Now then, Mardy Bum 1O: But you wanna play it just in case


A lanchonete em que paramos é uma das minhas favoritas por inúmeros motivos. Ela tem grandes sofás vermelhos típico de seriado americano; a melhor panqueca com calda da cidade; um jukebox e algumas maquinas de jogos como fliperama ou pinball etecnicamente, foi onde consegui o apartamento e o trabalho. Para uma pessoa que nunca lê jornal foi uma surpresa agradável descobrir uma oferta de emprego e um certo mexicano bonitão procurando um colega de quarto quando tentava ler uma tirinha, entre um gole de café e outro.
Nós sentamos e uma garçonete gordinha com senso de educação maior do que o usual nos trás um cardápio. Escolho ovos mexidos e panquecas enquanto Alex pede um hambúrguer qualquer. Ele está concentrado demais entalhando alguma frase ou palavra na lateral da mesa com a ponta de um chaveiro metálico e eu resisto ao impulso de dar um soquinho em seu antebraço para que pare de vandalizar minha lanchonete preferida porque estou curiosa em saber o que escreve, mas ele não diz e não pergunto.
Ele morde a parte interna da boca de forma discreta e me surpreendo ao notar que reconheço esse gesto, essa mania. Alex costuma morder o polegar ao invés do lábio inferior, mas como suas mãos estão ocupadas, consigo ver a relação. Quer dizer que ele está perdido em devaneios, emerso no limbo que os grandes compositores parecem se esconder vez ou outra. Na maior parte do tempo não faço ideia do que poderia estar acontecendo ali dentro e por mais que seja cansativo tentar acompanhar, não posso negar que é fascinante. A maneira como passa os dedos por mesas ou bancadas experimentando a sensação das mãos calejadas acostumadas à cordas de violão e guitarras em superfícies lisas ou em qualquer outro lugar, fazendo qualquer outro movimento simplesmente porque têm dedos inquietos.
— Um pouco tarde para jantar — comento referindo ao horário e a escolha pelo hambúrguer, porque nenhum dos dois disse nada pelos últimos vinte minutos e o silencio começa a me incomodar, ainda que não sufoque.
— Um pouco cedo para o café da manhã — rebate sem olhar para cima. Touché.
— Porque sempre tem uma resposta irônica pra qualquer pergunta que eu faça? — pergunto soprando a franja dos olhos e colocando a mão em concha para segurar o queixo.
— Porque você tem um jeito que...
— Te irrita? — completo com um pequeno sorriso.
— Me inquieta. — Alex responde ainda concentrado na lateral da mesa.
Concordo com a cabeça e mexo no saleiro bonitinho da mesa, lembrando a mensagem de texto que recebi de Jamie pela manhã, pedindo ajuda com o código vermelho. Código vermelho, como atenciosamente explicou na mensagem seguinte, era como chamavam garotas bêbadas que não queriam ir embora pela manhã. Disse que a garota com quem ele estava era mais um código rosa, mas a de Alex era definitivamente um vermelho. Vermelho vomito, provavelmente e eu acabei ignorando.
— Cook me pediu ajuda com um código vermelho, hoje de manhã... — ele hesita por meio segunda e percebo o lábio se contraindo numa linha fina. Não está feliz pelo Jamie ter me contado, suponho — Trocou a Garota Bonita pela Garota Bêbada, Turner?
— Eu não troquei ninguém. Relacionamentos terminam e outros começam Olivia, é assim que acontece.
— Você e a garota bêbada estão num relacionamento, agora?
Sua cabeça se inclina para o lado um pouco e ele puxa um maço do bolso, brincando com um cigarro entre os dedos antes de o acender com o pequeno isqueiro prata.
— Porque? Está com ciúmes? — está zombando de mim, o puto.
— Não seja convencido, não tenho interesse nenhum em você. — respondo tentando soar durona e independente, mas acho que não sai com tanta convicção como queria.
A resposta dele é instantânea e cheia de confiança, enquanto guarda o isqueiro no bolso.
— Ah, eu discordo...
A garçonete educada chega com nossos pedidos e eu sinto que os ambos fomos salvos pelo gongo. Porque eu tinha um discurso de “Como Nem Todas As Garotas Querem Dar Para Você”, enquanto ele provavelmente tinha um discurso com cinquenta e quatro respostas prontas em frases que transbordam escárnio para provar que “Sim, Nem Todas, Mas Tem Que Admitir Que a Maioria Quer”.
— Qual é a do dono do bar? — Alex pergunta antes de tomar um gole de sua bebida — James alguma coisa.
— Jesse. — corrijo automaticamente.
— James, Jesse... Foda-se.
— O que quer dizer com “qual é a dele?” A dele é o Hard Rock. E ele não é o dono, só gerente.
— Dono, gerente... Foda-se. E entendeu o que eu quis dizer. Qual é a dele com você.
Um sorriso inocente e irônico nasce em meus lábios.
— Porque? Está com ciúmes? — agora eu estou zombando do puto.
— Só estou curioso. — ele dá de ombros casualmente demais — Você quis saber sobre a Garota Bêbada e eu queria saber sobre o Dono Do Bar.
O encaro colocando uma garfada na boca, interessada, porque por mais que eu adore bancar a durona, estou curiosa. Curiosa em saber mais sobre a historia da Garota Bonita/Garota Bêbada e o porquê dele se importar com qual é a intenção de Jesse comigo.
— Pensei que não fosse da minha conta com quem você saísse. — Alex continua bebericando sua cerveja com atenção e o tempo passa sem pressa — Então estamos quites? — pergunto enfiando uma garfada de panqueca com calda na boca, tentando desesperadamente mudar de assunto.
— Quites?
— É, me ajudou com o apartamento e te ajudei com a garota persistente, agora há pouco.
— Chama isso de “quites”? Você me trouxe para tomar café e eu fiz trabalhos braçais. Nah, estamos bem longe disso. — ele roe a unha do polegar e dá uma inspecionada no lugar, dando atenção à área de jogos. Ok, então ele é um gênio da musica com fetiches por jogos... Alex levanta e me puxa pela mão. — Vem, vamos ficar quites.
— O que, quer apostar mais uma vez? Quer perder mais uma vez? — pergunto com os braços cruzados no peito. Alex da de ombros com um sorrisinho vitorioso e eu relaxo — Tudo bem, quando eu ganhar... Que tal alguns favores?
— Sexuais?
— Não, você tem alguns contatos na indústria da musica e eu poderia trabalhar em algo assim quando vocês fossem embora. Seria útil. — Alex não dá muita importância, dando de ombros e concorda. — E o que quer?
— O que você acha? — repete a resposta da ultima vez com um meio sorriso.
Então talvez Alex tenha sido tolo em colocar todas as suas fichas na vitoria garantida do jogo de sinuca, pouco quase duas semanas, mas eu sabia que ele não pretendia cometer o mesmo erro. Não iria subestimar minhas habilidades em jogar Pebolim – mesmo que, vamos admitir, não seja um jogo exatamente difícil -, mas o ar confiante ainda era palpável. Ele não pretendia perder dessa vez e eu o admirei pela persistência por uns dez segundos antes de ignorar e dizer foda-se ao orgulho que ele queria recuperar, porque eu não podia negar que gostava de vencer.
O jogo não era um dos meus preferidos e dessa maneira, não tinha tanta experiência. Não havia muito que fazer, só mexer os bonequinhos e impedir a todo custo que a bola entrasse no gol. A iluminação nessa área da lanchonete não é das melhores e a bolinha branca passa tão rápida pelas pernas dos jogadores de plástico que por vezes me pergunto se está se teletransportando, porque eu não me lembro de ter reflexos tão ruins...
Turner escolhe melhor de três de quinze pontos para deixar as coisas mais emocionantes e quando eu ganho o primeiro “set”, começo a ficar mais feliz e confiante. Não dura muito, porque alguns minutos depois e quinze pontos mais tarde, o placar está um a um.
O próximo começa mais cauteloso para ambos os lados, mas não consigo não me distrair quando levanto os olhos para observá-lo e ele está me olhando e sorrindo. Não é o sorriso sarcástico ou sexy, é um sorriso genuíno e aposto que o vi raras vezes; Alex está simplesmente... se divertindo. E isso tudo soa tão comédia romântica que eu podia vomitar, mas aí ele começa a ganhar e agir como um babaca pretensioso e eu me lembro que nah, não é o Ashton Kutcher contracenando comigo, é só o Turner.
Então estamos na ultima partida, ele com 10 pontos e eu com 12. Há esperança, eu só preciso fazer mais três pontos e terei minha vitoria, não precisarei lidar com o que quer que Alex queira; não coloquei muito pensamento nisso. Ele me alcança rapidamente quando seus jogadores de plástico fazem gol com facilidade. Consigo um ponto a mais e ele faz mais dois, nos deixando com 13 e 14. Começo a ficar nervosa como uma garotinha. Porra.Porra, porra, porra.
Engulo seco, passando os dedos pela franja. Ele não conta a partida como ganha ainda, mas não está metade nervoso que eu. Continuamos jogando, ambos fazendo um bom trabalho com os goleiros, mas de algum jeito, depois de uns dois minutos de defesa, a bolinha branca entra no gol. O meu.
— Creio que a partida seja minha, Mardy Bum e, por conseguinte, você também.
Congelo no lugar e Alex sorri, contido. Depois bagunça o cabelo daquele jeito de arrumá-lo, dá dois passos em minha direção eliminando a distancia entre nós e me puxa pela cintura. E antes que eu tenha tempo de raciocinar, sua mão direita puxa minha nuca e sela nossos lábios.
Dessa vez não começou de maneira violenta devido ao desejo reprimido. Seus lábios começam provando os meus com lentidão talvez exagerada, como se quisesse memorizar cada curva da minha boca. Meu corpo relaxa conforme o beijo prossegue e minhas mãos se deslocam em direção sua nuca de forma quase inconsciente. Aos poucos o ritmo de intensifica, me fazendo reconhecer que sim, ele realmente tem talentos espetaculares nessa área. Nossos corpos começam a responder aos estímulos, sempre buscando eliminar a distancia inexistente e até eu sou pega de surpresa quando deixo escapar um gemido baixinho e contido, fazendo Alex sorrir contra minha boca e segurar meus quadris com mais convicção.
E então a Garçonete Não Mais Educada nos empurra com pouca delicadeza resmungando sobre estarmos na frente da porta. Assim, termina com a mesma rapidez que começou e meus lábios instantaneamente querem voltar para o lugar onde estavam segundos atrás. Ele não me solta completamente quando se afasta, colocando o braço direito ao redor da minha cintura de maneira possessiva. Sinto o gosto da cerveja que Alex bebia e da calda de chocolate das panquecas e é estranho notar que esse pode ser o melhor sabor de beijo que já experimentei.
— Então qual é a dele? — pergunta me despertando.
— O que? —meus pensamentos ainda estão nebulosos.
— O dono do bar. Vi como ele te olha. — repete impaciente, separando as palavras como se eu tivesse algum tipo de retardo mental — Qual é a dele com você.
— Gerente. — corrijo para irritar. Ele rola os olhos. — Esquece isso, você já conseguiu o que queria.
— Exatamente. Então me diz.
— Por quê? — posso sentir a ruga de expressão se forçando entre meus olhos.
— Porque ganhei e é isso que eu quero.
Paro por um segundo, tentando me afastar para encará-lo, mas ele não permite espaço.
— É isso que você quer? Saber sobre o Jesse? — pergunto incrédula pensando do que acaba de acontecer, quando pensei que eu fosse o premio.
— O que achou que eu quisesse? — sua cabeça se inclina e a expressão dele é da mais pura falsa inocência — Porque agora começo a pensar que talvez você tenha perdido de propósito.
— Bem que você queria. — resmungo cruzando os braços no peito.
— E você não? — a pergunta não é exatamente maldosa, maliciosa sim, mas carregada de interesse real. Porque ele sabe que conseguiu me dobrar e o sorriso sacana indica que ele consegue ouvir as batidas cardíacas frenéticas em meu peito, sempre que ele faz menção em me tocar.
— Acha que eu estava tão desesperada para acabar nos seus braços que te deixaria ganhar? Vamos lá, não é como se você não tivesse se oferecido numa bandeja de prata. — decido provocar e tentar ferir seu ego, mas Alex não se abala. Se muito, aprecia o comentário; suspeito que goste quando não facilito.
— Não ofereço nenhum desafio, é isso que está dizendo, Olivia? — ele ri e o som aquece meu coração, porque não é o sorriso cretino, o sorriso torto de quando ele quer algo; é um riso genuíno.
— Sua risada é bonitinha — digo antes que consiga parar as palavras de saírem. Alex pisca uma ou duas vezes, porque não é o que ele esperava e antes que possa agradecer ou fazer algum comentário, interrompo voltando ao assunto — Nah, você só quer o que não pode ter.
— Não é verdade. Essa noite, eu queria você... — ele faz carinho em minha bochecha com as pontas do dedo e em seguida desce para tirar uma mecha do ombro e clavícula, deixando a área desnuda. —E agora eu tenho.
Ele está agindo como um babaca pretensioso, mas não é o babaca pretensioso que conheci semanas atrás. Agora ele está zombando de mim e por mais que eu tente, não consigo deixar de rir. Também não tenho a falsa esperança de conseguir me desvencilhar de suas mãos grandes e ossudas, agora. Alex provavelmente não deixaria e eu não teria vontade o suficiente para tentar. Seu nariz toca o meu antes de sua boca e ele morde meu lábio inferior, puxando em sua direção e o beijo recomeça, mas por poucos segundos.
— Não é justo. — murmuro assim que recupero o fôlego.
— Ninguém disse que seria justo. — Alex abre os lábios num sorriso torto e debochado.

Um comentário:

  1. Lia Rodrigues31/01/2013, 18:03

    lendo de novo pq quando eu fui continuar no nyah! ela ja tinha sido excluída u.u , mas a emoção continua a mesma :)

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