R U Mine 19: I know you're somewhere around here


Conseguia sentir perfeitamente a textura do papel em minha mão, era pequeno e frágil. Eu passava o dedo por entre as letras miúdas em relevo tentando achar um rumo para meus próximos passos. Eu poderia ficar em casa essa noite, assistir um filme com Daniel e desperdiçar 100 dólares do meu suado trabalho. Ou então ir ao Show, ouvir musica e em certo momento ouvi-lo cantar. Aquele maldito sotaque, aquele maldito cabelo...
__ Você ainda não se arrumou? - Minha melhor amiga está encostada na penteadeira me estudando com seus olhos azuis. Trajava um vestido florido de alcinha e uma sapatilha vermelha nos pés, o cabelo castanho caía em ondas por seu ombro, nos lábios apenas um gloss rosado.
__ Eu... – O que eu podia dizer? Desculpe querida, mas não quero ir ao Show
__ Porque diabos você ainda está de toalha? Meu Deus Ana! Desse jeito nós vamos ficar perto dos banheiros químicos!
__ Eu...
Qual é Ana Clara qual a dificuldade em dizer: eu não vou mais?
__ Eu já vou me arrumar – repondo em um suspiro, largando o ingresso na cama e indo em direção ao guarda roupa.
Eu não podia deixa-lo ter tamanho controle sobre minha vida, além do mais, Arctic Monkeys não era a única banda que tocaria no festival.
20 minutos depois estou pronta. Short Jeans, camiseta do Duran Duran, que aliás seria uma das atrações, chinelo nos pés e um cardigã azul marinho caso faça frio. O cabelo preso em um coque frouxo e mal feito e um gloss rosado nos lábios dá um toque final a minha “super produção”.
Pegamos um ônibus até o festival que fica aos arredores. No caminho deparamo-nos com várias barracas sendo desmontadas e multidões rumando no mesmo sentido.
Ao chegarmos lá, me surpreendo com a quantidade de pessoas na nossa frente, umas mil pelo menos. Catarina solta um muxoxo e me culpa com os olhos por não estarmos tão perto do palco. Não posso dizer que não esteja aliviada, ouvir sua voz já seria difícil, imagine olhá-lo tão de perto.
Aquele dia no bar, senti meu coração disparar loucamente ao vê-lo, Alex agiu como se nunca tivesse ido embora. O mesmo sorriso e o mesmo senso de humor irônico. Ele estava ali como se nunca tivesse partido, como se não fizesse quase 7 meses que não nos víamos. Era como se ele tivesse dormido em casa na noite anterior. Eu estava extremamente desconfortável, a naturalidade com a qual me encarava estava me dando náuseas, então pedi licença fugindo o mais rápido possível dele. Sentia minha respiração acelerada e as pernas vacilantes. Encontrei com Daniel no caminho, ele me sorriu e beijou-me os lábios rapidamente perguntando se estava tudo bem e porque eu havia deixado a pista. Inventei uma desculpa rapidamente e disse estar com pressa para ir ao banheiro.
Não sei por quanto tempo encarei o espelho, vendo uma Ana Clara abatida, o sangue parecia ter fugido completamente do meu rosto, retoquei o blush e suspirei por algumas vezes antes de voltar para meus amigos, afinal eu não poderia me esconder por muito mais tempo.
Estava no corredor, voltando para a parte mais cheia do bar quando sinto minhas costas baterem contra a parede e um cheiro característico invade minhas narinas.
__ Achei que fosse morar no banheiro – Alex murmura divertido. Seus olhos me estudam com afinco e eu tremo.
__ Me solta – Não foi um pedido. Ele me encara por mais alguns segundos e assim o faz – O que você quer?
__ Tá bravinha é? – sua feição é impenetrável, mas seus olhos carregam um divertimento palpável.
__ Alex eu não estou com saco para suas ironias então por favor...
__ Eu só queria saber se você está legal. Não me parecia muito bem no bar
Ah por que será?
__ Eu estou ótima, agora se me der licença eu preciso voltar para o meu namorado
Alex ergue umas das sobrancelhas, o divertimento em seus olhos se apaga por um mísero segundo, mas logo está lá de volta, acompanhado de um sorriso de canto de boca.
__ Namorado é? – ele parece estar se divertindo e aquilo me intriga a ponto de eu franzir o cenho, confusa.
__ É, namorado.
__ Ok. Volte para o seu namorado – ele fez questão de dar ênfase a “namorado”.
__ Tchau Alex
__ Até – ele murmura colocando um cigarro na boca. Eu o deixo lá, quando estou quase perto mesa, ouso olhar para trás e encontro seus olhos negros me questionando. Ele solta a fumaça do cigarro e sorri de lado, fazendo meu coração disparar.
Depois do fatídico aniversário não o vi mais, eu estava evitando até mesmo ouvir sua voz.
Ficamos em pé por mais de três horas até que a primeira atração da noite entra no palco.
The Strokes me faz mergulhar em suas musicas energizantes e dançantes, meus pés de repente ganham vida própria e por algum tempo me permito fechar os olhos e apenas dançar. As outras milhares de pessoas me acompanham tão ou mais animadas que eu, pulando e cantando junto durante toda a playlist.
Sinto meu estomago se revirar ao saber que a próxima banda a se apresentar é justamente aquela que venho evitando. Catarina está eufórica ao meu lado, já eu não consigo fingir tão descaradamente. Quando ela pergunta se eu estou animada, apenas assinto levemente com a cabeça e sorrio amarelo.
Mais alguns minutos e todos os instrumentos estão a postos, a essa hora pressuponho que eles devem estar na coxia a espera do show enquanto fumam um baseado, bebem cerveja e jogam conversa fora. Minha ansiedade aumenta ao ver Alex entrar no palco com seus passos tímidos, de cabeça baixa e coçando o nariz. Pelo telão consigo detalhes que a olho nu seriam impossíveis de ser percebidos devido a distancia. Seus olhos e nariz estão levemente avermelhados, ele morde o lado esquerdo da bochecha enquanto arruma a Fender junto ao corpo. Seus olhos perpassam a multidão ensandecida como se procurasse por algo, um suspiro é dado e logo depois a guitarra começa a trabalhar, soando a melodia animada de uma das musicas do disco novo.
__ Hello Coachella! We are Arctic Monkeys from Sheffield fucking Heeeeeell
Alex pulou levando a plateia junto, meus olhos vidraram no telão e por mais que eu quisesse me manter parada, simplesmente não conseguia. A musica, cuja qual não sabia o nome, tinha um ritmo contagiante.
O show seguiu mesclando musicas do novo cd com musicas já consagradas. A musicas novas no geral chamaram minha atenção e eu criei uma nota mental de pegar o cd de Catarina emprestado para ouvi-lo.
__ Are you feeling good Coachella? – murmurou obtendo gritos estericos em resposta – Nice… Well, the next song is a very special song for me, it’s from the new disco and I hope you enjoy it.
Sorry ao vê-lo arrumar mais uma vez a guitarra, respirou fundo, sorriu e murmurou.
__ Clara I know you're somewhere around here

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