharem cabível e tal
      Haha, obrigada sua boba. Beijos!

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  11. OH GOSH! Amei! Como você consegue escrever com tanta perfeição? Amei amei*-*

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  12. simplesmente perfeito, simples assim <3

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  13. ficou muuuuito bom, mais que bom. VOCE TEM O DOM DO PRIMEIRO CAPITULO! Juro, confie em mim! hahahahahahah
    Adorei tudo, ficou perfeito!

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  14. Helena Hartin09/06/2013, 22:56

    geeeeente, queria ta vendo isssso, mto mto bom, sério hsuhsauhsas

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