R U Mine 03: Deliciosa arrogância/ Transparencia


__ A-A-Alex? – tentei lutar contra a gagueira, mas foi impossível. Um segundo depois, a expressão de espanto relaxou e ele repuxou aquele característico sorriso de lado, tirou os óculos escuro e redondo do rosto sedutoramente para depois invadir meus ouvidos com seu timbre de voz suave e rouco.
__ Você de novo senhorita?

Ficamos nos encarando por alguns segundos até que eu finalmente me movi para pegar o espanador em meus pés, estava tentando ganhar tempo até criar a coragem necessária de dirigi-lo a palavra.
__ Deseja algo? – perguntei desconcertada, tentando não olhá-lo diretamente nos olhos, mesmo há alguns passos de distância eram ameaçadores demais.
__ Depende... Essa espelunca tem algo de bom? – murmurou com toda sua prepotência enquanto  varria o local com os olhos.
__ Depende do seu conceito do que é bom ou ruim – contra ataquei. Ô sujeitinho metido.
__ Vou ver se consigo achar algo do meu interesse – murmurou passando por mim e indo em direção a velha estante que eu limpava a pouco. Havia muitos discos lá, de Jimi Hendrix a Britney Spears, todos frutos de trocas ou doações.
Ele começou a procurar entre os ínumeros discos enquanto eu voltei ao meu lugar atrás do balcão, já que não tinha muito que fazer mesmo. Ele avaliava cada um dos discos que passavam por sua mão despreocupadamente e assoviava descontraído, me restando apenas observá-lo, mesmo que de costas.
Após longos minutos Alex saiu de lá com dois discos na mão e veio até mim, neste momento meu coração permaneceu com sua frequência cardíaca inalterada, já que eu estava a todo o tempo me concentrando em não parecer uma idiota quando ele chegasse perto.
__ São 10 dólares – murmurei mirando-o. Ele nada disse, apenas tirou a nota da carteira e a jogou em cima do balcão. Eu o encarei incrédula, será possível maior falta de respeito?
__ Que foi? – perguntou dissimulado como se eu fosse algum tipo de retardada.
__ Eu tenho mãos, então, por favor – murmurei gesticulando com a cabeça para a nota jogada no balcão. Tá pensando o que? Só porque é gato e famoso pode me tratar do jeito que quer é?
__ Você não está querendo que eu... – ele apontou para a nota no balcão, repuxou aquele sorriso que eu tanto odeio e logo depois cruzou os braços, com o sorriso ainda maior e mais prepotente e olhos desafiadores. Sustentei o olhar o máximo que pude, mas fui vencida por aquela imensidão negra e baixei o olhar, mirando meus velhos tênis novamente.
Ele riu debochado, tive vontade de xingá-lo, porém detive-me ao perceber que ele se afastava indo na direção da porta. O dinheiro ainda estava em cima do balcão, encarei a cena pasma e o filho da puta ainda teve o disparate de olhar para trás e dar uma piscadela pra mim. Se o objetivo era me matar de raiva, ele conseguiu passar bem perto.
Depois da ilustre visita me mantive inquieta, olhava para a porta de tempos em tempos numa agitação incontrolável. Tinha a impressão de que ele adentraria a porta à qualquer momento. O sorriso debochado em seu rosto decorava minha mente, tentei de vários artifícios para expulsá-lo de mim, liguei um vinil antigo do Elvis Presley, tentei me concentrar em um dos milhares de livros ao meu redor e até mesmo retomar a faxina interrompida por ele. Mas nada adiantou.
Quando o relógio marcou 16: 30hs mesmo ainda faltando 30 minutos para o fim do expediente, fechei a loja em tempo Record. Caminhei pela rua passando em frente à enorme gravadora e rumei para o ponto de ônibus.
__ Ana! – ouvi um gritinho de alegria assim que terminei de girar a maçaneta da porta
__ Oi Cata – sorri de volta largando a mochila em um canto qualquer – Que animação toda é essa?
__ Adivinha só? Consegui entradas para a inauguração daquela mega boate lembra? – murmurou abanando as duas entradas no ar – Eu sei que você não cur...
__ Sério? – me aproximei pegando as entradas de suas mãos – E são VIP? – completei ao ver o enorme VIP impresso na parte posterior do ingresso – Legal. Eu estou precisando de distrações mesmo – murmurei menos animada.
__ Ainda bem que você gostou da ideia, já estava cogitando ter de chamar outra pessoa. Você nunca vai aos lugares que eu te chamo pra ir – ela pegou os ingressos de volta e depositou um beijo em cada um deles. Rídiculo.
__ Agora você já tem companhia – fui até a bancada da que separava a sala da cozinha e peguei uma maça de cima dela – Que dia é mesmo?
__ Esse fim de semana, menina o tempo passa voando... – desliguei a parte do meu cérebro que abstrai o que Catarina diz. A partir daí com certeza o assunto viraria um monólogo de longos minutos, as vezes eu até tentava prestar atenção no que ela diz, mas são muitas palavras em um curto espaço de tempo, além do que Catarina tem uma facilidade incrível para mudar de assunto e eu sempre acabo me perdendo no meio do caminho.
O fim de semana chegou para meu deleite. Era sábado e pude dormir até mais tarde, Catarina andava elétrica pela casa com bobs no cabelo e uma mascara verde na cara extremamente preocupada com o que vestir na grande noite enquanto eu comia minha torrada tranquilamente e observava ela andar de um lado para o outro freneticamente e fazendo combinações de roupa de cabeça.
__ Se aquieta garota ou você vai ter um troço antes da festa.
__ Eu tenho que estar PERFEITA, você não está entendendo, vai ter um monte de gente importante lá. É a minha chance de ser descoberta!
__ Eu sei, só acho que você tem que ter o pé um pouquinho fincado ao chão – Catarina vivia sob a perspectiva de um dia virar uma grande estrela.
__ Eu estou com eles bem fincados – murmurou de volta, levemente irritada.
Faltando uma hora para o horário de sairmos, tomei banho e me arrumei relativamente rápido. No fundo preferia ficar em casa assistindo um filme, mas eu realmente estava precisando distrair a cabeça. Vesti-me de maneira relativamente simples, porém elegante o bastante para aumentar minha autoestima, prendi a frente do cabelo, me maquiei e sai logo do quarto, pois Catarina já estava tendo um filho na sala de tanta ansiedade.
__ UAU você está linda amiga – ela deu seu característico gritinho feliz, eu apenas sorri de volta.
__ Obrigada e nem preciso dizer que você está maravilhosa
__ Vamos arrasar! – murmurou contente, rolei os olhos diante de tamanha empolgação
__ Anda vamos logo!
A porta da boate estava lotada de pessoas que esperavam para poder entrar e até mesmo quem ao menos tinha convite. Graças ao divino nossos convites eram Vips, que nos poupou de vegetar naquela fila interminável. O local era escuro, fumacento e ensurdecedor tinha uma vaibe bem rock ’n roll. A decoração era baseada nos anos 60 e tinha discos, guitarras e conversíveis em miniatura nas paredes. Após alguns segundos admirando o local, entrecortamos com certa dificuldade a multidão na pista para chegar até as mesinhas perto do bar.
__ As senhoritas desejam algo?
__ Hm eu quero um Martine – ela praticamente gritou devido ao barulho e cruzou a perna se sentindo adulta.
__ Eu quero só uma agua com gás – falei em um tom acima do normal, ele anotou o pedido e foi buscá-lo.
__ Você viu que sonho esse lugar? Aquele ali não é o ator daquele filme famoso? – disse apontando para uma área restrita no canto esquerdo.
__ Não sei – murmurei de volta, na verdade não prestei muito atenção no tal ator, mas sim em alguém atrás dele.
O tal baterista do Arctic Monkeys, cujo o nome não faço a mínima ideia tinha uma garrafa de cerveja nas mãos e conversava sorrindo com uma mulher que não me era totalmente estranha.
__ Ana? – Catarina me chamou desviando minha atenção – O que você está olhando?
__ Não nada – Catarina não precisava saber.
__ Hm – ralhou desconfiada, mas não me perguntou nada. O garçom voltou pouco depois com as bebidas e ficamos caladas por um tempo.
__ Tá a fim de dançar? – perguntou em expectativa, ela estava odiando estar ali sentada pude ver em seus olhos e só por isso mesmo sem vontade aceitei o pedido.
__ Eba! – ela pulou do banco em uma velocidade absurda e desamarrotou a roupa toda animada. Catarina é um tipo de pessoa que fica feliz com muito pouco, eu ri e a segui para a pista tumultuosa.
A pista estava apertada e desconfortável, alguns homens vieram me chamar para conversar, só que nenhum deles me chamou atenção o suficiente. Em todos faltava algo que nao sei explicitar. Catarina ficou pasma e faltou me apedrejar quando dispensei mais um.
__ Você é doida? Quer me falar o defeito desse?
__ Não sei, musculoso demais – respondi e ela negou com a cabeça. Não tinha o direito de falar nada, já que também havia dispensado homens maravilhosos – tô cansada vamos nos sentar?
__ Hurum – concordou e então me virei para voltar à nossa mesa. Só não contava ser praticamente atropelada por alguém, fechei os olhos com o impacto e senti algo me molhar.
__ Cuidado – Catarina gritou logo atrás de mim e senti suas mãos segurarem meus braços. Abri os olhos e uma mulher me olhava com cara de poucos amigos.
__ Argh! Olha isso? – gritei afastando a camisa molhada da pele.
__ Você apareceu do nada na minha frente garota! – ralhou visivelmente entediada e parecia não sentir nem um pouco por derrubar sua bebida na minha camisa branca.
__ Você que praticamente passou por cima de mim! – revidei nervosa. Mulherzinha Cínica.
__ Tá querendo dizer que a culpa foi minha é? – praticamente gritou tentando me intimidar, algumas pessoas nos olhavam com curiosidade e aquilo estava me incomodando. Mas eu nem sabia o que estava por vir. Ela ainda me encarava com seus olhos grandes e verdes quando ouvi a voz que faz meu coração parar.
__ Que merda está acontecendo aqui? – e então ele apareceu no meio da multidão, com a expressão visivelmente irritada.
__Amor essa garota está insinuando que eu joguei meu drink nela de propósito, mas eu juro que não! – choramingou falsamente. Foi incrível como o tom de voz e a expressão corporal da vadia ruiva mudaram de ameaça para vítima. Que ódio!
E então Alex pousou suas orbes negras em mim, mais precisamente no transparente que o líquido havia deixado bem em cima dos meus seios. Um leve sorriso brotou em seus lábios e nesse momento eu soube que estava perdida.

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