R U Mine 06: Entrega a Domicílio


Após tomar um longo banho e trocar os velhos band ainds por novos, passei o que restava da manhã e o começo da tarde em frente a televisão. Assim como no Brasil em San Diego a programação aos domingos não é muito atraente. Catarina me deixou sozinha logo após o almoço e há essa hora deve ter comprado o shopping inteiro. Cansada de ficar sozinha em frente a tv peguei o telefone com a intenção de ligar para Daniel, com um pouco de sorte talvez ele esteja em casa. O telefone tocou duas vezes antes de ouvir a voz máscula do outro lado da linha.
__ Alô? – perguntou ele, mas quase não consigo ouvir sua voz pois o local em que está é barulhento demais.
__ Alô, Dani você está podendo falar?
__ Huh? Fala mais alto!
__ Você está aonde? – perguntei mais alto, quase gritando
__ Eu estou em uma festa com uns amigos. Espera um pouco que vou para um lugar menos barulhento
__ Ok – gritei para que ele entendesse. Demorou uns dois minutos até que não tivesse mais barulho.
__ Pra onde você foi?
__ Para o banheiro – ele respondeu divertido – Tem algum problema? Você não costuma me ligar aos domingos.
__ Ah nada não. Achei que você estivesse em casa, pensei que a gente pudesse assistir um filme ou algo assim.
__ Não seja por isso... Eu posso ir te encontrar, a festa nem está tão legal mesmo.
__ Não faça isso – murmurei veementemente – Eu vou sair com uma amiga - menti
__ Ah é? Que amiga? – pelo tom de voz ele não estava convencido da minha estória.
__ A Lucy, ela está me cobrando uma ida ao navio de guerra Midway.
__ Eu estou te chamando para ir até lá desde que você veio do Brasil e você sempre arranja uma desculpa – ele parecia realmente chateado
__ Ok, me encontra lá mais tarde. Às 18:00 está bem pra você?
__ Está ótimo.
__ Até lá então – murmuro e desligo. Eu já estava em San Diego há 3 meses e desde o primeiro dia Daniel foi simpático comigo, me ajudou à procurar um emprego e sempre disse em me levar ao Navio de guerra Midway. Meu apartamento ficava na periferia da grande San Diego, o centro era caro demais, com suas clinicas estéticas e restaurantes exorbitantes me excluindo da vida social Californiana.
Mesmo ido à praia pela manhã o tempo dava indícios de que ia esfriar, então optei por uma camisa de manga longa bem fininha e um casaquinho azul marinho por cima. Saí de casa às 16:30hs isso me daria tempo de passar em uma famosa loja de discos, gibis e livros no centro. Eu estava louca pelo novo cd do Franz Ferdinand.

O caminho até o centro de San Diego foi bem rápido, em 25 minutos eu já estava perto da loja. Desci do Ônibus e fui o restante do caminho a pé. Havia uma fila enorme de pessoas na porta da loja estranhei o movimento em pleno domingo, mas passei por eles sem problemas. Dentro da loja a fila interminável continuava e tive uma sincope nervosa ao entrar e ver o enorme cartaz do Arctic Monkeys. Fiquei parada na porta por alguns segundos hesitando em entrar, mas por fim decidi que Alex não podia ter tamanho poder sobre mim, não é nem um pouco saudável. Na verdade é estúpido.
Entrei de cabeça erguida tentando ignorar a bancada de autógrafos bem ao meu lado e fui direto para a sessão dos cds que ficava no andar de cima. Procurei incessantemente pelo novo cd, revirando todas as prateleiras de indie rock até encontrá-lo.
Daqui de cima eu podia ver perfeitamente a banda distribuindo seus autógrafos, estavam relaxados uma taça de vinho ao invés de um copo d’agua em cima da mesa. Matthew sorria mecanicamente sempre que necessário e rabiscava o cartão de autógrafo Jamie Cook e Nick O’ Malley faziam o mesmo apesar de estarem visivelmente cansados, porém Alex nem em sorrir se preocupava, nem mesmo aquele sorriso cínico destinado à mim algumas vezes. Perguntava o nome da pessoa e o escrevia no cartão tirando uma foto em seguida. Ele estava visivelmente de saco cheio de toda aquela gente, fico imaginando o tempo que os fãs gastam naquela fila e nem um simples sorriso recebem como recompensa. Esse pensamento me faz lembrar de Catarina e do dia em que o encontramos pela primeira vez, a forma fria como a tratou e como trata a todos me faz repudiar, não ele, mas à mim mesma por deixá-lo dominar meus pensamentos desde o festival.
Quando volto de meus devaneios percebo que Alex olha fixamente para mim, suas orbes negras me parecem menores e uma linha roxa abaixo dos olhos denuncia o quão cansado está. Talvez até mesmo drogado. Não desvio o olhar como faria a dias atrás, não demonstro medo ou vergonha. Apenas o encaro fixamente até que o próprio quebra a ligação voltando a dar a pseudo atenção à próxima fã.
Volto para o térreo e me dirijo diretamente ao caixa, sem oscilar nem mesmo um segundo, mas a vontade de olhar para trás e vê-lo é tentadora. Pago o cd e vou embora com o coração a mil. Alex nunca havia me olhado tão intensamente antes e isso me desconcertou apesar da minha posição firme lá dentro.

São 17:40hs quando chego ao Navio e por incrível que pareça Daniel já estava lá a minha espera. Sorrio para ele que vem em minha direção e me recebe com um abraço apertado eu o retribuo da mesma maneira.
__ Achei que você chagaria mais tarde, marcamos aqui às 18:00hs.
__ A festa estava um chatice então resolvi sair mais cedo e chegar antes de você.
__ Legal você sabe que eu odeio esperar mesmo.
__ É eu sei – murmurou divertido
Caminhamos pela orla e visitamos o Navio atracado no porto desde a segunda guerra, era um navio que transportava aviões por isso seu tamanho me impressionou. Daniel me contou a estória super empolgado como um verdadeiro guia e depois fomos comer no McDonald’s que era o que nossas finanças suportavam.

Mais uma vez como de praxe Catarina e eu saímos atrasadas de casa para a escola e por pouco não perdemos a primeira aula de geometria que, aliás, estou a um fio da recuperação. Estudar matemática em uma língua estrangeira não é nada fácil. Então após receber meu milésimo D esse mês resolvo recorrer ao meu amigo gênio.
__ Dan, será que você poderia me dar uma ajudinha em matemática depois da aula?
__ Hoje? – ele pergunta hesitante.
__ Não, sei lá marcamos um dia depois do trabalho. Pode ser?
__ Pode sim. É só me avisar.
__ Brigadão – murmuro e volto a prestar atenção no professor, como se fosse mudar alguma coisa.
A hora do almoço chega bem rápido, como um lanche voando e no caminho da loja liga para minha mãe no Brasil. Nós nos falamos via internet quase todos os dias, mas ela me mata se eu não lhe ligar pelo menos uma vez por semana. Fez as típicas perguntas de mãe “ Você está se cuidando?” “Tá comendo direitinho?” E por aí vai...
Ao abrir a loja o cheiro de mofo e pó estava muito mais forte devido ao fim de semana fechado. Deixei minhas coisas atrás do balcão e fiz questão de abrir todas as janelas deixando o ar menos carregado. Varri a loja inteira e troquei os produtos na vitrine, durante a semana passada alguns discos novos haviam sido doados entre eles o primeiro LP de Jimi Handrix “Are you experienced” Fiquei louca com a possibilidade de comprá-lo, por isso resolvi que só o deixaria na vitrine essa tarde, se ninguém comprá-lo – que provavelmente irá acontecer – eu mesma o compro. Seria um ótimo investimento.

Após o fim da faxina resolvi adiantar alguma lição do colégio pra me livrar de ter que fazê-la em casa. Estava entretida em meu problema de matemática tão entretida que não ouvi o sino que denuncia quando um cliente chega. Por isso levei um susto ao ver o disco do Jimi Handrix balançando em minha frente e um susto maior ainda ao ver quem o segurava.
__ Olá senhorita – ele balançava o disco em minha frente sorrindo de lado.
__ Oi – murmurei tentando acalmar a palpitação em meu peito.
__ Eu estava passando em frente e não resisti ao ver um legítimo LP do  Handrix e pensei por que não cumprir a promessa de ontem à... – ele gesticulou. É claro que ele não lembrava meu nome.
__ Ana Clara – respondi engolindo em seco
__ Clara... Combina com você
__ Ana, pode me chamar de Ana eu prefiro – murmuro quase sem voz. Seus olhos negros brilhando através da iluminação que vinha da porta. Abaixou-se um pouco mais se debruçando sobre o balcão, seus olhos a poucos centímetros dos meus.
__ Clara – ele murmurou sexy - Eu gosto de Clara.
Suspirei desistindo, ele não parecia ligar para como eu gostaria de ser chamada.
__ O disco não está a venda – murmurei tremendo dos pés a cabeça.
__ Não? Então por que ele estava na vitrine? – ele arqueia a sobrancelha de um jeito interrogativo.
__ É que eu estava a fim de comprá-lo – não sei por que resolvi contá-lo sobre isso, talvez uma pequena esperança dele deixar a compra de lado.
__ Quanto custa?
__ 15 dólares – respondo em um murmuro
__ Eu vou levar – ele diz se afastando para pegar a carteira no bolso traseiro. Minhas esperanças de ouvir o disco de esvaem, seria muito difícil encontrá-lo novamente e quando o encontrasse não estaria dentro do meu orçamento. Sr. Smith vendia clássicos a preço de banana.
__ Estou disposto a pagar 30 dólares. Você entrega à domicilio?
Minhas sobrancelhas arqueiam no mesmo instante, que tipo de pergunta era aquela? Ele sorri lindamente e pega uma caneta anotando algo em um papel. Permaneço parada, não entendendo nada.
__ Te vejo às 20:00hs – murmura largando a caneta e o pedaço de papel no balcão 
__Clara  – sussurra meu nome de modo sexy, seu tronco está levemente curvado sobre o balcão, fato que nos deixou ainda mais próximos. Tão próximos que ignorei o fato dele ter me chamado pelo segundo nome.
Alex atravessou a porta deixando o disco e o bilhete com uma letra que mais parecia um garrancho mal feito em cima do balcão.
“ Gran America Hotel, quinto andar quarto 505”

5 comentários:

  1. humm... entrega a domícilio...ri muito nessa parte! muito boa XD

    ResponderExcluir
  2. Lia Rodrigues09/02/2013, 22:51

    quarto 505 huuum interessante kkkkk

    ResponderExcluir
  3. essa fic é chata pra crl

    ResponderExcluir
  4. asokasoaskoaskoaskasa
    detalhe ele murmura muito bom!

    ResponderExcluir

Não precisa estar logado em lugar nenhum para comentar, basta selecionar a opção "NOME/URL" e postar somente com seu nome!


Se você leu o capitulo e gostou, comente para que as autoras atualizem a fic ainda mais rápido! Nos sentimos extremamente impulsionadas a escrever quando recebemos um comentário pertinente. Críticas construtivas, sugestões e elogios são sempre bem vindos! :)