R U Mine 13: Upside Down


Não pude evitar o riso ao abrir a porta e dar de cara com uma linha de roupas: sapatos, o vestido que Catarina usou na noite passada, calça, camisa e até mesmo um sutiã vermelho. Todas as peças fazem um caminho perfeito até o quarto da minha amiga. Ela não saiu desacompanhada do bar. Balancei a cabeça pensando em como meu ouvido será alugado assim que esse cara for embora. Tanto se a noite foi uma merda ou uma maravilha. Ela nunca poupa os detalhes sórdidos. Nem que eu peça.
Resolvo fazer o mínimo de barulho possível e caminho cuidadosamente até meu quarto largando a mochila no chão e pulando na cama logo em seguida. Os últimos dias têm sido loucos. Eu havia beijado e dormido com Alex Turner. Tudo bem que o dormir, nesse caso, não veio cheio das conotações que a palavra trás. Eu dormi com Alex Turner, e por incrível que pareça foi a noite de sono mais tranquila dos últimos dias.
Sorrio pensando nele e isso é uma droga, pois os sintomas da minha paixão estão aparecendo. Sorrir feito uma boba. Que coisa mais patética Ana Clara.
Após tomar um banho quente e vestir moletons, me concentro na tarefa de procurar pela correspondência deixada por Dona Abigail. Encontro as contas juntamente com o chamativo envelope amarelo. Eu devia saber que era coisa do Alex.
Rolo os olhos ao abri-lo e encontrar um ingresso para o Festival de verão juntamente com um crachá amarelo que eu não tenho a mínima ideia para o que serve, mas com certeza me permitiria acesso a inúmeros locais.
O presente constituí, basicamente, em meios para vê-lo. Está para nascer alguém mais pretensioso que Alex Turner e o pior? É que eu gosto.
Por volta das 18h estou pronta. Short jeans meio desbotadinho, blusa branca podrinha e uma botinha marrom cano baixo sem salto nos pés. Meu cabelo incrivelmente preto está com um brilho diferente devido à mega hidratação feita durante o banho enquanto eu cuidava da depilação, decido deixa-lo secar naturalmente rezando para que não arme feito uma palha de vassoura. No rosto apenas um leve blush rosado para dar uma cor à minha pele pálida e rímel, meus olhos esverdeados faziam um contraste perfeito com meus cabelos negros, por isso decido não usar sombra alguma. Para finalizar apenas um gloss incolor nos lábios e estou pronta. Pego a bolsa mais bonita que tenho no armário, vermelha e grande, eu poderia colocar pelo menos duas mudas de roupa nela sem problemas. Todo esse exagero só podia ser presente da garota que está dividindo a cama com um desconhecido nesse exato momento.
Ao passar pela cozinha, pego uma maçã da fruteira e aproveito para deixar um bilhete dizendo que precisei sair e que vou demorar, mas tenho certeza que ela não vai achar isso uma coisa ruim. Há não ser que o cara vá embora e não tenha ninguém aqui para ouvi-la até os ouvidos cansarem.
Caos. Toda a desordem nas saídas que levavam ao festival se resumia nessa minúscula palavra. Palavrões sendo proferidos, dedos do meio aparecendo através das janelas, brigas e buzina. Muita buzina.
Quase uma hora e meia depois salto do ônibus e começo a correr para o festival. A área demarcada especialmente para o público estava simplesmente LOTADA. Eu chutaria umas 50 mil pessoas por alto. E onde eu me encontrava? Bem longe do palco, perto dos banheiros químicos. Pois é! Além de não conseguir ver nada ainda tenho de suportar esse fedor catastrófico.
No palco Franz Ferdinand terminava sua apresentação levando a plateia ao delírio, pra mim eles mal passavam de ervilhas ao longe. Bufei irritada, não queria assistir o show pelo telão. E pra completar um idiota esbarrou em mim derrubando todo o líquido amarelado em minha camiseta clara murmurando um “Desculpe-me” bem deslavado. Agora eu estava fedendo à cerveja ainda por cima. Tentei ao máximo não deixar a blusa colada ao corpo, uma vez que deixava meu sutiã vermelho totalmente à mostra e tentei ignorar o fato.
O show do Franz já havia terminado e eu estava no auge do meu stress quando me lembrei do crachá em minha bolsa. Qual é! Essa coisa não deve servir apenas para acesso aos camarins – pensei comigo mesma enquanto o colocava ao redor do pescoço.
Passei por uma área restrita sem ser perturbada por nenhum segurança até conseguir chegar em frente ao palco. Como não fui barrada por nenhum produtor ou segurança que perambulava, resolvi ficar por ali mesmo, naquele vão que separa a grade do público e o palco.
Meu coração deu um pulo ao ver as luzes do palco diminuir. Segundos depois Nick, Jamie, Matt e Alex entraram quietos ignorando a multidão atrás de mim que esgoelava-se sem parar. Mordi os lábios ao ver que Alex trajava a mesma camisa que usei durante toda a manhã, o cabelo impecavelmente penteado para trás num topete estilo Rockabilly que lhe dava um ar mais sexy e maduro. Alguns segundos se passaram até que os instrumentos estivessem completamente em ordem e o ritmo calmo e intrigante de My propeller entoasse. Alex saudou o público com seu característico Ouuulaaaa meio embolado e sem jeito e nos agraciou com sua voz rouca e perfeitamente afinada.
The view from afternoon, Crying Lightning, When the sun goes down, Fluorescent Adolescent, Do me a favor e ele ainda não havia me percebido bem ali, literalmente em baixo de seu nariz. Até que no intervalo de uma musica pra outra, seus olhos me encontraram e ele sorriu de lado enquanto arrumava algo em sua guitarra.
__ Ready San Diego? – mirou a multidão que gritava coisas como ‘Yeah’ em resposta - We are Arctic Monkeys from High Green Sherffield – sua voz parecia um pouco grogue – And that’s for the Laaaaaaadies – gritou ao microfone me mandando uma piscadela. Mordo o lábio inferior em resposta, tentando parecer o mais segura possível.
As palavras ditas por Alex no restante do show não passaram de múrmuros de agradecimento e algumas sentenças. Isso me intrigava, pois ele não tinha a necessidade de se comunicar para atear fogo no público. Seu jeito, sua voz, sua música já faziam isso por si só.
This house is a circus, only ones who know, I bet you look good on the danceflor, Pretty Visitors, Mardy Bum, Cornerstone e por fim 505 a música escolhida para o encerramento do show, o público cantarolava junto, acompanhando-o inclusive eu. Em dado momento, durante uma pequena pausa Alex olhou para baixo, para mim mexendo os lábios lentamente. Não saiu som algum, mas eu pude entender perfeitamente a palavra backstage. Sorri em resposta, um sorriso tímido e joguei o cabelo pra trás assentindo positivamente logo em seguida.
Corro os olhos pelo local até encontrar Alex e seus amigos bebendo, fumando e jogando conversa fora. Os ombros e um dos pés apoiados à parede escura do backstage, uma das mãos segurava o inseparável cigarro e a outra uma garrafa de cerveja. Estávamos logo atrás do palco e ainda se podia ouvir a barulheira da multidão lá fora, sorrio e me aproximo um pouco.
__ Hrum – pigarreio alto chamando a atenção dos quatro rapazes. Alex puxa um sorriso sem humor de canto de boca e leva o cigarro à boca, tragando-o sem desviar os olhos de mim. Matt sorri enquanto Nick e Jamie apenas acenam levemente com a cabeça.
Me aproximo do grupo um pouco tímida.
__ Achei que não viria – Alex murmura soltando a fumaça pela boca enquanto joga a bituca no chão pisando-a em seguida.
__ E eu que você nunca me perceberia ali embaixo... Eu estava bem embaixo do seu nariz Turner – digo parando a poucos centímetros dele – Aliás, foi belo show rapazes – murmuro colocando as mãos no bolso dianteiro do short tentando não transparecer nervosismo. Os três rapazes murmuram coisas como Heahh e Foda, mas não consigo prestar realmente atenção neles, pois Alex usa sua a mão disponível para brincar inocentemente com o gancho do short que serviria para passar o cinto. Engulo em seco e lhe lanço um olhar de “ Que merda você está fazendo?”, mas ele apenas me olha sorrindo descaradamente e depois leva o olhar para sua mais nova distração. Enrola os dedos ali e mais que depressa me puxa violentamente para ele, fazendo com que nossas cinturas se choquem. O baque faz meu quadril doer, mas ignoro mirando os olhos negros e avermelhados.
__ Você está me provocando Clara – sussurra. Tenho vontade de rir, mas apenas o encaro completamente perdida e franzo o cenho sem saber como interpretar aquela frase.
__ Hoje de manhã... –sussurra se aproximando de meu ouvido e mordendo-a de leve. Meu coração palpita em meu peito – Aquela mordidinha de lábios... – Alex tira a mão presa em meu short e a leva até minha boca, passando o polegar por meu lábio inferior. Fecho os olhos apreciando a carícia o máximo possível – Esse seu jeito de gatinha que quer ser onça – seu dedo agora passa livremente por minha clavícula provocando arrepios dos mais variados em meu corpo. Sua mão desce pela lateral da minha cintura e se aloja em minhas costas, me puxando para ainda mais perto. Sua respiração bate em meu nariz e eu sorrio me aproximando de sua orelha.
__ Você prefere a gatinha... – sussurro o mais sensual possível – Ou a onça? Minhas mãos por fim saem de meus bolsos. Uma delas vai até sua nuca enquanto a outra desce até seu bumbum apertando-o. Eu perco toda a vergonha na cara quando estou com ele, só pode. Alex ri, o hálito frio da cerveja batendo em minha bochecha.
__ Tsc Tsc – ele murmura divertido, se inclina e morde meu pescoço com vontade. Arfo numa mistura de dor e prazer e isso só faz estimulá-lo.
Por um momento esquecemos que não estamos sozinhos, pior estamos no backstage sujeitos aos olhares de qualquer pessoa.
Alex larga a garrafa de sua mão colocando-a ao redor de minha cintura, me apertando ainda mais. A garrafa se parte em pedacinhos respingando o restante do líquido e alguns cacos em minhas pernas.
__ Caralho Alex! É uma Dandelion & Burdock... Vai se fuder viu. Jogando fora assim uma Dandelion & Burdock?! – Matt ralha indignado.
Alex não se dá o trabalho de encará-lo, apenas lhe mostra o dedo do meio com a mão esquerda ao mesmo tempo em que me puxa pela nuca com a direita fazendo com que meus lábios vá de encontro com os seus. O beijo começa intenso, nossas línguas se movem freneticamente como se travessem uma guerra. Quem é mais forte? Vários gemidos entrecortados escapam tanto de mim quanto dele. Sua mão esquerda agora volta para minha cintura, apertando-a muito. Sinto dor, mas não ouso reclamar. Minhas unhas brincam de fazer desenhos abstratos em sua nuca e ele geme em meus lábios. Céus aquilo era tão bom. Sentir Alex gemendo em meus lábios.
Algum tempo depois, não sei estimar exatamente quanto o beijo é interrompido por falta de ar e eu me concentro na tarefa de puxar-lhe o lábio inferior algumas vezes. Alex por sua vez, trabalha numa maneira de me deixar louca, infiltrando seus dedos por baixo do fino pano da blusa e uma sensação de formigamento se espalha por onde ele toca. Minha língua contorna seus lábios pedindo passagem para um novo beijo e ele concede. Seus dedos seguem tortuosamente pela linha da coluna até chegar ao feixe do sutiã. O beijo continua um pouco mais calmo, nossas línguas explorando-se, provando-se, Alex brinca com o tecido do sutiã, por um momento eu duvido que ele possa abri-lo, mas como sempre Alex me surpreende desprendendo o feixe com uma habilidade magistral.
Quebro o beijo de uma maneira suave e Alex suspira contrariado de um jeito estranhamente fofo que me faz rir. Lhe dou um último selinho, ele retribuiu frustrado.
__ Você é uma gatinha... Definitivamente
Rolo os olhos e faço algo impensado, o abraço. Ele permanece imóvel por um mísero segundo, mas logo depois retribui meu abraço e ter seus braços ao redor de mim é a melhor sensação do mundo inteiro.
Momentos depois seu celular toca, Alex me solta para atendê-lo e eu tenho vontade de esganar quem quer que esteja do outro lado da linha.
__ Me espera aqui – murmura ao se afastar, eu sorrio por educação em resposta –
Ele já está um pouco longe, mas consigo ouvir perfeitamente o nome Arielle em meio ao sorriso idiota que lhe acompanha os lábios.
Engulo em seco o choro entalado na garganta e a vontade louca de esganar aquela vadia. Saio dali o mais rápido possível. Alex não percebe, está entretido demais.
Aí não
É o primeiro pensamento que vem em minha mente ao abrir a porta de casa e encontrar Catarina sentada apreensiva. Segurava uma xícara de café nas mãos com mais força que o necessário, como se aquilo lhe acalmasse de alguma maneira.
__ Preciso te contar uma coisa – murmura e morde o lábio inferior
__ Hoje não Catarina – digo e nem me dou o trabalho de parar para ouvi-la, sigo reto passando por ela. Não estava a fim de ouvir sua epopeia amorosa, não hoje.
__ Transei com o Daniel – sua voz ecoa atrás de mim.
Me viro para ela, espantada. Depois do que ouve achei que nada poderia piorar meu dia. Meu coração se acelerou, minhas mãos estavam geladas e por Deus! Eu estou chorando?
Eu não devia estar me sentindo assim, esse misto de sensações e... Tristeza? Nada devia ser pior que ver Alex conversar animadamente com a vadia ruiva. Então por que eu estou morrendo de vontade de avançar no pescoço da minha melhor amiga?

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