Now then, Mardy Bum 16: Quick, let's leave before the lights come on


A garota era gostosa, um pouco mais baixa do que deveria, mas tinha uma bunda legal e não falava muito. Ponto pra ela. O sexo foi surpreendentemente medíocre, mesmo que ela fosse flexível - franzo cenho tentando lembrar a profissão da garota para que ela fosse elástica daquela maneira. Dançarina, stripper, bailarina ou algo com um daqueles tipos de exercícios nos quais as garotas se contorcem em tapes acolchoados -. Parecia que eu simplesmente não conseguia... Me concentrar.
Em nada, para ser mais especifico.
Encaro o papel rabiscado a minha frente e faço alguns ajustes finais, condizente com a noite que tive.
Ouço Olivia e a garota com quem dormi noite passada conversarem, mas além do tom hostil de ambas, não consigo entender o que dizem. Coço a cabeça, mordendo a tampa da caneta e olhando de soslaio para meu quarto. Eu não devia ter fechado a porta. A intenção de chamar a Olivia aqui não era ver sua reação?
Ela não me pareceu incomodada como deveria, mesmo que eu não tenha certeza de como ela deveria se sentir. Fiquei meio puto quando a vi com o James no festival. Caguei pro hematoma que ele provavelmente carrega até hoje. Fecho e abro o punho sem dificuldades tentando eternizar a sensação do rostinho dele contra meus dedos fechados.
Viro a pagina do caderno surrado e deixo meu corpo cair contra o sofá do apartamento. Encaro o teto por alguns segundos e brinco com o copo de vidro que Nick deixou no criado mudo ao lado. Não demora muito para a garota sair com um vestido amarrotado colocado as pressas. Ela não olha pra mim e eu não levanto o rosto. Mantenho os olhos focados nas bordas transparentes até que Olivia saia do quarto e se encoste ao batente. Ela parece inofensiva, olhando por ele ângulo. Assustada, até. Como uma garotinha. Quando ela passa os dedos com as unhas pintadas de vermelho eu me lembro que de o temperamento naturalmente irritado e encrenqueiro dela não tem nada de pequeno.
A boca dela é bem desenhada, com uma curva saliente no lábio inferior que faz com que pareça que ela está sempre fazendo biquinho. Ou sorrindo. Pelo canto de olho, não dá pra ter certeza. A franja está grande demais e cai sobre os olhos, fazendo com que ela passe os dedos pelas mexas como se estivesse ansiosa. Consigo ver seus olhos por poucos segundos, mas sou agradecido por eles. Os olhos castanhos não são incomuns, mas os cantos externos parecem mais levantados, como se ela tivesse um olhar de gatinha.
— É tão difícil quanto parece? — Olivia pergunta mordendo a unha do polegar. A encaro. — Escrever musica, quero dizer.
Balanço a cabeça. —Não tanto. Escrever não é o mesmo que falar, eu luto com conversas.
Suas sobrancelhas se levantam.
— Sério? Parece que você tem um monte de respostas prontas.
— Só porque você faz um monte de perguntas.
Ela sorri, meio cansada e eu acompanho, porque percebo que fiz de novo.
Me indireto no sofá, sentando e colocando os antebraços nos joelhos.
— Você se acostuma a dar respostas vagas, generalizadas. A não dizer mais do que deveria. No começo... quando o Whatever People Say I Am, That's What I'm Not se tornou o album de estréia vendido mais rápido, houve uma grande comoção. As pessoas começaram a se interessar em todos nós com uma velocidade assustadora. E lá estávamos nós, garotos de o que? 17 ou 18 anos, respondendo perguntas pessoais.
Ela me olha com atenção, escutando tudo que digo. — E isso te incomodava?
— Não exatamente. Quero dizer, nós só queríamos fazer... musica. A parte de dar entrevistas e de sermos considerados foda só porque éramos jovens era um pouco idiota. Eu nem me dava conta do que estava respondendo até ler na revista. Sobre minha virgindade, sobre drogas e coisas do tipo. E minha avó lia a NME.
Olivia sorri, compreensiva. Eu relaxo.
—Devo ter assistido uma ou duas entrevistas suas, algum dia. — morde o lábio inferior, envergonhada.
Quase rio. Finjo não dar muita importância. — É?
— Você tropeçava muito nas palavras. Parecia assustado e entediado. Entediado pra caralho, o tempo todo.
— Eu sempre queria que minhas frases fossem pelo menos três sentenças mais curtas, toda vez que abria a boca na frente de um microfone e uma câmera.
— Era engraçado, na verdade. Como se você não fosse capaz de juntas palavras que fizessem sentido... E aí você escrevia as musicas e eram...
Ela sinaliza com as mãos para o ar.
— Eram? — insisto.
— ... Boas.
Arqueio as sobrancelhas. — Boas? Wow, não precisa exagerar.
Olivia chuta meu pé com a bota e ri. Fico olhando pra ela por um tempo até que ela fique desconfortável.
— O que foi? — pergunta, mexendo na blusa. Não respondo. — O que você tem?
Coço a cabeça e olho pra página branca e amassada, meio preenchida do caderno, lendo cada palavra que escrevi antes dela chegar, com cuidado.

The tricks stand between | Os truques ficam entre
the fantastic dream | o truque fantástico
and the fear | e o medo
do you wonder where she is this afternoon? | Você se pergunta: onde ela está esta tarde?
and does it get on your nerves | e isso entra em seus nervos
make you slightly perturbed | torna-o um pouco perturbado
that there's things that you don't know about her? | que há coisas que você não sabe sobre ela?
and even the places that she's never been with you, seem awful empty without her | e até os lugares que ela nunca esteve com você, parecem horrivelmente vazios sem ela
— Eu não sei... — respondo, porque é a verdade.

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